MP aponta que 11 integrantes do PCC participaram da morte da PM Juliane, em SP

    Investigação identifica outros quatro envolvidos na execução da policial, totalizando, até o momento, sete denunciados; segundo o Ministério Público, mais 4 pessoas podem ter participado do crime

    Promotor Fernando Bolque apresentou segunda denúncia dos acusados | Foto: Arthur Stabile/Ponte Jornalismo

    O MP (Ministério Público) de São Paulo aponta que ao menos 11 integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital) participaram do assassinato da PM Juliane dos Santos Duarte, 27 anos, em Paraisópolis, zona sul de São Paulo, em 2 de agosto deste ano. Sete suspeitos foram oficialmente denunciados pelo órgão. As investigações indicam que é provável que outras três pessoas, ainda não identificadas, possam ter participado do crime de alguma forma. Uma última pessoa, que totalizaria o número de 11 participantes, está morta.

    Um segundo inquérito identificou outros quatro participantes além dos três inicialmente denunciados. São eles Luiz Henrique de Souza Santos, chamado de “Tufão” ou “Luizinho”, Ricardo Vieira Diniz, o “Boy”, Felipe Carlos Santos de Macedo, o “Pururuca”, e Everton Guimarães Mayer, o “Tom”.

    De acordo com as investigações, os quatro atuaram junto de Everaldo Severino da Silva Felix, o “Sem Fronteira”, apontado como gerente do crime na comunidade de Paraisópolis; Felipe Oliveira da Silva, vulgo “Tirulipa”; e Elaine Cristina Oliveira Figueiredo, a “Neguinha”. Estes três e Pururuca já estão presos, os demais são considerados foragidos.

    Os sete atuaram no sequestro da policial no Bar do Litrão, na Rua Melchior Giola, dentro da comunidade. Também a mantiveram três dias em cativeiro, segundo o MP, com sessões de tortura que incluíam o consumo forçado de cocaína e álcool até, por fim, culminar na execução da jovem.

    PM Juliane dos Santos Duarte | Foto: arquivo pessoal

    O corpo da PM foi encontrado no dia 6 de agosto na rua Cristalino Rolim de Freitas, próximo à Ponte do Socorro, na Marginal Pinheiros, também na zona sul de São Paulo. O local fica distante oito quilômetros do Bar do Litrão, onde os acusados abordaram e sequestraram Juliane.

    Os quatro acusados neste novo inquérito responderão pelos mesmos crimes dos três envolvidos anteriormente: homicídio triplamente qualificado (por se tratar de motivo torpe, impossibilidade de defesa e cometido contra um agente público de segurança), cárcere privado, organização criminosa armada e tortura.

    Além dos quatro, um quinto novo participante do assassinato foi identificado. Alan Santos dos Prazeres, conhecido como “André Batata”, não está incluso na denúncia pois morreu em uma troca de tiros com a PM de Maranhão ao participar de um roubo a banco na cidade de Bacabal. O crime aconteceu em 26 de novembro, com R$ 100 milhões obtidos pelo grupo. Alan e outros dois suspeitos morreram.

    A identificação dos quatro suspeitos aconteceu por meio de quebra de sigilo do WhatsApp de Everaldo Severino da Silva Felix, o “Sem Fronteira”, que seria o líder do PCC na região. Dos acusados, ele é o único com o agravante de ter comandado a execução, conforme denúncia do MP.

    “Temos o mínimo de 11 pessoas com participação na morte. Foi uma ação imediata ao descobrirem que a Juliane era PM, tanto que o Sem Fronteira cobra, fala:”Vai logo, já tá confirmado que é PM. Tem que que sumir”. Na hora , ele mandou executar”, explica o promotor Fernando César Bolque.

    Desaparecimento e morte

    Natural de São Bernardo do Campo, Juliane dos Santos Duarte estava em Paraisópolis para comemorar o primeiro dia de férias em um churrasco com amigos. O casal dono da casa tinha acabado de ter um filho e a policial foi com uma amiga ao evento. Depois deste encontro, a policial foi com duas garotas que havia conhecido para um popular bar de Paraisópolis, o Bar do Litrão.

    São duas as hipóteses para o reconhecimento de que ela era uma policial militar: a primeira aponta que, após o sumiço de um celular de uma das garotas que estava com Juliane, ela teria se identificado como agente de segurança e tentado encontrar o aparelho. A outra versão aponta que um integrante do crime organizado, informado da presença da polícia no local, teria aparecido no estabelecimento, revistado todo mundo, mas Juliane se recusou.

    O fato é que Juliane foi identificada e, após cerca de 40 minutos, quatro pessoas apareceram e questionaram quem era a policial. Segundo o MP, três deles são Pururuca, Neguinha e Tirulipa. A policial recebeu dois tiros na virilha e foi levada pelo grupo. Sequestrada, foi forçada a ingerir álcool (estava com 2 mg/l quando o corpo foi encontrado, sendo 0,4 mg/l quantidade suficiente para apontar embriaguez) e cocaína, além de ser mantida em lugar molhado, segundo laudo necroscópico.

    Foto da funcional da PM foi compartilhada em um dos celulares dos acusados e foto de uma arma, possivelmente usada no crime | Foto: Arthur Stabile/Ponte Jornalismo

    Tirulipa e Neguinha também retiraram a moto da policial de Paraisópolis. Vídeos de câmera de segurança identificaram a dupla na Praça Panamericana, na zona oeste de São Paulo. Felipe dirigiu o veículo e o abandonou, enquanto Neguinha dava cobertura em outra moto.

    “Estamos terminando a investigação, o DHPP fez um trabalho excepcional no primeiro inquérito, com a identificação dos três primeiros, e na continuação, com mais quatro acusados. Ainda teremos mais um inquérito e encerramos o ciclo”, explica Bolque sobre a tentativa de descobrir os donos de outros dois vulgos: “Zona Sul” ou “Da Sul” e “Pânico”, além do quarto indivíduo que participou do sequestro da policial.

    Tanto a arma quanto o documento de identificação de Juliane não foram encontrados até o momento. As duas garotas, presentes com ela no Bar do Litrão, são testemunhas protegidas no processo. Outras pessoas, moradores de Paraisópolis, estão sob proteção da justiça. Segundo o promotor, o PCC teria invadido a casa delas, “tomado tudo” e tomado posse do local.

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