Dois homens desceram de um carro e atiraram na direção de três moradores de uma favela no Jaçanã, zona norte de SP; um sobreviveu
Uma caminhada de 20 metros separa o fim da área asfaltada da Rua Elias Pereira do chão feito com terra batida onde fica uma favela. A comunidade não tem um nome específico. Ali, na região do Jaçanã, extremo da zona norte de São Paulo, dois homens desceram de um carro na noite da última terça-feira (3/9), caminharam do asfalto para a terra e sacaram suas armas. Sem dizer uma palavra, dispararam mais de 15 vezes, segundo testemunhas. Duas pessoas morreram, outra ficou ferida.
Um disparo acertou a cabeça de Mateus Wendel Santino, 18 anos. Outros tiros atingiram André Gustavo Nunes da Silva, 17. Um resgate do Corpo de Bombeiros levou Mateus para o Hospital Geral de Guarulhos, cidade na Grande São Paulo e vizinha do bairro, segundo a Rádio BandNews. Já André contou com ajuda dos próprios moradores, que o levaram ao Hospital São Luiz Gonzaga, também no Jaçanã. Ainda assim, ambos não resistiram e morreram.
Os atiradores acertaram mais um jovem de 17 anos que estava no local, mas sobreviveu ao ataque a tiros. Ele tentou fugir quando ouviu os primeiros disparos, mas não conseguiu. Ele foi atingido por três tiros, dois deles nas costas e um no braço, segundo relato de testemunhas do ataque.
“Eu estava aqui na rua junto com os moleques, de um lado da rua e eles no outro, encostados no Corsa. Aí apareceram esses caras. Desceram do carro, andaram para cá e começaram a atirar. Estavam com mais de uma arma. Só deu tempo de correr sem olhar para trás”, relembra um homem, em relato à Ponte no início da tarde desta quinta-feira (5/9).
As marcas ainda estão no chão de terra. Há a silhueta do que era uma poça de sangue onde Mateus caiu. Um senhor que mora na comunidade detalha a cena chocante que viu ao sair de casa. “Ouvi os barulhos dos tiros, foram muitos. Saí e vi os garotos no chão, um estava agonizando. Apertava a terra de tanta dor que sentia. Ainda está lá a marca de onde ele caiu com o disparo na cabeça”, diz.
O homem vive há cerca de quatro anos na pequena favela. Está ali desde quando o primeiro dos aproximadamente 40 barracos foi levantado. Ele estima que são mais ou menos 100 moradores atualmente. “Nunca tinha acontecido uma coisa dessas aqui. Foi execução, sem dúvida alguma”, continua.
A suspeita é de que as vítimas vendiam drogas no local. Apenas um deles tem familiares que moram na comunidade, enquanto os moradores que conversaram com a Ponte com a condição de anonimato não sabem dizer a origem dos outros dois. O espaço é bastante humilde, com apenas duas casas feitas de alvenaria. Todas as outras construções são de madeira e falta saneamento básico.
“Você é dos direitos humanos? Opa, precisamos de você. Não pode ficar assim. Mataram os moleques aqui e ninguém veio fazer nada. Só a polícia, que colou no dia e só deixou as pessoas passarem depois que levaram os corpos. E demorou”, conta outro homem que vive na favela sem nome ao lado da Avenida Antonelo da Messina.
A Ponte questionou a SSP (Secretaria da Segurança Pública), chefiada pelo general João Camilo Pires de Campos neste governo de João Doria (PSDB), sobre o ataque a tiros. A pasta explicou que “o caso é investigado por meio de inquérito policial instaurado pelo DHPP. Diligências são realizadas em busca de imagens de câmeras de monitoramento e testemunhas que possam auxiliar na identificação dos autores”, diz. A Ponte buscou na tarde de quinta-feira (5/9) informações com os responsáveis pela investigação, mas não teve sucesso.
A reportagem questionou a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo sobre o quadro do sobrevivente, que segue internado, mas o hospital não informou a estado de saúde do adolescente.