Apesar de imagens, defesa afirma que PM suspeito de participar da morte de Guilherme é inocente

    Advogados de Adriano de Campos afirmam que ele não é autor do crime; sobre os homicídios pelos quais o PM já respondeu, defesa garante: “foram legítimos”

    Vídeo mostra sargento PM Adriano Campos com Guilherme Guedes, 15 anos, pouco antes do jovem ser sequestrado | Foto: reprodução

    O terceiro sargento PM Adriano Fernandes de Campos, 41 anos, integrante do Baep (Batalhão de Operações Especiais da PM) de São Bernardo do Campo, na Grande SP, é o principal suspeito pelo sequestro e assassinato do estudante negro Guilherme Silva Guedes, 15 anos. Adriano foi preso temporariamente na noite desta quarta-feira (17/6) após pedido do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa, mas, segundo seus advogados, ele é inocente.

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    À Ponte, os advogados Renato Soares Nascimento e Mauro Ribas, que cuidam da defesa da PM, informaram que Adriano não é o autor do assassinato do adolescente.

    Guilherme Guedes, 15 anos, apanhou e foi morto com um tiro na cabeça | Foto: arquivo pessoal

    Segundo o delegado Fábio Pinheiro, que coordena as investigações, imagens de câmeras de segurança da rua onde Guilherme foi sequestrado ajudaram a polícia a identificar e chegar até o suspeito. O vídeo foi divulgado pela Ponte e mostra dois suspeitos do crime. A investigação apontou que um dos homens, que aparece nas imagens com as mãos para trás, é Adriano.

    Sobre isso, o advogado Renato Nascimento Soares explicou que não teve acesso ainda à íntegra das filmagens. “Nós tivemos acesso apenas a partes do conteúdo das investigações. Não tivemos acesso à íntegra das filmagens nem os outros elementos de investigação que o DHPP está produzindo. Não temos nenhuma dúvida de que o sargento é inocente. No transcorrer da investigação vamos demonstrar isso daí”, afirmou.

    Questionado sobre a empresa Campos Forte Portarias Ltda., de propriedade de Adriano e que não tem legalidade para atuar com segurança particular, uma vez que está registrada em atividades como “portaria e limpeza”, Soares declarou que não falaria sobre questões “administrativas”.

    “Nosso foco é demonstrar a investigação sobre a morte do menino. Demonstrar que ele não tem participação e envolvimento nenhum com essa morte. O foco é demonstrar que ele não tem nenhum envolvimento com a morte do garoto”, declarou à Ponte.

    A partir de pedido do DHPP, o Ministério Público de São Paulo de manifestou favorável à prisão temporária. A Justiça determinou a prisão na quarta-feira, mesma data em que ela foi cumprida. Adriano aguardava a decisão na Corregedoria da PM. De lá, passou pelo Instituto Médico Legal, onde passou por exame de corpo de delito, antes de ir para o Presídio Militar Romão Gomes. O PM foi legado do IML para a prisão dentro da viatura, no banco de trás, ao lado de um colega de farda.

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    O PM Adriano tem pelo menos seis homicídios ao longo da sua trajetória na Polícia Militar. Ele ingressou na corporação em 1999 e foi indiciado pleo primeiro homicídio três anos depois, em 2002. A reportagem procurou o Tribunal de Justiça de São Paulo para obter mais informações sobre o caso. O cartório informou que, no momento, não é possível pesquisar sobre o processo, pois é um processo é físico e está arquivado. O último caso foi de 2014 e acabou arquivado.

    Questionado sobre os seis homicídios, Soares foi enfático: “Acredito que todas essas ocorrências foram legítimas. Inclusive, foram arquivadas pelo Ministério Público. O que dá legítima ação das ocorrências”.

    Em abril de 2018, o sargento Adriano foi homenageado pelo atual secretário-executivo da PM paulista, o coronel Alvaro Batista Camilo. A homenagem aconteceu quando Camilo era deputado estadual e Adriano foi um dos 26 PMs da Cavalaria da PM honrados na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo). A homenagem está publicada no site de Camilo.

    No início da semana, mais de uma vez questionado, Camilo chegou a afirmar que não havia evidência de participação de policiais no crime. O mesmo fez a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo ao não responder aos questionamentos da Ponte sobre a suspeita de participação de PMs na morte do adolescente. Há um segundo suspeito de participar do crime, ainda não identificado.

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    Guilherme foi sequestrado na madrugada de domingo (14/6) na Vila Clara, zona sul da cidade de São Paulo, e encontrado morto na manhã do mesmo dia em Diadema, Grande São Paulo. No local do sequestro havia uma tarjeta de identificação “SD PM Paulo”. O delegado do DHPP responsável pelas investigações, Fábio Pinheiro, afirmou que o policial chegou a ser ouvido, mas foi dispensado e qualquer participação descartada, porque apresentou um “forte álibi”. A principal linha de investigação sobre a motivação para o crime é uma tentativa de furto na região.

    Um galpão localizado a cerca de 100 metros da casa da avó de Guilherme teria sido invadido no fim de semana e a segurança do local era de responsabilidade da empresa de Adriano. O adolescente teria sido pego para “tomar um corretivo”.

    O que diz a Polícia Militar

    A reportagem procurou a Polícia Militar paulista para obter um posicionamento da corporação sobre a prisão do sargento PM Adriano, sobre a homenagem que ele recebeu do coronel Camilo em 2018, sobre a empresa de segurança particular e sobre os outros homicídios.

    Em nota, a SSP-SP não fez qualquer menção à empresa de Adriano. Sobre os homicídios pelos quais o PM respondeu ao longo de sua trajetória na corporação, a pasta afirma que “os casos têm decisões judiciais, portanto, [os questionamentos] devem ser remetidos à Justiça”. Além disso, a SSP-SP informou que a Corregedoria da PM fez a captura do sargento e o apresentou ainda na quarta-feira às autoridades policiais. “A PM não compactua com desvios de conduta e vai apurar com rigor todas as denúncias”.

    Reportagem atualizada às 19h52 do dia 18/6 para inclusão da nota da SSP-SP

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