Apoiador da Rota falsifica informações ao atacar a Ponte por reportagem sobre 50 anos da Rota

    Youtuber e diretor de filmes pró-polícia alega, entre outros pontos, nunca ter processado comandante-geral da PM, o que aconteceu em abril de 2018

    Em vídeo no YouTube, Elias Jr. rebate pontos da reportagem | Foto: Reprodução/YouTube

    O youtuber e apoiador da Rota Elias Assis Neto, conhecido como Elias Jr., ataca a Ponte Jornalismo pela reportagem “Rota, 50 anos de matança”, publicada no último dia 15 de outubro. Em um vídeo de 4 minutos e 53 segundos postado em seu canal no YouTube, Elias falsificou informações ao criticar pontos da matéria. Em certo momento, chama de “absurdo” trecho do texto que revela um processo que Elias moveu contra o comando da PM.

    “Chega a ser absurdo afirmar que eu processei o comandante-geral [da PM, na época o coronel Nivaldo Restivo, hoje secretário de Administração Penitenciária de SP] por abuso de poder”, sustenta Elias.

    Contudo, o processo existe. No dia 6 de abril de 2018, o diretor entrou com ação “urgente” contra o coronel Nivaldo César Restivo por abuso de poder, conforme consta nos autos.

    A argumentação ao longo de dez páginas é de que o então comandante-geral da PM proibiu o profissional de filmar ações policiais da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) e de frequentar o 1º Batalhão da PM. O ato se configuraria, segundo o pedido, abuso de poder.

    Print do processo movido pelo diretor conta o comandante da PM em 2018 | Foto: Reprodução

    O defensor sustenta que Coronel Nivaldo agiu de “forma abusiva” ao emitir ofício (em 22 de março de 2016) proibindo a produção de um documentário no batalhão a pedido do comandante da Rota à época, tenente-coronel Marfi Sardilli.

    “O Coronel Nivaldo Cesar Restivo sem ter o mínimo conhecimento do conteúdo do documentário de forma arbitrária prontamente atendeu a solicitação”, afirma a defesa do diretor. Define como “corporativismo” a decisão de Restivo.

    No pedido à Justiça, Elias cobra autorização para gravar as ações policiais da Rota, por meio de um mandado de segurança para tal, e a condenação do comando da PM a pagar os honorários advocatícios do processo, com base no valor de R$ 1.000,00 da ação.

    No processo, a PM questiona conteúdo em que Elias Jr. critica o governo de SP, comando-geral e secretário de Segurança | Foto: Reprodução

    Em defesa da PM, a PGE (Procuradoria-Geral do Estado) de São Paulo se posicionou contrária à ação. Baseou-se no fato de que Elias se beneficiou financeiramente com os vídeos das operações.

    A PGE diz que a PM consentiu com as gravações por certo tempo, mas identificou que Elias Jr. “passou a comercializar as produções audiovisuais pela rede mundial de computadores, explorando a imagem dos policiais militares sem qualquer autorização de uso de imagem ou contrapartida no campo institucional”.

    Processo tem “tramitação prioritária” na Justiça | Foto: Reprodução/Site TJ-SP

    Ainda diz que os materiais gravados em ações da Rota “estava mais ligada à grade de entretenimento do que ao noticiário jornalístico factual, ou de prestação de serviços ao cidadão”.

    A procuradoria sustentou que proibição tinha como base determinação da Secretário da Segurança Pública, em fevereiro de 2016. Nela, impedia “produção de matéria jornalística com profissionais de imprensa embarcados em viaturas”.

    Contato de e-mail disponibilizado pelo diretor em seu canal no YouTube | Foto: Reprodução

    O vídeo ainda traz outros questionamentos, entre eles o fato de não ter sido procurado pela reportagem para falar do seu trabalho. Elias se equivoca. Às 7h37 do dia 15 de outubro, o repórter Arthur Stabile enviou pedido de entrevista com o diretor para o e-mail “[email protected]”, de sua produtora, a HDV Studio.

    Pedido de entrevista enviado para Elias Jr. | Foto: Reprodução

    O endereço consta tanto em seu canal no YouTube quanto vinculado ao seu Facebook, conforme pesquisa no Google. A reportagem não obteve respostas do diretor.

    No vídeo postado em seu canal, o youtuber rebate afirmação de que recebeu dinheiro da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) para promover a Rota.

    Em 27 de maio de 2014, a Fiesp locou sala no Shopping Praza Sul para exibição em sessão dupla do documentário “A Verdadeira História da Rota”, dirigido por Elias Jr. em 2014.

    Também houve sessão dupla do documentário no cine PlayArteBristol, na Avenida Paulista, no centro da cidade de São Paulo. A sala, com 444 lugares, quase lotou nas duas exibições.

    Vinculação do e-mail da produtora ao perfil do ‘Diretor Elias Jr.’ no Facebook | Reprodução

    Elias chama a reportagem de “fake news” ao citar que a tropa mais letal e antiga da PM paulista leva “medo e morte aos becos e vielas de São Paulo”. “Há vários anos essa página sensacionalista, conduzida por pessoas irresponsáveis, tentam denegrir a minha imagem por defender os policiais de Rota”, ataca.

    Noutro trecho, o youtuber cita erros de digitação e informações “caluniosas” para questionar a formação jornalística. Sobre as palavras com grafias erradas, a Ponte corrigiu e agradece o diretor pela leitura atenta ao texto.

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