Policiais não informaram delegacia após atirar em dois homens no Jardim Manacás, zona sul de São Paulo, e foram presos pela Corregedoria
A Corregedoria da Polícia Militar de São Paulo prendeu dois PMs no último domingo (5/7) por terem atirado em pessoas durante um pancadão na zona sul da cidade de São Paulo. Além disso, a dupla subtraiu provas e escondeu a ocorrência da Polícia Civil.
Tudo aconteceu na rua rua Giusepe Tartini, no Jardim dos Maracás, próximo ao Grajaú, um dos maiores bairros da região. O endereço consta em nota enviada pela Polícia Militar à imprensa. Contudo, os detalhes não batem.
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Conforme o documento, a explicação era de que os dois PMs tinham atirado em pessoas enquanto acontecia um pancadão – baile funk feito com som de carros e pessoas ao redor.
A PM não informa a data em que teria acontecido o crime. Detalha apenas que os policiais foram “presos em flagrante acusados de terem alvejados duas pessoas”. Ambos estão no Presídio Militar Romão Gomes, zona norte da capital paulista.
No entanto, a Ponte apurou que não havia pancadão no local indicado na madrugada de sábado para domingo, data da ação, segundo a Polícia Civil. Agentes do 85º DP (Jardim Mirna), responsável pela região, ficaram sabendo do caso pelas reportagens publicadas na imprensa.
A reportagem foi informada de que o delegado titular da delegacia cobrou informações da PM. Investigadores souberam que, além de atirar nas pessoas, os dois PMs foram ao Hospital do Grajaú, onde os homens feridos passaram por cirurgia, e coletaram as balas retiradas de seus ferimentos.
“Já ouvi falar de policiais que alegam ser crime militar e não apresentam ocorrência de morte. Agora, de pessoas feridas? Nunca vi. Nem tinha acontecido em delegacia onde já trabalhei”, afirma um policial civil sob condição de anonimato.
Além de não levarem o caso ao 85º DP, os militares também omitiram informações do 101º DP (Jardim Imbuias), delegacia de plantão para os finais de semana. “Não levaram nem para a delegacia de plantão. É muito estranho”, disse um integrante do 85º DP.
Moradores conversaram com a Ponte, que esteve no local no fim da tarde de segunda-feira (6/7). Eles estranharam quando foram informados de que dois policiais teriam atirado em pessoas naquela rua na madrugada de sábado para domingo.
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“Baile funk aqui? Não. Quando tem é mais para baixo, não aqui”, respondeu um morador na entrada da rua Giusepe Tartini, na esquina com a movimentada avenida Antonio Carlos Benjamin dos Santos. Na conversa, ele apontou em direção à Escola Estadual Afrânio de Oliveira, localizada no fim da rua.
Segundo ele, sua mulher flagrou movimentação diferente naquela madrugada, mas nada além disso nas proximidades. “Até teve movimentação de várias motos no sábado, umas cem, mas não ficaram aqui na rua, não”, explica.
Ninguém na Giusepe Tartini sabia de ação da PM na rua em que moram. “A polícia atirou em gente aqui? Não fiquei sabendo”, responde uma moradora, que limpava a frente de seu estabelecimento, quando ouviu sobre a ação descrita pela corporação.
Somente um homem sabia por cima de algo envolvendo a PM. Em um bar na rua Carvalheira Maceda, ele jogava tranca com outros três amigos. “Soube de dois homens baleados pela polícia. Só não tinha nada de pancadão”, relata. “Ouvi por cima, estava trabalhando, então não sei muito”, desconversa.
Nenhum dos demais sabia do que se tratava. Um deles se mostrou incomodado em dar informações por causa de possíveis retaliações.
Em outro bar, um senhor deu explicação que bate com o primeiro morador da área a conversar com a reportagem. “Aqui não tem funk, isso é coisa lá para baixo”, disse, apontando para uma área entre as ruas Professor Eulálio de Arruda Melo e Enrique Granados.
A Ponte questionou a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, administrada pelo general João Camilo Pires de Campos neste governo João Doria (PSDB), e a PM, comandada pelo coronel Fernando Alencar Medeiros, sobre a inexistência de pancadão na rua apontada na nota da corporação e aguarda posicionamento.