Vão a júri popular, no próximo dia 27, seis policiais militares acusados de matar três jovens em dezembro de 2012. Laudo aponta que projéteis extraídos do corpo de um dos rapazes eram da arma de um PM. Exame de DNA detecta sangue das vítimas nas viaturas
Está marcado para o próximo dia 27 de setembro, às 8h, o julgamento de seis policiais militares, sendo um tenente, um sargento e quatro soldados, acusados de matar três jovens em dezembro de 2012, após uma abordagem. Eles são acusados de homicídio. “As provas produzidas no curso do processo indicam o possível envolvimento dos réus nos crimes descritos na denúncia”, escreveu na sentença o juiz Marcos Augusto Barbosa dos Reis, da 1ª Vara Criminal da Comarca de Itaquaquecetuba.
Os réus são o 1º tenente Marcelo Miyasaki, o 2º sargento Alexandre Fernandes Garcez e os soldados Marcelo Fabio da Silva, Deivide Ribeiro Francisco, Allison Pericles Estrenguete Silva e Tiago Campos Pereira dos Santos. Todos eles permanecem recebendo salário mensal, de acordo com o site da transparência do Governo do Estado de São Paulo.
As vítimas, Fernando Ferreira Ribeiro, de 17 anos, e os irmãos Tiago Rodrigues Alves, de 23 anos, e Alan Rodrigues Alves, de 18, desapareceram na madrugada entre 26 e 27 de dezembro de 2012. Câmeras de monitoramento do Terminal Rodoviário de Poá, na Grande São Paulo, filmaram o momento em que os três, que ocupavam um carro roubado, foram abordados pelos policiais militares.
Os PMs acusados afirmam que apenas solicitaram documentos e que liberaram os rapazes, pois outra ocorrência de emergência impediu que realizassem pesquisa sobre a situação do veículo. Mas, depois disso, os jovens nunca mais retornaram para casa. O corpo de um dos rapazes foi encontrado no dia 30 de dezembro e os outros dois no dia 4 de janeiro de 2013 – todos estavam amarrados, carbonizados e com sinais de tiros na cabeça.
À época dos fatos, o major Marcelino Fernandes da Silva, chefe do departamento técnico da Corregedoria da Polícia Militar, afirmou em coletiva de imprensa que os corpos queimados foram reconhecidos por familiares por causa dos tênis que o jovens calçavam. O carro roubado, que foi levado por um dos PMs, segundo as câmeras de segurança, foi localizado em Arujá.
“Além das provas orais colhidas no curso do processo existem, ainda, provas periciais elaboradas pelo Instituto de Criminalística que contrastam com os depoimentos dos réus e evidenciam a necessidade de análise do mérito da ação penal pelo juízo natural, ou seja, o Conselho de Sentença”, afirmou o juiz Marcos Augusto Barbosa dos Reis.
O que aponta a investigação
De acordo com a sentença judicial, “os denunciados faziam patrulhamento de rotina quando avistaram as vítimas Allan Rodrigues Alves, Thiago Rodrigues Alves e Fernando Ferreira Ribeiro que estavam no automóvel GM/ Classic, cor vermelha. No terminal Rodoviário Pedro Fava [em Poá], os acusados os abordaram. A operação durou cerca de uma hora e foi gravada pelo circuito de segurança instalado no local”.
“Após os acusados levaram Fernando até a Rua Galeão, Jardim Piata, na cidade de Mogi das Cruzes, amarraram os cadarços de seu tênis, a fim de evitar sua locomoção, e efetuaram disparos de arma de fogo contra ele, matando-o. Ato continuo, os acusados levaram Allan e Thiago até a Estrada do Merendá, em um matagal, nesta cidade de Itaquaquecetuba. Amarraram as mãos de Thiago com cordas e efetuaram disparos de arma de fogo contra ele, matando-o”, afirma o juiz Reis.
“Além disso, os denunciados efetuaram disparos de arma de fogo contra Allan, matando-o também. A fim de ocultar a prática do crime e o produto do crime, os denunciados atearam fogo nos cadáveres de Allan e Thiago”, complementa.
Foram extraídos projéteis do corpo de Fernando. Após ser realizado confronto balístico com o revolver calibre 38, n° 079992, pertencente ao 2º sargento Alexandre, o resultado foi positivo, conforme laudo pericial. Também foram extraídas amostras de sangue encontradas nas viaturas policiais de prefixo M-35011 e M-35014, que eram ocupadas pelos PMs. Em confronto com o DNA extraído dos corpos de Allan e Thiago e da amostra da mãe deles, a conclusão foi positiva.
Defesa
De acordo com a defesa de Alexandre Fernandes Garcez, Alisson Péricles Estrenguete Silva e Marcelo Fábio da Silva, os fatos anexos à denúncia não são verdadeiros e serão comprovados no decorrer da instrução criminal. A defesa dos PMs Marcelo Miyasaki, Deivide Ribeiro Francisco e Tiago Campos Pereira dos Santos, afirmou que vai contestar os fatos.