Após questionar socorro a baleados, professora é agredida e presa por PMs de SP

    Mulher foi agredida por quatro policiais na madrugada deste sábado (31) ao perguntar por que vítimas alvejadas não seriam socorridas

    Por Caroline Oliveira, especial para a Ponte*

    Na madrugada desse sábado (31), a professora A.. L. R., de 42 anos, que leciona para turmas do 1º ao 4º ano da rede pública do Estado de São Paulo e é militante feminista e do movimento negro, foi agredida e presa por PMs (policiais militares) da Vila Jacuí, zona leste de São Paulo. Horas após a detenção, ela foi enviada do 63º DP ao 89º DP, no Morumbi, onde permanece até o momento. A Justiça já mandou libertar a docente, mas, até a veiculação desta reportagem, o alvará ainda não havia chegado no distrito policial.

    O designer gráfico Ivan Leandro Ferreira, 42, marido de A., afirmou com exclusividade à Ponte Jornalismo que os dois haviam feito um pedido em uma pizzaria na noite de sexta (30), mas o estabelecimento informou que o pedido não poderia ser entregue porque sua rua estava fechada. Então, A. saiu para verificar o que estava acontecendo. Havia ocorrido um assalto e troca de tiros com os policiais. A professora encontrou duas pessoas baleadas no chão e perguntou aos policiais se eles não iriam prestar socorro às vítimas.

    Ainda de acordo com Ivan, os policiais se exaltaram e falaram para A. “não ficar se intrometendo e nem ficar defendendo bandido” antes de mandar ela voltar para casa pela calçada oposta à de sua casa. Ao ter se direcionado para o lado contrário, para voltar à casa, os policiais a puxaram e começaram a agredi-la. Ainda dentro de casa, o marido da professora ouviu gritos da vizinhança pedindo por ajuda e que A. estava sendo agredida pelos agentes da Polícia Militar do Estado de São Paulo.

    Quando saiu de casa, A. já estava sendo empurrada para dentro de uma viatura. Ela foi levada ao 63º DP, onde Ivan sequer foi atendido. Somente três horas depois, por volta das 3h, o rapaz conseguiu falar com sua esposa, que relatou as agressões. De acordo com a vítima, a delegada afirmou que estava clara uma desobediência e que o crime era inafiançável.

    Segundo Ivan, o secretário municipal de direitos humanos Eduardo Suplicy (PT) foi ao 89º DP na tarde deste sábado (31) e solicitou ao delegado um pedido de soltura, o qual foi aceito e protocolado aproximadamente às 13h30 de hoje no Fórum Criminal da Barra Funda, na zona oeste.

    À reportagem da Ponte Jornalismo, Suplicy afirmou que o próprio delegado admitiu que “não havia nenhum motivo consistente para deixar a mulher presa”. “Primeiro, eu não entendi porque transferiram ela da zona leste para a zona sul. Na delegacia, eu relatei ao delegado o que haviam me dito e ele foi muito solicito. Me disse que ela não havia cometido um crime grave e que deveria ser solta ainda hoje”.

    O secretário informou que, de acordo com o boletim de ocorrências, dois policiais viram uma pessoa sendo assaltada, interviram e atiraram contra os bandidos. Após isolarem a área, a professora invadiu o local, insultou os PMs e acabou detida. No documento oficial não foram relatadas as agressões, verbais e físicas, que A. diz ter sofrido.

    A pedido da família, a imagem da professora será preservada. Procurada, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) do Estado de São Paulo, que tem à frente Alexandre de Moraes, na quarta gestão Geraldo Alckmin (PSDB), não se manifestou.


    *Colaboraram André Caramante e Luís Adorno.

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