Inocente ficou três semanas internado no Brás acusado de roubo. Vítimas e policiais não compareceram à audiência e juíza determinou a liberdade dos suspeitos
O adolescente S. M. D. S, de 17 anos, deixou a unidade Topázio da Fundação Casa, no Brás, zona leste da capital, na noite da última sexta-feira, 4/9, após determinação da juíza que presidiu a audiência realizada na tarde do mesmo dia.
Acusado de roubo, o palmeirense S. espera agora, acompanhar um jogo do time alviverde ao lado do pai, o jornalista Sergio Dias, de 40 anos, que durante as três semanas de internação do filho na Fundação Casa, não deixou de visitá-lo e de acreditar em sua inocência.
Segundo o pai de S., um “assessor da ouvidoria Polícia Civil acompanhou a audiência em razão da matéria da Ponte Jornalismo“.
Quem também acompanhou de perto o caso e chegou a visitar o adolescente em seu período de internação foi Ariel de Castro Alves, coordenador do Movimento Nacional de Direitos Humanos em São Paulo e membro do Condeca (Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente), que comemorou a libertação do jovem.
Além de S., outros seis menores de idade acusados de estarem no grupo acusado de praticar o arrastão na frente da casa noturna Eazy, por volta das 22h do dia 9/8 também tiveram a liberdade determinada pela juíza. A reportagem não conseguiu informações se a determinação de liberdade dos menores também beneficiou o único acusado maior de idade.
Para Castro Alves, “esses flagrantes forjados ou irregulares são cada dia mais comuns”.
“Os reconhecimentos são feitos pelas vítimas de forma precária ou até sob a pressão de policiais, que muitas vezes, na pressa de solucionares crimes, prendem os primeiros jovens que estiverem próximos ao local do crime. Depois essas prisões são homologadas e apoiadas pelos representantes do Ministério Público, que muitas vezes não promovem Justiça e, sim, promovem acusações e condenações a qualquer custo. A presunção de inocência, prevista na Constituição Federal, não existe para os jovens no Brasil, principalmente para jovens pobres ou que morem nas periferias”, conclui Castro Alves.
Audiência incompleta
De acordo com Sergio Dias, a audiência quase deixou de acontecer. Dos quatro policiais do GOE (Grupo de Operações Especiais), da Polícia Civil, que participaram da ocorrência de apreensão de seu filho e mais outros sete jovens, sendo um deles maior, dois alegaram estar em curso e não compareceram. Outros dois agentes que foram até o local disseram não lembrar dos fatos contra o grupo de jovens.
Quem também não apareceu na audiência foram as vítimas do suposto arrastão. Elas, que moram na Grande São Paulo, devem depor através de carta precatória. A próxima audiência está marcada para daqui seis meses.