Argentinos dão recado a Bolsonaro: seu ódio não é bem-vindo aqui

    Ativistas colaram cartazes nas ruas de Buenos Aires e realizaram protesto na Plaza de Mayo contra presença do chefe de Estado brasileiro na Argentina; manifestantes consideram Bolsonaro e Mauricio Macri marionetes de Donald Trump

    Cartazes são confeccionados por coletivo que, de madrugada, fez colagens em vários pontos da capital argentina | Foto: Olavo Barros/Ponte Jornalismo

    Chego à sede da La Campora, uma agrupação política Peronista-Kirchnerista, em San Telmo numa noite de céu limpo e temperatura relativamente amena dada a proximidade do inverno em Buenos Aires. O pequeno salão de piso coberto de poeira cinza-cimento, fruto de uma obra inacabada, cheira a papel recém impresso. Reunidos no local estão cerca de 20 pessoas entre brasileiros(as) e argentinos(as) – e até um migrante costa-riquenho –  separando e enrolando os mil cartazes com a arte feita pelo designer-ativista Cris Vector a pedido do Coletivo Passarinho, grupo responsável pela articulação e coordenação dos atos políticos que estavam para acontecer naquele 6 de junho.

    O bairro boêmio fica ao lado da Plaza de Mayo, onde está a sede do Poder Executivo argentino, a Casa Rosada. Em poucas horas, mais precisamente às 15h do dia 6 de junho, manifestantes prometem ocupar o local para protestar contra a visita do chefe de Estado brasileiro, Jair Bolsonaro, que pela primeira vez desde que assumiu a presidência em janeiro de 2019, faz uma visita oficial ao país hermano, contrariando assim a tradição diplomática brasileira, vigente até então, de um presidente recém-empossado visitar a Argentina antes de qualquer outro país.

    O grupo de militantes se dividiu em cinco para, em mutirão pela madrugada e longe dos olhos da polícia, colar o maior número de cartazes que conseguissem. O objetivo era também fazer a colagem nas redondezas do Alvear Palace Hotel, próximo à embaixada brasileira, onde Bolsonaro estava hospedado. O desenho trazia um grande robô com o rosto do presidente estadunidense Donald Trump controlando as cabeças de Bolsonaro e do presidente argentino Mauricio Macri. No rodapé do cartaz, o chamamento para o ato: Argentina rejeita Bolsonaro: seu ódio não é bem-vindo aqui. Todos a Plaza de Mayo às 15h.

    Militantes fixam cartazes nas grades da Casa Rosada | Foto: Olavo Barros/Ponte Jornalismo

    O autor do cartaz, Cris Vector, explica os elementos que usou para criticar a ascensão de grupos extremistas. “Tem aí o uso da força militar, típica dos governos de direita ou extrema-direita; o neoliberalismo, que não vem dando muito certo na Argentina; as bexigas amarelas, item marcante na campanha presidencial do [presidente Mauricio] Macri e que ganharam uma conotação pejorativa; os pássaros, que são os ‘abutres do mercado’, que lucram com a crise; e o robô, que mostra essa máquina neoliberal que está agindo sobre a América Latina, com o governo Trump ajudando esses governos de direita e os interesses de empresas envolvidas com a exploração dos recursos naturais e no sucateamento de serviços públicos, que vão sendo privatizados para elas assumirem [esses serviços]”, argumenta Vector.

    Nem mesmo o temor de serem pegos pela polícia fez os integrantes do Coletivo Passarinho desistirem de fazer as colagens dos cartazes pelas ruas de Buenos Aires. “É uma ocupação radical do espaço público, porque é isso o que vem sendo impedido com a direita no poder. Em 2016, quando fundamos o coletivo, também fizemos ações como essa [de colar cartazes pelas ruas] e não sentíamos o medo que sentimos hoje. Mesmo assim, a coletividade, o fazer pelo coletivo, nos empodera”, disse uma das ativistas.

    Colagem de cartazes foi feita durante a madrugada | Foto: Olavo Barros/Ponte Jornalismo

    A ronda noturna de policiais que caminhavam a pé pelo bairro notou a movimentação e se comunicou por Walkie Talkie:

    Estão pregando cartazes!

    A intimidação foi contundente. Houve dispersão dos grupos, que no entanto, seguiram na missão e, pouco depois, se encontraram na Plaza de Mayo. Eram pouco mais de 2h da manhã, e lixeiras, caçambas, pontos de ônibus, tapumes, prédios em construção estavam com os cartazes pregados.

    A tradição do Peronismo-Kirchnerismo é a oposição a Mauricio Macri, que tentará se reeleger em outubro | Foto: Olavo Barros/Ponte Jornalismo

    O grupo então decidiu se reunir em um dos bares do bairro boêmio para tomar cerveja e, de certa forma, comemorar o sucesso da primeira parte do protesto e, sobretudo, o fato de terem escapado da polícia. A escolha não poderia ser mais apropriada: a IPA da marca Fernández, uma homenagem bem-humorada à chapa presidencial Peronista-Kichnerista. No rótulo, a “fórmula” para vencer as eleições do próximo mês de outubro: na cabeça, Alberto Fernandéz, ex-chefe de gabinete de Néstor Kirchner e crítico notório de muitas das políticas kichneristas, e Cristina Fernández de Kirchner, a qual apoiam apaixonadamente.

    Proposta irrealizável

    Com uma recepção modesta por parte do governo Argentino em uma agenda oficial que durou menos de 24h, Bolsonaro dedicou basicamente todo o tempo disponível em seu pronunciamento oficial para atuar como cabo eleitoral do presidente Maurício Macri a apenas duas semanas do fechamento da lista de candidatos às próximas eleições presidenciais, que ocorrem em outubro. Macri goza de baixa popularidade após seu governo entregar resultados muito inferiores às expectativas geradas por sua eleição em 2015 e ver, mais uma vez, a economia Argentina entrar em recessão, com o aumento da pobreza, a desvalorização cambial e uma inflação acumulada que já passa dos 50% ao ano.

    Na imprensa, os holofotes se voltaram a uma informação com cara e jeito de extra-oficial: a possibilidade da criação de uma moeda única entre Brasil e Argentina que já teria até nome, “Peso Real”, ideia recebida com ceticismo por especialistas locais.

    Por telefone, Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV/SP), colunista de El País Brasil e autor do livro O mundo pós-ocidental: Potências emergentes e a nova ordem global (Ed. Zahar, 2018), disse que a unificação cambial entre os dois países é inviável e não deve ser levado a sério. “É um projeto que, eu diria, demora pelo menos 30 anos para de fato chegar a uma conclusão, não seria nem esse governo nem os próximos a implementar essa medida. No caso da União Europeia, se começou a discutir a ideia de moeda única na década de 1960 e 1970 e só em 1999 o Euro começou a circular.  Isso [é um projeto que] impacta a autonomia [do Banco Central dos países] de uma forma que eu não vejo nem a sociedade brasileira, nem a Argentina preparada para esse tipo de coisa”, explica.

    Para ele, a proposta foi lançada pela ausência de outras medidas concretas que pudessem indicar a cooperação entre Brasil e Argentina. “Se você se encontra com um chefe de Estado antes de uma eleição apertada como essa, não se podem fazer muitas promessas. Macri pode apoiar o que ele quiser, mas primeiro ele precisa vencer a eleição”, argumenta o professor.

    As dificuldades que Macri enfrenta para costurar alianças que lhe possibilitem a reeleição, bem como a aridez do cenário econômico argentino, passaram longe do discurso oficial de Bolsonaro concedido à imprensa na manhã do último dia 6 de junho na Casa Rosada, em que disse ter os mesmos ideais do presidente argentino. Além disso, manifestou sua preocupação de que “não haja novas Venezuelas na região”, em referência à possibilidade do Kichnerismo voltar ao poder.

    Stuenkel vê com receio esse apoio incondicional de Bolsonaro a Macri. “Ele tem adotado bastante essa postura. Ele fez isso nos EUA, em Israel e agora em Buenos Aires. Comenta assuntos da política interna e isso é pouco comum, porque obviamente a política externa brasileira tem como objetivo defender os interesses do país. É comum haver uma preferência por um governo ou outro, mas a maneira explícita como isso está sendo colocado gera um risco desnecessário porque a saída ou a derrota de Macri é uma possibilidade e o país terá que lidar da mesma maneira com outros candidatos. Esse tipo de atuação [de Bolsonaro] é impulsiva, pouco estratégica”, avalia o especialista.

    As lutas se encontram

    Do lado de fora da Casa Rosada, situa-se a Plaza de Mayo, marco histórico da cultura argentina, palco da Revolução de Maio, quando se iniciou o processo de independência do país. É aí também que está construída a Catedral Metropolitana de Buenos Aires, que abriga os restos mortais do “libertador da américa”, o general José de San Martín, e de onde o então Arcebispo Jorge Mario Bergoglio saiu para, no Vaticano, ser alçado ao posto de Papa Francisco.

    É também na Plaza de Mayo que, depois da última ditadura militar argentina (1976-1983), que deixou mais de 30 mil detidos e desaparecidos, mães das vítimas do regime de exceção passaram a se reunir semanalmente, sempre às quintas-feiras, para fazer uma ronda em torno do obelisco da praça. Os atos simbólicos, que acontecem até hoje, são a forma que essas mães encontraram de lutar pela memória e justiça por seus filhos e familiares. Com panos brancos bordados a mão envolvendo suas cabeças, o movimento das Madres de Mayo, como ficariam internacionalmente conhecidas, se tornou um dos mais representativos símbolos de resistência, repúdio e denúncia à ditadura.

    Manifestantes contrários a Bolsonaro e as Madres de Mayo | Foto: Emergentes

    Por coincidência, a visita do presidente Jair Bolsonaro aconteceu justamente numa dessas quintas-feiras. Acompanhadas de seus apoiadores, nomes de peso como das ativistas e fundadoras do movimento das Madres de Mayo, Nora Cortiñas, 89 anos, e Hebe de Bonafini, 90, participaram da ronda de 6 de junho, que se diferenciou pela presença massiva de cartazes que gritavam: Argentina Rejeita Bolsonaro: seu ódio não é bem-vindo aqui.

    Por volta das 17h, um bate-boca chama a atenção. Duas organizadoras do protesto discutem com uma jovem, que grava um vídeo com seu celular. A brasileira Denise Bueno, 29, a passeio com o marido e com os filhos em Buenos Aires, interrompe a caminhada no ponto turístico quando se depara com os atos contra Bolsonaro, de quem é eleitora e apoiadora convicta.

    Denise se diz ter sido agredida verbalmente por ter posição política contrária a dos manifestantes. “Assim é a esquerda, né? Nesses momentos, eu não sou mulher, não mereço ser escutada. Eu realmente só queria entender”, afirma.

    Com a aprovação do governo Bolsonaro em queda de acordo com pesquisa do Atlas Político, também fico sem entender o porquê Denise e seu marido, o empresário Wilker Amaral, 33, estão tão convictos da boa performance do presidente. “É perfeito? Não é, nem nunca vai ser. O que não dava era para continuar do jeito que estava”, argumenta Denise.

    Questiono a respeito do contingenciamento dos investimentos públicos em educação, promovido recentemente pelo governo e sua resposta parece estar na ponta da língua: “São apenas 3% das despesas não obrigatórias. Já fui docente e sei bem como a universidade é um ambiente doutrinador, como promovem um conhecimento doutrinário. Acho realmente que pode ser uma coisa diferente, sem partido”, defende.

    Pergunto ainda se declarações do presidente como a de “banir os marginais vermelhos da nossa pátria”, ainda durante a campanha eleitoral, não geram situações tão ou ainda mais violentas que a vivenciada por ela nesta tarde. “Não me lembro exatamente dessa declaração, mas se foi assim, ele falou besteira. Ele fala muita besteira. Posso te contar uma coisa? Você também fala, eu também, ele [aponta para o marido] também. Mas não é nada disso. Ele [presidente Bolsonaro] me conhece, conhece nossos filhos. Ele se esforça para controlar a boca dele”, revela.

    Wilker conta que o casal é dono de um e-commerce de camisetas e acessórios de teor político. Segundo Denise, “o terceiro maior do Brasil” no segmento. “Sabe a camiseta que o Bolsonaro estava usando quando tomou a facada? ‘Meu Partido É o Brasil’? Então, é nossa”, diz Wilker. O casal é dono do site Camisetas Opressoras, marca que veste personalidades da política como os Deputados Federais Eduardo Bolsonaro (PSL) – a quem Denise intimamente chama “Duda” – e Carlos Jordy (PSL) – que ganhou notoriedade por protocolar na última semana o projeto de lei apelidado “Neymar da Penha” – e que ganhou notoriedade por estampar frases como “Ustra Vive”, “In Moro We Trust” [referência à mensagem In God We Trust (“confiamos em Deus) impressa em notas de Dólar] ou a palavra “Life” (“Vida”, em inglês) escrita com imagens de armas de fogo.

    “Estou aberta a mudar de opinião”, conta Denise. “Se der errado [o governo Bolsonaro], eu mudo”.

    O protesto

    Os portenhos, de maneira geral, têm muito bem interiorizada a tradição do protesto de rua. Das dezenas de manifestações que testemunhei em Buenos Aires nos últimos meses, foram poucas as vezes que vi a polícia atuando para reprimir ou para dispersar manifestantes. Tão poucas quanto foram as vezes que vi manifestantes depredando patrimônio público ou privado ou ainda cometendo qualquer ato que possa ser classificado, de um ponto de vista mais conservador, como “excesso” ou mesmo “vandalismo”. As mobilizações assumiram desde sempre um caráter pacífico e se inserem na dinâmica da cidade.

    ‘Fora milicianos’ em alusão a investigações que sugerem envolvimento do clã Bolsonaro com milícias | Foto: Olavo Barros/Ponte Jornalismo

    Foi assim em 6 de junho, quando, por volta das 17h, um grupo de pessoas se reuniu na Plaza de Mayo para, em coro, dizer que Bolsonaro e os discursos de ódio que propaga não são bem vindos na Argentina. Um grupo de percussionistas mulheres fez ecoar seus tambores. Militantes do partido político Movimento Ao Socialismo (MAS), a organização periférica La Poderosa e outros grupos ergueram suas bandeiras. O protesto teve o apoio de pelo menos 65 organizações, muito embora poucas delas tenham, de fato, mobilizado sua militância para ir às ruas.

    Militante dá o recado a Bolsonaro: seu ódio não é bem vindo | Foto: Olavo Barros/Ponte Jornalismo

    Assim, com ares de reunião íntima para muitos amigos, o palco-caminhão recebeu performances artísticas e também militantes e figuras políticas. Dadas as nuances, as falas apontam numa só direção: é necessária o que chamam de “unidade popular” para barrar uma eventual “bolsonarização” da Argentina. Para tanto, será, segundo eles, necessário derrotar o Cambiemos, bloco político de apoio ao presidente Maurício Macri, nas urnas em outubro próximo.

    Foto: Olavo Barros/Ponte Jornalismo

    A mulher transgênero Nancy Sena, 49, é a mestra de cerimônia do evento. Conta que aceitou o convite porque “está em mim essa inconformidade com que esse senhor [Bolsonaro] machista, homofóbico, misógino, visite nosso país e seja o nosso presidente a lhe dar um lugar à mesa. Desse lugar, a partir do artístico e popular em que me encontro, é a minha forma de poder gritar ‘Fora, Bolsonaro!’ e ‘Fora, Macri!'”. Quando pergunto qual é a sua expectativa para as eleições que se aproximam, Nancy é categórica: “Que esse governo se vá! Que tenhamos um governo nacional e popular. O governo anterior, de Néstor e Cristina [Kirchner] foram os únicos que colocaram na agenda o que é gênero e diversidade. O que esse governo faz é olhar para o outro lado e não lhe importa que nos matem, não lhe importa seu povo, não lhe importa nada”.

    Batuque contra Bolsonaro | Foto: Olavo Barros/Ponte Jornalismo

    A cantora brasileira Shirlene Silva, 33, foi uma das artistas a se apresentar. “Eu sou uma mulher negra e nada, pra nós, vem do céu; a gente sempre tem que ir pra cima pra conquistar as coisas. É muito difícil de acreditar que Bolsonaro e Macri se reuniram para discutir qualquer plano benéfico para o povo. Para mim, a arte é sempre política. Por isso, escolhi interpretar ‘Desabafo’, da cantora Cláudia e sampleada pelo Marcelo D2, justamente para desafogar [o sentimento de repúdio]”, explica ela.

    Já Nora Cortiñas, das Madres de Mayo, incendiou os presentes com duras palavras. “São os dois [presidentes Macri e Bolsonaro] iguais: fascistas! Temos que dizer: ‘Fora, Bolsonaro!’. Viva à liberdade, à livre determinação dos povos! E lutar para que tenhamos, sim, liberdade”.

    Grande panuelo ‘Gracias madres’ pendurado na grade da Casa Rosada | Foto: Olavo Barros/Ponte Jornalismo

    Para Agustin Cetrangolo, 41, um dos oradores da noite, assessor da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados e militante da organização H.I.J.O.S, de filhos e filhas de desaparecidos na ditadura, Bolsonaro é “um ser desprezível. Despreza a vida, os direitos humanos, a memória dos povos e representa esse modelo neoliberal que gera exploração, fome e miséria. Ele vem interferir no processo eleitoral, o que afronta a soberania do nosso país”, argumenta.

    O grito de “Lula Livre” ecoou em alguns momentos durante o protesto. Em meio aos manifestantes, a senhora Tania Ferreira, 53, que se apresentou como voluntária em uma associação de Direitos Humanos, segura a máscara do ex-presidente Lula. Pergunto a ela qual relação entre os gritos “Fora, Bolsonaro!” e “Lula Livre”. “Lula está preso por causa do [então Juiz Sergio] Moro. Bolsonaro só foi eleito porque Lula foi preso. Para mim, esse foi um roteiro imperialista, uma politicagem de direita à base de fake news e alinhada com meios de comunicação hegemônicos. Não queremos a intromissão dos EUA através de marionetes que levam a cabo políticas misóginas, racistas, homofóbicas” diz efusivamente, dias antes da reveladora série de denúncias divulgadas por The Intercept Brasil, que revela trocas de mensagens que comprometem a imagem de imparcialidade do hoje Ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, e da força-tarefa Operação Lava-Jato. As denúncias atingem o procurador federal Deltan Dallagnol.

    Argentinos protestam conta prisão do ex-presidente Lula | Foto: Olavo Barros/Ponte Jornalismo

    Com público ainda mais reduzido, debaixo das primeiras gotas da chuva, a banda de cumbia Sudor Marika encerrou a manifestação. O baixista da banda Nahuel Puyaps, 35, que veste uma camiseta vermelha com os dizeres “Lula Livre” e a foto do ex-presidente em estêncil, tem na arte o que chama de sua “trincheira afetiva”. Ele avalia que “um segundo governo de Macri seria muito mais parecido ao de Bolsonaro. É a mesma política, só que ele [Macri] assumiu com um marketing que o mostrava como ‘a revolução da alegria’. Eles usam frases curtas para aglutinar pessoas [em torno de um matiz ideológico] como ‘não queremos ser Venezuela’. Nós queremos deixar claro que, na verdade, não queremos ser a Alemanha Nazista”, argumenta.

    Banda Sudo Marika encerra protesto contra Bolsonaro em Buenos Aires | Foto: Olavo Barros/Ponte Jornalismo

    Rocío Tirita, 31, a vocalista, veste uma camiseta verde e amarela com os dizeres “Ele Não”, e concorda com o companheiro de banda. “Bolsonaro habilita tudo o que há de pior. Habilita o recrudescimento da moral repressiva, do ódio contra todas as dissidências, contra tudo o que não entra na norma, a diversidade corporal, migrantes, contra todos os que habitam as margens, contra tudo o que ‘há que limpar’. A proposta de Sudor Marika é de nos encontrarmos, celebrarmos, de dançar como um modo de desafiar o entristecimento que recai sobre os corpos nesse sistema. É uma forma de resistir também”, explica.

    Terminada a apresentação e desmontados os equipamentos, o palco se converte novamente num caminhão. Militantes do Coletivo Passarinho entendem que um último ato ainda é necessário. Conversam com o motorista e o convencem a levar um grupo de 13 pessoas, no baú do caminhão, até o Alvear Palace Hotel, situado a cerca de 4km da Plaza de Mayo e onde Bolsonaro está hospedado. Agarram-se à esperança, ainda que mínima, de que o chefe do Executivo brasileiro escute o grito que lhes atravessa a garganta: “Fora, Bolsonaro!”.

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