A frase afronta o soldado policial, sufocado e menosprezado por uma estrutura cruel, e não ataca aquilo que precisa ser mudado
A segurança pública no Brasil nunca foi tratada de forma prioritária, profissional e técnico-científica. O afastamento dos setores mais progressistas no debate sobre segurança pública permitiu que uma parcela conservadora e com interesses espúrios nas ações de Estado, realizadas pelas polícias, se apoderasse, integralmente, do debate e legitimasse seu discurso de ódio e intolerância às diferenças. Isso fica evidente nas ações de extermínio dos diferentes, como se tais ações fossem a realização da vontade popular.
As “esquerdas” vão às ruas e gritam suas palavras de ordem que pedem o fim da Polícia Militar, afrontando única e exclusivamente aquele “soldado policial”, que já está sufocado e menosprezado por uma estrutura cruel com os trabalhadores de suas bases. Estrutura imprópria, anacrônica e ineficaz para exercer o papel primordial da polícia, que é a participação efetiva na gestão da “polis”, na preservação da paz pública e a garantia dos direitos.
Enquanto isso, pesquisas apontam que no interior das instituições policiais é crescente o desejo pela desmilitarização e pela construção de um novo modelo de segurança pública.
Nas bases das instituições tem vida pensante que elabora, propõe e tem total capacidade de executar um projeto de uma polícia cidadã, garantidora de direitos. No entanto, o status quo despreza tais manifestações e as sufocam violentamente, a fim de manter o estado das coisas como são, privilegiando elites e atuando na defesa de interesses privados.
É bastante curioso ainda, que quando o campo progressista ascende ao poder, em quaisquer instâncias e representações, corre para se encontrar e continuar com mais do mesmo. Buscam para suas assessorias, secretarias e postos chaves, pessoas que sempre estiveram no comando daquilo que não se quer mais. Não cria.
Não acabou. Tem que acabar? O fim só ocorrerá com um novo começo.
Acredite: o novo começo está nas suas mãos e nas mãos daquele soldado que você despreza e grita pedindo o seu fim.
Sim, ele também quer o fim dessa estrutura. Ele não quer mais ser um mero soldado, ele quer ser reconhecido como trabalhador.
Ninguém solta a mão de ninguém. E aí? Vamos dar as mãos também aos amiguinhos de farda? De mãos dadas poderemos salvar o mundo.
Por uma polícia cidadã e garantidora de direitos, o Movimento dos Policiais Antifascismo vem atuando como uma ponte entre a sociedade civil e o interior das instituições policiais. E aí, vem com a gente?
(*) Alexandre Felix Campos, Investigador de polícia em São Paulo há 20 anos e membro-fundador do Movimento dos Policiais Antifascismo.
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