Um sniper de prontidão, irresponsável e inconsequente, sentou o dedo contra um grupo de policiais. O que merece uma pessoa assim?
Era uma operação policial como tantas outras. Mas desta vez, algo daria muito errado. Os policiais não imaginavam, mas, do outro lado, havia um sniper de prontidão. De tocaia, à espreita, com farto armamento e dedo no gatilho, pronto para surpreender as forças de segurança, e afugentar quem ousasse ameaçar os seus domínios.
O atirador era um velho conhecido. Destemido, nem se preocupava em esconder o rosto nas redes. Era falastrão também. É verdade que já fora mais poderoso e relevante em outros tempos. Mas a concorrência entre seus pares o jogou numa espécie de ostracismo.
Tentava conter a perda de importância pela autoridade das armas, que também expunha largamente em postagens afrontosas e desafiadoras. Isso ainda lhe conferia alguma notoriedade e respeito.
E foi imbuído desse destemor (um tanto quanto irresponsável e inconsequente, é verdade) que ele se colocou em posição de tiro, ao perceber a aproximação da viatura. E, como se diz, sem titubear, sentou o dedo contra os policiais.
O resto da história, a gente já sabe: o sniper foi identificado e preso, e ninguém da vizinhança sofreu um arranhão sequer.
O nome do atirador é Roberto Jefferson.
Sorte a dele (e a dos vizinhos) que os tempos pareciam outros. Hoje em dia, o que não falta é “cidadão de bem”, parlamentar, secretário de Estado e governador cobrando tolerância zero para quem atira em polícia, além de devassa, esculacho e tortura na comunidade inteira nesse tipo de ocorrência. Tem até parlamentar cassado fixando câmbio de justiçamento: para cada policial morto, que se matem X “vagabundos”.
Para quem já cancelou a própria humanidade, o que são os CPFs, especialmente se pertencerem a pretos e pobres?
Heitor Peixoto é jornalista e colunista do Congresso em Foco