Artigo | Uma semana violenta e cansativa para quem cobre segurança pública

    Pela primeira vez, vemos a grande mídia do país despertar para a gravidade dos casos de violência e letalidade policial que a Ponte denuncia desde sempre — e que explodiram com a chegada da dupla Tarcísio e Derrite ao poder em SP

    De fins de setembro para cá, a PM de São Paulo tem nos feito trabalhar ainda mais. Todos vimos os últimos episódios de brutalidade envolvendo policiais: pessoas atiradas de pontes, idosas agredidas, armas na cabeça de parentes, invasões de velórios  e enterros. Há quem tenha ficado surpreso, como se isso tivesse acontecido da noite para o dia, mas, em todos os meses desde janeiro de 2023, quando tomou posse o atual governador, a Ponte publica no mínimo 1 denúncia de violência policial por mês. Além disso, os números da letalidade vem numa crescente acentuada desde então. 

    Fato é que a violência é a política oficial do governo Tarcísio e seu secretário Derrite para a segurança pública. Está institucionalizada e tem pai e mãe: o bolsonarismo e a extrema direita. Em mais de uma ocasião, a dupla aprovou a atuação da tropa de forma tácita e pública e ainda se tornaram críticos das câmeras corporais. Se os praças já tinham enorme autonomia nas ruas, conforme Henrique Macedo explica em sua entrevista à minha colega Jeniffer Mendonça, com esse posicionamento tudo ficou liberado – um verdadeiro vale tudo que, vale lembrar, não diminuiu em nada o tráfico e a criminalidade no estado, apenas criou uma sensação de insegurança ainda maior das populações mais pobres. 

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    A imprensa hegemônica tem sua parcela de culpa ao tornar servidores públicos em heróis do combate ao crime, em programas sensacionalistas que só mostram aquilo que é conveniente para a tropa mostrar. Nenhum programa vai exibir um PM jogando uma pessoa da ponte ou atingindo uma criança de 4 anos. A mídia deu sustentação para que policiais se tornassem influenciadores e até políticos. Hoje, temos bancadas policiais em todas as esferas da política institucional. 

    O que tem sido publicado na grande imprensa agora, com destaque e atenção que chegam atrasados, surge como se fosse “do nada”, o que ajuda a corroborar a ideia de que são casos isolados ou “maçãs podres” de uma saudável árvore policial. Não há compromisso com uma crítica à violência policial que traga contextos, números, mas, acima de tudo, rostos e histórias das pessoas atingidas. 

    A Ponte, com uma equipe que não chega a 10 pessoas, faz isso há uma década e sob a gestão de diferentes governadores. Imagina o que faríamos com mais recursos e mais gente conosco? 

    Extermínio “com moderação”

    A imprensa frequentemente qualifica Tarcísio como “moderado”, mas como disse alguém disse em uma de nossas reuniões de pauta essa semana: “Não existe moderação com extermínio.” É essa a política oficial do governo que, mesmo ao “voltar atrás”, não acena com mudanças estruturais. A imprensa e o público vão se contentar com alguns policiais presos que, mais tarde, serão absolvidos em júris populares como temos visto acontecer continuamente. A mesma imprensa que não cobra um posicionamento de Tarcísio e Derrite pela morte de Ryan, ou pela invasão de um velório em Bauru, apenas para citar dois exemplos. 

    Vale ressaltar que todas essas denúncias ganharam vida por conta do controle social chamado: um celular na mão e uma indignação na cabeça. Nenhum desses casos veio de imagens das câmeras corporais, mas dos aparelhos de algum cidadão com a coragem de resistir e denunciar. 

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    A PM não se sente confortável com o controle externo, afinal ela se vê como uma instituição acima da crítica, sobretudo vinda de civis, como se fossemos cidadãos de segunda classe e não quem rala e contribui com impostos para pagar seus soldos mensais. Independentemente do que aconteça nos próximos dias, a Ponte seguirá atenta aos atos do Estado na tentativa de conter a violência que sempre vai atingir mais os pretos, os pobres, os invisibilizados pelo poder público. 

    Nosso compromisso é com uma política de segurança pública que defenda e aplique os direitos humanos em sua rotina. Por uma segurança pública que escolha a vida humana e não o patrimônio. Para isso, queremos contar com você para compartilhar nosso conteúdo nas redes sociais e entre as pessoas que você conhece. Ajude a Ponte a chegar em mais gente. Seja um(a) compartilhador(a)!

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