Ataque a bar de palestinos em SP pode ter sido motivado por ódio

    Homens lançaram gás pimenta dentro do Al Janiah, espaço gastronômico, cultural e de debate político criado por imigrantes

    Um grupo de homens atacou o restaurante Al Janiah, localizado na Rui Barbosa, no Bexiga, centro de São Paulo, na madrugada deste domingo (1/9). O espaço é administrado e frequentado por imigrantes, majoritariamente de origem palestina, e funciona como centro cultural, ponto de encontro e de debate político. Os agressores jogaram gás pimenta dentro do local e, armados com facas, chegaram a golpear a porta de entrada.

    O estabelecimento, que se pronunciou em nota nas redes sociais, trabalha com a possibilidade de o crime ter sido motivado por ódio, ainda mais considerando que o espaço já foi alvo de outros ataques em anos anteriores.

    Imagens de câmeras de segurança registraram o ataque deste domingo, ocorrido por volta de 3h30. É possível ver três homens passando tranquilamente pela calçada e, ao chegar em frente ao local, lançaram gás e também um outro objeto dentro do bar. Alguns frequentadores que estavam do lado de fora, saíram depressa quando o ataque começou. A equipe do Al Janiah cita cinco agressores, conforme nota divulgada à imprensa. No registro, é possível verificar que um dos homens veste camisa com a bandeira do estado de São Paulo. Logo após jogar algo para dentro do espaço, um dos homens fecha a porta. Ele faz ameaças quando seguranças do Al Janiah abrem a porta com o objetivo de ventilar o local. Em seguida, o grupo de agressores sai.

    https://www.facebook.com/aljaniah01/photos/a.183085975379288/939963793024832/?type=3&theater

    Segundo nota divulgada na página do Facebook do Al Janiah, nenhuma pessoa se feriu. “Não podemos nos calar diante da motivação deste ato, num contexto de crescente discurso de intolerância e ódio que acomete este pais.”, diz parte da nota. “Desde o início, o Al Janiah sempre foi conhecido por ser um espaço democrático, de defesa das minorias políticas e acolhimento de refugiados. Sua história se liga à luta pela Libertação da Palestina”, continua o posicionamento.

    A Ponte questionou o advogado Hugo Albuquerque, representante de um dos sócios do Al Janiah, Hasan Zarif, sobre as ações a serem tomadas posteriormente ao ataque, mas ainda não havia uma definição. Segundo o advogado, “pelo modus operandi dos ofensores, possivelmente se trata de um grupo de extrema-direita que age motivada pelo ódio contra refugiados, sobretudo palestinos, tenha ligação ou não com 2017, ilustra o mesmo quadro de intolerância que toma o país”, explica.

    Em 2017, Zarif se manifestou contrariamente a um ato da Direita São Paulo chamado “Marcha Contra a Lei da Migração”. Os manifestantes criticavam a entrada de estrangeiros ao país. O dono do Al Janiah responde a um processo por lesão corporal e passará por uma nova audiência no dia 13 de setembro. Nour El Deen, também imigrante, está implicado no mesmo processo.

    Fachada do Al Janiah e a esquina onde se localiza: Rui Barbosa x Conselheiro Carrão, no centro de SP | Foto: Al Janiah/Google Maps

    Em abril de 2018, o MP (Ministério Público) considerou que o incidente foi “um excesso de manifestações entre grupos de posicionamentos opostos”. Eles teriam agredido três manifestantes contrários aos imigrantes e dois policiais militares, conforme consta nos autos.

    O bar também foi alvo de bombas de gás lacrimogêneo lançadas pela Polícia Militar de São Paulo, em 31 de agosto de 2016, durante uma manifestação. “Estávamos tendo um sarau com alguns shows de música, quando a PM jogou cerca de quatro bombas na calçada do restaurante, de cima do Viaduto Nove de Julho”, explicou Hasan, à época, ao G1. Na ocasião, o Al Janiah era em outro endereço.

    A Ponte questionou a SSP (Secretaria da Segurança Pública) do governo João Doria (PSDB) sobre a ocorrência no Al Janiah. Segundo a pasta, “o caso foi registrado na tarde desta segunda-feira (2/9), após policiais do 5º DP (Distrito Policial, localizado na Aclimação) irem ao encontro do proprietário do estabelecimento”. “Foi instaurado inquérito policial para apurar o caso, as equipes trabalham na identificação dos autores e de demais elementos que esclareçam a motivação. A Polícia Militar esclarece que foram verificados os registros pelo endereço do restaurante entre meia-noite e 6h de domingo (1/9), porém não houve a localização de nenhum chamado no local”, diz a nota.

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