Em simpósio realizado em 4 de dezembro, pesquisadores discutiram o tema da exclusão racial a partir da militância de um dos principais expoentes da cultura negra no Brasil
O ativista negro e ex-senador da República Abdias Nascimento, falecido em 2011, foi homenageado na Universidade Brown, em Rhode Island, nos Estados Unidos, em 4 de dezembro. No simpósio organizado para a ocasião, pesquisadores discutiram o tema da exclusão racial a partir da militância de Abdias, um dos principais expoentes da cultura negra no Brasil. O evento teve a participação de 50 estudantes de graduação e pós-graduação.
Molefi Kete Asante, historiador, filósofo, poeta, dramaturgo e pintor afro-americano, abriu os debates discorrendo sobre a herança africana nos Estados Unidos. Asante é professor do Departamento de Estudos Afro-americanos da Universidade de Temple, também no país norte-americano, onde criou o primeiro programa de Doutorado em Estudos Africanos e Afro-americanos.
O encerramento contou com a palestra de Elisa Larkin, viúva de Abdias. Ela fez uma referência à civilização africana através do poema “O Chifre do carneiro”, que representa a atuação de Abdias nos âmbitos político e intelectual. Foram discutidas também a atuação do militante no combate ao racismo e nas artes.
Vida e obra
Abdias Nascimento (1914-2011) foi poeta, escritor, dramaturgo, artista plástico, parlamentar, professor universitário e, sobretudo, ativista dos direitos humanos. Em 2009, foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz por sua atuação na defesa pelos direitos civis e humanos dos negros no Brasil e na diáspora africana. Foi professor emérito na Universidade do Estado de Nova York, em Buffalo, e professor titular de 1971 a 1981, quando fundou a cadeira de Cultura Africana no Novo Mundo no Centro de Estudos Porto-Riquenhos. Atuou como conferencista visitante na Escola de Artes Dramáticas da Universidade Yale e foi professor convidado do Departamento de Línguas e Literaturas Africanas da Universidade de Ife, em Ile Ife, Nigéria.
No Brasil, fundou o Teatro Experimental do Negro (TEN), o Museu da Arte Negra (MAN) e o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (Ipeafro). Também foi um dos idealizadores do Memorial Zumbi e do Movimento Negro Unificado (MNU) e atuou em movimentos nacionais e internacionais como a Frente Negra Brasileira, a Negritude e o Pan-Africanismo.
No campo político, foi o primeiro deputado federal afro-brasileiro a dedicar seu mandato à luta contra o racismo (1983-87). Apresentou projetos de lei definindo o racismo como crime e criando mecanismos de ação compensatória para construir a verdadeira igualdade para os negros na sociedade brasileira. Como senador da República (1991; 1996-1999), continuou nessa linha de atuação.
Em 1991, o então governador fluminense Leonel Brizola o nomeou secretário de Defesa e Promoção das Populações Afro-Brasileiras do Estado do Rio de Janeiro (1991-94). Mais tarde, foi o primeiro titular da Secretaria Estadual de Cidadania e Direitos Humanos do estado (1999-2000).
Faleceu em 2011, aos 97 anos.