Ativista negro é alvo de mentira sobre tiroteio que interrompeu campanha de Tarcísio

Vídeo circulando nas redes sociais diz que líder comunitário da periferia de Salvador teria sido preso após troca de tiros entre PM e criminosos na zona sul da cidade de São Paulo

Anderson Mamede é líder comunitário na periferia de Salvador | Foto: Arquivo Pessoal

De uma hora para outra o telefone de Anderson Mamede, 30 anos, começou a receber uma série de mensagens na tarde da última segunda-feira (17/10). Em todas, o mesmo conteúdo. Um vídeo relacionando o líder comunitário do bairro Nordeste de Amaralina, na periferia de Salvador, capital da Bahia, ao tiroteio ocorrido em Paraisópolis, na zona sul da cidade de São Paulo, durante uma visita do candidato ao governo do estado Tarcísio de Freitas (Republicanos).

“No início fiquei tranquilo porque eu sei que eu não faço nada de errado e sou limpo, mas foram tantas as mensagens que foram chegando e aumentando o alcance disso que eu comecei a ficar constrangido”, diz Anderson.

Ele afirma que nunca pôs os pés em São Paulo e revela que percebeu o tamanho da repercussão que o vídeo tinha conseguido quando sua mãe, que mora no estado de São Paulo, enviou uma mensagem preocupada com o que tinha visto no vídeo. “Toda mãe se preocupa ao ver uma coisa dessas, principalmente uma mentira que diz que o filho é um bandido.”

No dia seguinte, Anderson registrou um boletim de ocorrência na 28ª Delegacia Territorial (DT) para denunciar que estava sendo vítima de difamação na internet. Ele afirma que está recebendo apoio de amigos, já constituiu um advogado para representá-lo e pretende descobrir e processar quem produziu e espalhou o vídeo.

“Não tenho ideia de quem fez isso, mas certamente é coisa de gente ruim que não tem o que fazer. Todo mundo me conhece aqui no bairro e eu conheço gente por toda Salvador e as pessoas sabem que não sou de fazer coisa errada”.

Vídeo

Momentos depois que os tiros foram disparados na comunidade da zona sul paulistana, as redes bolsonaristas de apoio ao candidato do Republicanos se apressaram a julgar o fato como um atentado político. 

A Polícia Civil de SP, que investiga o caso, trabalha com a hipótese de tiroteio ter sido causado por criminosos locais terem identificado policiais à paisana que faziam a segurança durante a visita de Tarcísio de Freitas ao bairro, afastando a hipótese de atentado.

Porém, o vídeo que circulou pelas redes sociais se inicia mostrando Anderson durante a caminhada que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), candidato à presidência, fez na capital baiana no último dia 12. Nas imagens, feitas pelo próprio líder comunitário, ele aparece se aproximando de Lula, que ao ver o rapaz, toca em sua cabeça.

Na sequência é mostrada uma imagem onde três homens estão sentados na parte de trás de um camburão e relacionam a fotografia como sendo Anderson uma das pessoas daquela foto. Ela afirma que é ele mesmo que aparece do lado esquerdo, mas que a imagem foi tirada de contexto.

“Realmente sou naquela foto, mas aquilo ocorreu em 2019 quando eu e mais dois amigos fomos levados para delegacia para averiguação e lá constou que não devíamos nada. Fomos abordados no meio da rua pela PM quando não estávamos fazendo nada. Toda pessoa que mora em favela corre o risco disso acontecer em algum momento, mas eu não tenho nada na justiça que pese contra mim”, desabafa.

Anderson é presidente da Associação de Moradores do Nordeste de Amaralina há um ano, onde desenvolve projetos com os jovens da comunidade oferecendo aulas de capoeira e boxe, e atualmente está desempregado. Ele acredita que da mesma forma que o vídeo o difama circulou rapidamente, a verdade sobre os fatos também se espalhará.

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“Eu acredito que o bem sempre vence o mal e a verdade prevalece sobre a mentira. Gravei um vídeo na porta da delegacia logo após fazer o BO e várias pessoas estão divulgando a minha versão que não tenho nada a ver com essa história. Tenho certeza que pela força do bem isso chegará em várias pessoas.”

A Secretaria de Segurança Pública (SSP) da Bahia, por meio de nota, confirmou a inocência de Mamede: “A SSP informa que é fake news a informação de que uma pessoa de apelido ‘Rasta’ lidere uma organização criminosa, no Complexo do Nordeste de Amaralina. Destaca ainda que um homem que tem a sua imagem atribuída, nas redes sociais, a esse suposto criminoso, registrou um Boletim de Ocorrência na 28ª Delegacia Territorial (DT) do Nordeste de Amaralina“, diz o texto

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