Preta Ferreira estava com a família, incluindo duas crianças, indo almoçar quando foram parados por PMs na região central de São Paulo
A multiartista e ativista por moradia Preta Ferreira, de 40 anos, usou as redes sociais para compartilhar uma abordagem policial que sofreu com a família, na região da Bela Vista, centro de São Paulo, na tarde do último sábado (09/03). Policiais militares fortemente armados pararam o carro onde a ativista estava com a irmã, o cunhado, um amigo e duas crianças, a caminho do almoço.
O carro pertentece à mãe da artista, Carmen Silva e, embora não tenha encontrado nada de ilícito, a família negra ficou cerca de duas horas sob poder da polícia, que chegou a questionar o motivo de Preta estar na rua, já que responde por um processo que a levou a mais de 100 dias de prisão em 2019, por atuar em ocupações de moradias.
“Na verdade, o que incomodou a eles foi ver quatro pessoas pretas dentro de um carro”, afirma a ativista. Ela diz que, no começo da abordagem, os policiais justificaram que o veículo teria sido parado porque a proprietária seria foragida da justiça. Preta e a mãe respondem pelo mesmo processo em liberdade e não estão foragidas.
Nas imagens, um policial chega a mencionar a falta de cadeirinha para crianças no carro. Mas, quando Preta pergunta se esse foi o motivo de terem parado o carro, o PM diz que não e interrompe o questionamento.
“Ficamos duas horas detidos, sendo questionados com arma na cabeça e mãos para cima. Não havia nenhuma irregularidade no carro, nem no motorista, nem em nós”, afirma Preta. Ela conta que a abordagem só encaminhou para o fim quando chegou uma advogada e “comprovou que era um constrangimento”.
“As crianças ficaram traumatizadas, e nós estamos vivendo apenas mais um dia nesse país onde a polícia nos mata ao invés de proteger. A nossa sorte é que muita gente filmou, se aglutinou”, conta.
Para a advogada de Diretos Humanos Raissa Maia, que defende a ativista, essa abordagem sofrida por Preta Ferreira e seus familiares “é uma evidência da violência e perseguição do Estado contra movimentos sociais e povo negro”.
Raissa entende ainda que “a alegação policial de que foram parados porque o carro pertence à Carmen, dizendo que ela é uma foragida, é completamente absurda”. A advogada conta que a mãe de Preta Ferreira “já respondeu ao processo que tentou criminalizá-la e não possui qualquer pendência com a Justiça de São Paulo”.
A advogada diz que tomará medidas judiciais para exigir que o Estado seja condenado ao pagamento de indenização por danos morais pelo constragimento e violação dos diretos humanos sofrido pela ativista e sua família.
Ajude a Ponte
A Ponte questionou a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, que é comandada pelo secretário Guilherme Derrite, sobre a abordagem, mas não houve retorno até a publicação desta reportagem.