Mães e parentes das 19 vítimas dos ataques do dia 13 de agosto de 2015 protestaram no Masp, pouco mais de um mês antes do início do julgamento de PMs e GCM acusados de participação nos crimes
Mães e parentes dos 19 mortos na chacina de Osasco e Barueri, ocorridos no dia 13 de agosto de 2015, relembraram os dois anos dos ataques em manifestação no vão livre do Masp, na Avenida Paulista. O ato teve como finalidade cobrar justiça e punição aos acusados, que serão julgados a partir do dia 18 de setembro, em Osasco. Três PMs e um GCM foram considerados integrantes de uma milícia paramilitar.
Desde às 5h30 desta sexta-feira (11/8), os familiares se fixaram no local com duas grandes faixas e 20 pequenos cartazes, com os nomes das 19 vítimas e um com a pergunta “quem matou 19?”. Permaneceram no local até 13h e, em determinado momento da manhã, um ato de estudantes contra o governo do presidente Michel Temer no dia do Estudante aconteceu no mesmo espaço. Ao todo, foram oito ataques nos dois municípios em 2015, entre bares, sorveterias, bomboniéres e em frente às casas das vítimas.
“Não mudou nada nesses dois anos. Não falam de indenização para as famílias e, agora, terá o julgamento. Mas dinheiro não é tudo. O que mais sinto é falta do meu filho, o meu caçula. Ele já se foi, não volta mais”, lamenta Maria José Lima Silva, de 51 anos, mãe seis filhos, entre eles Rodrigo Lima da Silva, então com 16 anos e que esperava sua primeira filha à época. “Agora, tenho cinco”.
“Trabalho em casa de família em Alphaville, faço o que posso para ajudar a minha neta. Às vezes, ela pede um suco, uma bolacha e a gente não tem. Dói não poder dar. Se o pai dela estivesse aqui, não deixaria faltar nada”, conta. Rodrigo morreu com dois tiros em frente à bomboniére Sonho de Deus. Segundo Maria José, o maior objetivo do filho era comprar uma casa e tirá-la do aluguel. “Ele dizia: mãe, vou comprar uma casa e te levar junto”.
Além de Rodrigo Lima da Silva, foram mortos na chacina de Osasco e Barueri Joseval Amaral Silva, Deivison Lopes Ferreira, Eduardo Bernardino Cesar, Antônio Neves Neto, Letícia Hildebrand da Silva, Adalberto Brito da Costa, Thiago Marcos Damas, Presley Santos Gonçalves, Igor Oliveira, Manuel dos Santos, Fernando Luiz de Paula, Eduardo Oliveira Santos, Wilker Thiago Corrêa Osório, Leandro Pereira Assunção, Rafael Nunes de Oliveira, Jailton Vieira da Silva, Tiago Teixeira de Souza e Jonas dos Santos Soares.
A partir do dia 18 de setembro, os policiais militares Victor Cristilder Silva dos Santos, 32 anos, Thiago Barbosa Henklain, 30, e Fabrício Emmanuel Eleutério, 32, ao lado do GCM (guarda civil municipal) Sérgio Manhanhã, 43, serão julgados sob acusação da Polícia Civil e Ministério Público Estadual pelas mortes em série. Os PMs estão presos no Presídio Militar Romão Gomes, no Jardim Tremembé, zona norte de São Paulo, enquanto o GCM se encontra na carceragem do 8º DP (Brás/Belém), na zona leste.
Segundo a juíza Elia Kinosita Bulman, do Tribunal do Júri de Osasco e responsável pelo processo contra os três PMs e o GCM, o julgamento do quarteto deve durar 12 dias, de 18 a 29 de setembro. Neste tempo, 43 pessoas, sendo 31 homens e 12 mulheres, irão depor para os jurados avaliarem se o quarteto tem responsabilidade ou não por 17 assassinatos e sete tentativas de homicídio.
A Polícia Civil investigou a suspeita de participação de outros três PMs nas mortes em Osasco e Barueri. Contudo, o Ministério Público Estadual pediu o arquivamento das medidas contra o trio por “não haver indícios suficientes de participação deles nos crimes”.
[…] Todo dia 13 de agosto é a mesma coisa: o coração de Zilda Maria de Paula, Maria José Lima da Silva, Rosa Correia e Aparecida Gomes da Silva Assunção fica apertado. Elas são mães que perderam seus filhos na Chacina de Osasco, a maior da história de São Paulo, quando 23 pessoas foram mortas nos dias 8 e 13 de agosto de 2015. Desde então, a vida dessas mulheres passou a ser uma eterna luta por justiça. […]