Ato em SP pede fim de bombardeios e medidas restritivas de Israel na Palestina

Movimentos sociais e partidos políticos se concentraram em frente a restaurante Al Janiah, no centro da capital, nesta terça-feira (10/10) em solidariedade às vítimas do conflito

Palestino empunha bandeira do país em protesto no centro da capital paulista nesta terça-feira (10/10) | Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

“Chega de chacina: PM na favela e Israel na Palestina!” e “Palestina livre!” foram entoados em coro na noite desta terça-feira (10/10) em frente ao restaurante Al Janiah, no bairro do Bixiga, no centro da capital paulista, como forma de solidariedade ao povo palestino em meio a mais um embate envolvendo o país e o estado de Israel.

O protesto, que reuniu movimentos sociais, entidades estudantis e partidos políticos, veio como uma forma de palestinos no Brasil se posicionarem contra os ataques aéreos e as medidas restritivas determinadas pelo primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu na Faixa de Gaza nesta semana.

A ofensiva se deu após o Hamas, partido palestino que governa Gaza desde 2006, ter lançado foguetes na fronteira da faixa de Gaza com Israel no último sábado (7) contra a ocupação israelense, além de ter feito incursões por terra, matando e sequestrando civis no território israelense. Segundo Khaled Qadomi, porta-voz do Hamas, o ataque foi uma forma de buscar a atenção da comunidade internacional sobre os crimes de guerra cometidos por Israel.

A estimativa é de que ao menos 1,8 mil pessoas, a maioria de civis e 830 delas na Faixa de Gaza, tenham sido mortas até esta terça-feira.

“Estamos aqui para denunciar os crimes contra a humanidade que Israel está cometendo contra o nosso povo há mais de 75 anos”, declarou a jornalista Soraya Misleh, que é integrante do Instituto da Cultura Árabe (ICArabe) e da Frente em Defesa do Povo Palestino. “A gente precisa mostrar a história porque, se não, parece que é circunstancial e não é, é um histórico que está sendo apagado, de massacres, de violações cotidianas de direitos humanos fundamentais, uma situação de ocupação, de colonização”.

Palestinos entoam cantos em árabe e em português: “Palestina livre!” | Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

Ela conta que o pai foi vítima das violações desde a ocupação em 1948 e que o acontece é uma “limpeza étnica”. “Este ano, antes dos últimos acontecimentos, Israel já tinha matado 270 palestinos, inclusive, 75 crianças, 1200 presos políticos palestinos nos cárceres israelenses, inclusive 170 crianças e essa é uma situação que já dura mais de 75 anos”, denuncia.

A jornalista pede que as violações sejam reconhecidas, uma vez que organizações como Anistia Internacional e Human Rights Watch já classificaram as ofensivas israelenses como crimes de guerra e crimes contra a humanidade. “Os palestinos continuam a ser vítimas dessa tragédia que é a colonização, e nós já vimos muitos bombardeios a Gaza. Gaza é a área mais densamente povoada do mundo, uma crise humanitária dramática, em que os palestinos têm apenas quatro horas de eletricidade por dia, 96% da água é contaminada e enfrentam bombardeios massivos há bastante tempo, um cerco desumano há 17 anos e bombardeios a conta-gotas. Inclusive, o ministro da Defesa de Israel disse que ia nos tratar como animais, declarando abertamente o seu racismo”, afirma.

“Eu fico me perguntando se ele trata os animais dele assim porque eu não trato meus animais assim. Então, para ele, nós não somos humanos nem nada, nós somos menos que humanos, mas nós somos de carne e osso e estamos aqui para dizer isso”, lamenta.

Filho de imigrantes israelenses e judeu secular, o cozinheiro Shajar Goldwaser, de 26 anos, escreveu e empunhou um cartaz com a frase “judeus contra o apartheid na Palestina” para prestar solidariedade. “É importante pontuar que este conflito não é contra os judeus, mas sim contra Israel. Israel é um estado que, há mais de 70 anos, comete violações sistemáticas de direitos humanos contra o povo palestino”, disse.

Em meio às falas de representantes de entidades, o ex-deputado Adriano Diogo acabou sendo vaiado ao dizer que “é mentira que o governo Lula apoia Israel”. Isso porque o presidente, ainda no sábado, denominou os ataques do Hamas como “terroristas”, o que, para o movimento de palestinos no ato, mostra que a gestão tomou um lado por não ter condenado as ações de Israel. A maioria é a favor da resistência armada para recuperar o território.

Também se fizerem presentes movimentos sociais e negros. “A gente não pode confundir a reação do oprimido com a violência do opressor”, discursou a coordenadora estadual do Movimento Negro Unificado (MNU) Regina Santos.

“O martírio da mães de lá é o mesmo martírio das mães de cá. A favela e a periferia é a nossa Faixa de Gaza. Nós não podemos aceitar que o estado de Israel, esse estado assassino, tire a vida dos palestinos”, declarou Debora Maria da Silva, fundadora do Movimento Independente Mães de Maio. “A nota do presidente Lula, não vamos aceitar através do seu chanceler. Quem cala consente. Quem cala tem a mão de sangue também”, clamou.

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A manifestação terminou por volta das 22h, após ocupar uma das faixas da Rua Rui Barbosa, em frente ao restaurante.

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