Ato lembra jovem negro que foi morto enquanto comia marmita em SP

Manifestação na Avenida Paulista fez referência ao momento que Gabriel Hoytil recebeu um tiro no rosto de um policial civil. Investigação ouve familiares e testemunhas nesta semana

Protesto no Masp lembra a morte de Gabriel Hoytil, assassinado por um policial civil enquanto segurava uma marmita nesta quarta (23) | Foto: Gil Luiz Mendes / Ponte Jornalismo

Dezenas de marmitas com areia vermelha foram espalhadas, na manhã desta terça-feira (26/10) na calçada do Museu de Arte de São Paulo (Masp), na Avenida Paulista, centro da cidade de São Paulo. O ato, promovido pela Rio de Paz – SP e a ONG Mochileiros de Cristo, foi em memória a Gabriel Augusto Hoytil de Araújo, morto com um tiro no rosto dado por um policial civil durante uma operação na Comunidade do Piolho, zona sul da capital paulista. As embalagens de isopor remetem ao momento em que jovem de 19 anos foi assassinado.

“Isso aqui representa o momento que o Gabriel foi morto. A gente viu a foto feita pela Ponte que mostra a marmita que ele comia suja de sangue. Queremos mostrar que nem no momento em que está se alimentando um jovem negro da periferia de São Paulo consegue ter paz”, afirmou a coordenadora da ONG Rio de Paz – SP, Fernanda Vallim Martos. 

As investigações sobre a morte de Gabriel estão por conta do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Nesta semana familiares da vítima e testemunhas irão prestar depoimento sobre o caso. Uma semana após o crime, o clima dentro da comunidade é de temor. Uma moradora do local, que esteve na manifestação nesta manhã, conta que policiais continuam fazendo inserções pelos becos do Piolho.

“Está todo mundo muito apreensivo e com medo. Todos os dias tem polícia na comunidade e a gente teme porque a gente não sabe o que pode acontecer. À noite não fica ninguém pelas ruas. É um deserto. Nem os cachorros ficam pelas vielas”, conta a mulher, que prefere não ser identificada.

Ela conta que esteve com Gabriel momentos antes do rapaz ser morto pela Polícia Civil de São Paulo. “Ele era um menino muito querido pela comunidade toda. Um rapaz que ninguém tem o que falar de mal sobre ele. Naquele dia ele tinha me ajudado carregando umas sacolas de compras até a minha casa. Pouco tempo depois aconteceu aquilo”.

Gabriel entra para uma triste estatística que mostra que o estado de São Paulo é responsável por 44% das mortes de crianças e  adolescentes pela polícia no país. Um levantamento feito pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostra que 80% das mortes violentas contra crianças e adolescentes no Brasil são de meninos negros.

“As polícias de São Paulo matam três vezes mais jovens do que qualquer outro estado do Brasil. Atiram primeiro para depois perguntar. Foi o que aconteceu com o Gabriel. Não deram chance dele explicar o que estava fazendo ali naquele momento. Foram logo atirando”, explica Fernanda Vallim.

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Fabiana Hoytil da Silva, mãe de Gabriel, chegou a ir até o ato de hoje no MASP, mas diante da comoção pela homenagem ao seu filho passou mal e teve que ser socorrida por policiais militares para a emergência do Hospital das Clínicas. A família informa que ela foi atendida e passa bem. Servidora da rede municipal de saúde, Fabiana contou em entrevista à Ponte que já teve um AVC e passou cerca de um ano em cadeira de rodas e com problemas na fala.

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