‘Bancada da Bala’ perde força na Câmara mesmo com explosão de candidatos PMs

    Nem o clamor por mais segurança, mais polícia na rua, os chavões já conhecidos foram suficientes para trazer de volta a “Bancada da Bala” para o Palácio Anchieta

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    O efeito da eleição municipal de 2012, em que três policiais militares se elegeram vereadores em São Paulo – sendo que dois dos eleitos naquele pleito hoje são deputados estaduais – caiu por terra neste ano. Dos 30 policiais militares que se candidataram a uma das 55 vagas na Câmara Municipal, apenas um conseguiu obter os votos necessários. Em 2012 foram cinco concorrentes militares.

    Aliás, o único eleito é Roberval Conte Lopes (PP), um dos três eleitos em 2012. Capitão, após ter chegado na ativa à patente de tenente (assim que se aposenta o policial militar sobe um posto), Lopes é do tipo que fala grosso, pede mais polícia na rua e se mostra favorável à morte, vez ou outra se gabando de assassinatos cometidos por ele durante sua função nas fileiras da PM.

    Nem o clamor por mais segurança, com mais polícia na rua, chavões já conhecidos, foram suficientes para trazer de volta a “Bancada da Bala” para o Palácio Anchieta, sede da casa dos vereadores, no viaduto Jacareí (centro). Dos 30 PMs que tentaram a vaga, 17 colocaram suas patentes antes do nome na urna. Um festival de coronel, major, capitão, tenente e cabo.

    Um dos candidatos até tentou se aproximar de James Bond, usando nos três últimos dígitos do número de candidatura o tradicional 007, do famoso agente britânico que, na ficção, persegue criminosos e tem “licença para matar”. Mas, para o 007 paulistano, a comparação não surtiu efeito, com major Natanael (SD) recebendo apenas 1.687 votos. Outro fato curioso é o número escolhido por sargento Lima (PRTB), que remete ao telefone de emergência norte-americano, com o sugestivo 28911, que lhe rendeu 1.160 votos.

    O que chama a atenção é que boa parte dos PMs-políticos não esquecem suas funções nem durante a escolha do número a ser inserido na urna e na confecção de santinhos, principalmente, se a patente for alta. Dos nove coronéis que tentaram a carreira de parlamentar – seguindo passos de coronel Camilo e coronel Telhada –, que iniciaram na Câmara e abandonaram antes do término do mandato para ocupar a cadeira de deputado estadual, quatro usaram o 190 como os três últimos dígitos do número de campanha. Outros três PMs de baixa patente também se valeram do artifício. Usar um número ligado à carreira militar é praxe desde o mais famoso dos PMs-políticos, o também coronel Ubiratan Guimarães, que se tornou deputado em 2002 após usar na urna o número “111” em alusão ao número de presos mortos no Massacre do Carandiru, em 2 de outubro de 1992 – época em que era o comandante do policiamento da capital. Guimarães foi assassinado a tiros em 2006.

    Entre os coronéis, destaca-se Glauco Silva de Carvalho, o coronel Glauco, que chegou a ser o chefe do CPC (Comando de Policiamento da Capital) em 2014. Tido como um PM tranquilo, o doutor em Ciência Política pela FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) da Universidade de São Paulo, teve 6.696 votos em seu número 30.190, pelo Partido Novo. Glauco, aliás, foi o responsável por acalmar os ânimos durante a praça de guerra em que se transformou o cruzamento das avenidas Ipiranga e São João durante a reintegração de posse de um prédio em 16 de setembro de 2014.

    Outro coronel que não se deu bem nas urnas neste ano foi Admir Gervásio Moreira, aliado do governador Geraldo Alckmin (PSDB), de quem foi secretário da Casa Militar, além de ter sido comandante do policiamento da zona norte. Gervásio, filiado ao PSDB, teve 4.005 votos. Entre os policiais com a patente máxima, o incansável coronel Edson Ferrarini (PTB), de 80 anos, foi o que teve mais votos, 15.527. Conhecido por auxiliar usuários de drogas e seus familiares, Ferrarini já ocupou a cadeira de deputado estadual por diversos mandatos.

    No quesito “partido”, o líder disparado que abrigou os agentes nesta eleição foi o PRTB (Partido Renovador Trabalhista Brasileiro), presidido pelo eterno candidato a tudo, Levy Fedelix.


    Na ativa e indeferido

    Diferentemente de boa parcela dos militares, que já faz parte da reserva, recebendo aposentadoria com o teto de R$ 21 mil, no caso de coronéis, o tenente André da Silva Rosa, que atua na zona norte, e já esteve nos quadros de comandos de pelotões do 1º Batalhão de Choque, a Rota, e mais recentemente na Tropa do Braço, tentou uma vaga na Câmara pelo PSC. O número de votos recebidos pelo oficial (2.024) não foi divulgado pelo TSE na ficha oficial, uma vez que a candidatura do tenente foi indeferida e aguarda recurso.

    Outro PM que está na ativa e tentou convencer os paulistanos, com o nome usado para a campanha, de que ser linha dura é a solução para violência na cidade, foi o Sargento Sidney Matias dos Santos, o Sidão Mão de Pilão. Concorrente à vaga na Câmara pelo partido Solidariedade, o PM recebeu apenas 394 votos e ficou longe de ser eleito.


    Punição à PM ultrapassada

    Essa redução do número de policiais militares na Câmara Municipal é um bom sinal, de acordo com o cientista político Eduardo Viveiros de Freitas, professor da Universidade Estácio de Sá. Entretanto, ele ressalta que o aumento de políticos ligados às igrejas evangélicas representa um retrocesso para a defesa dos direitos humanos. “Infelizmente a bancada evangélica aumentou e retrocessos como a ‘Escola Sem Partido’ é a demolição da política de Direitos Humanos. É péssimo para a democracia essa mistura de fundamentalismo religioso e política”, disse.

    Segundo o professor, a Polícia Militar “é uma instituição anacrônica, fora do nosso tempo, ultrapassada como organização”, e por isso “deve ser substituída por uma polícia civil, republicana, cidadã, que faça uso mais da inteligência do que da truculência”. Entretanto, apesar de alguns policiais terem conhecimento disso, “não têm dado nenhuma contribuição nesse sentido”.

    O professor acredita que a população não votou nesses candidatos como forma de punição para quem representa uma corporação deslocada na sociedade contemporânea e que, embora alguns policiais militares saibam disso, “não podem dizer publicamente porque a hierarquia militar ultrapassada pune a liberdade de expressão“.

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