Procurador afirma que maioria de estudantes que fraudaram sistema são do curso de medicina. Comissão que investiga o caso recomendou o desligamento de 24 alunos
Estudantes brancos da UFPel (Universidade Federal de Pelotas) são investigados após denúncias de fraude no sistema de cotas para negros e indígenas da instituição. A comissão que investiga o caso recomendou o desligamento de 24 dos 27 alunos que foram analisados.
De acordo com a professora Georgina Helena, chefe do núcleo de ações afirmativas e diversidade, a denúncia veio por meio dos estudantes do setorial de negros e negras da universidade.
— A maioria dos fenotipicamente brancos não se autodeclaram negros e insistem serem apenas pardos e também buscam ascendência longínqua, ou seja, avós, bisavós e com poucas exceções em pais.
O procurador Max Palombo diz que o Ministério Público recebeu a denúncia e que pediu para que os casos fossem apurados. Segundo ele, as pessoas que fazem parte da maioria dos casos de fraude são do curso de medicina.
— Está em andamento esse procedimento e estão sendo feitas as avaliações se se enquadram ou não no perfil.
Ele reafirma a fala da professora e diz que as características físicas das pessoas denunciadas “não estavam enquadradas” nos quesitos para entrarem por meio das cotas e diz que “há casos extremos”.
De acordo com um estudante negro da instituição, a situação acontece desde 2013. Ele diz que vários casos foram relatados e a questão da auto declaração foi questionada. O jovem passou a monitorar algumas dessas pessoas e afirma que teve um caso na universidade em que uma garota se bronzeava para tentar ficar com o fenótipo negro. “E todo mundo sabia”, diz ele.
— [A pessoa que frauda cotas] é corrupta e depois reclama de político. Eu perdi sono quando comecei a ver a cara de cada um. Por mais pobre que ela seja, a pessoa branca tem privilégios.
O estudante também diz que as pessoas que fizeram isso “são criminosas” e “usurparam uma vaga que não lhes pertencia”. Ele diz que não basta dizer “minha vó é negra”. O jovem afirma que é preciso mais que isso.
— Não é assim que funciona. São pessoas fenotipicamente negras: a pele negra, o cabelo, o nariz. É visual. O racismo no Brasil trabalha com fenótipo. Ela descende de uma pessoa negra, mas ela é branca. Ela não pode ocupar essa vaga.
A professora Georgina diz que, “mesmo fenotipicamente brancos” os estudantes analisados “se sentem representar, contraditoriamente, a população negra”.
— Outra questão é que a denúncia demanda que a UFPel revise as vagas para pretos e pardos [negros] e indígenas desde 2013, quando se estabelece a lei de cotas. A UFPel tem intenções de fazer isso e caso se conforme as irregularidades desligar os alunos e alunas.