Brasil que Fidelix quer governar aprova na ONU resolução contra homofobia

    arociris
    No debate de domingo, o candidato foi na contra-mão da resolução anti-homofobia, proposta pelo Brasil, e aprovada na última sexta, pela Assembleia Geral da ONU

    A bizarra participação do candidato à Presidência Levy Fidelix (PRTB), no debate da TV Record, neste domingo 28/09, o credencia também como candidato a ser denunciado ao alto comissariado de Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas). Sua fala foi um exemplo perfeito do que a resolução, condenando a violência e discriminação contra lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT), aprovada na última sexta-feira, durante a Assembleia Geral da ONU, em Genebra, procura combater.

    A resolução, celebrada mundialmente como importante conquista para defender os princípios da Declaração Universal dos Direitos Humanos de LGBT, foi proposta pelo mesmo Brasil (ao lado de Argentina, Chile, Colômbia e Uruguai) que Fidelix quer governar.

    Um Brasil comandado por Fidelix teria votado ao lado de Botswana, Etiópia, Gabão, Quênia, Kuwait, Arábia Saudita e Emirados Árabes, só para citar alguns dos 14 que se opuseram à proposta. O grupo dos contrários tinha entre seus argumentos a defesa da família. Exatamente como Fidelix.

    Para o que imagina que seja uma defesa da família, o candidato criminalizou os homossexuais ao associá-los à pedofilia, pregou o enfrentamento a gays e seu banimento do convívio social. “Então gente vamos ter coragem, nós somos maioria, vamos enfrentar essa minoria. Vamos enfrentá-los. Não tenha medo de dizer sou pai, uma mãe, vovê e o mais importante é que esses que têm esses problemas realmente sejam atendidos no plano psicológico e afetivo, mas bem longe da gente, bem longe mesmo porque aqui não dá”, disse em resposta à candidata Luciana Genro (PSOL), que o questionou, no debate, sobre sua negativa em reconhecer como família um casal do mesmo sexo.

    Para onde o Fidelix acha que a população LGBT deve ser mandada?
    Talvez mandá-los para bem longe, como para a Arábia Saudita, Mauritânia, Iêmen e outros países que condenam os homossexuais à morte ou deportá-los. Quem sabe mandá-los para campos de concentração (no caso do Fidelix, para tratamento), como fez o nazismo com 10.000 homossexuais, na Segunda Guerra. Certamente fechará os olhos para as agressões físicas e assassinatos cometidos contra LGBT em nome de sua moral “família”.

    “Tal amor é tão mal compreendido neste século que se admite descrevê-lo como o ‘amor que não ousa dizer seu nome’. Ele é bonito, é bom, é a mais nobre forma de afeição. Não há nada nele que seja antinatural”

    (Oscar Wilde, em sua defesa durante o julgamento que o condenou à prisão por ser gay.)

     O que Fidelix acha de deve ser feito com que tem “esses problemas”? Imagino que possa propor uma revisão do código penal e adotar leis como a da Inglaterra, do século 19, que sentenciou o escritor Oscar Wilde a dois anos de trabalhos forçados por indecência grave. O que ele propõe para aqueles que fogem do padrão binário que limita o gênero a uma extensão do sexo biológico, para quem apenas ousa construir a própria identidade? Tratamento (será que no sistema público de saúde?). Para isso ele também pode pedir que a Organização Mundial de Saúde (OMS) recrie o “homossexualismo” e volte a inseri-lo na lista de doenças.

    Pior, essa incitação à violência claramente exposta por Fidelix pode ter consequências nefastas para a comunidade LGBT. É uma carta branca para agressões contra gays. “Que não reste dúvida, Levy Fidelix, propôs hoje um genocídio em rede nacional”, escreveu em sua página no Facebook o advogado Renan Quinalha, integrante da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo. “E não acho exagero e tampouco inapropriado tecnicamente assim caracterizar o discurso dele. Não foi defesa do modelo de família dele, mas uma incitação direta e pública’ a um ato com a intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo por uma característica particular que o constitui”, completou.

    Está claro que, quando um indivíduo como esse se candidata à Presidência e sente-se à vontade para incitar o crime e o preconceito em rede nacional, não dá mais para adiar a aprovação do projeto de lei 122 (PL 122) que criminaliza a discriminação ou preconceito motivados por orientação sexual e pela identidade de gênero. Exatamente o que cometeu Levy Fidelix no debate.

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