Denúncia foi feita na manhã de quarta-feira (27/9) e, segundo secretário de Segurança Pública do Estado, a ação será investigada até que cheguem nos autores
No início da noite do último domingo (24), Marco Antônio André ouviu algumas movimentações em frente à sua casa, mas não deu muita atenção por achar que não era nada demais. Na segunda-feira (25) por volta das 7h40 da manhã, um colega passava pela rua de Marco e se deparou com cartazes colados em um poste a aproximadamente 20 metros da casa e outro no portão da casa dele. O amigo, então, tirou uma foto do papel, que dizia: “Negro, comunista, antifa (antifascista) e macumbeiro. Estamos de olho em você”, com o famoso símbolo do grupo extremista americano Ku Klux Klan, que defendia a supremacia branca.
Embora não desconfie de quem esteja por trás do ato, Marco disse que “fica nítido no texto que é muito individual, muito direto”. Ele conta que não viu nenhum outro cartaz pelo bairro, andou também pelo centro e não achou nada parecido. “Se não for algo provocativo, foi algo para amedrontar ou para tentar intimidar”, afirma.
Ele alega nunca ter passado por nenhuma situação tão violenta como essa antes mas ressalta que há “o racismo institucional na sociedade, o do cotidiano, o velado, que é possível sentir diariamente”.
O advogado, 40, é Integrante do Núcleo de estudantes afro-brasileiro, a NEAB/FURB, que tem como tripé o ensino, a pesquisa e a extensão da causa negra. “De forma acadêmica a gente tenta fazer valer a lei 10.639, que ensina a cultura afro nas escolas”, conta. Participante de movimentos sociais, ele frequenta também uma casa de candomblé e umbanda. “Daí que talvez venha essa raiva toda, tendo em vista que os terreiros são tão perseguidos”, desabafa.
Apesar de dizer que respeita muito a ideologia, ele não se considera comunista. Mas fala que “se quem me acusa e utiliza esse adjetivo com intensão de ofender por eu gostar, ajudar, trabalhar e se preocupar com o próximo, então, eu sou comunista”.
O delegado adjunto da Polícia Civil, Marcos Ghizoni, comunicou que as investigações sobre o caso de um possível ataque neonazista já começaram e serão coordenadas pelo delegado Egídio Ferrari, da Divisão de Investigação Criminal (DIC) de Blumenau, onde foi registrada a denúncia.
O secretário César Augusto Grubba determinou que a equipe de videomonitoramento da SSP de Santa Catarina faça uma busca detalhada nas imagens captadas pelas câmeras instaladas nos lugares onde os cartazes foram colados. “É lamentável que isso ocorra em Santa Catarina em pleno século XXI. Vamos investigar até chegar aos autores desta insanidade”, garantiu Grubba.
A OAB de Santa Catarina também lançou uma nota repudiando a ação em que diz que “a Seccional catarinense da Ordem dos Advogados do Brasil e a Subseção de Blumenau, assim como a Comissão de Igualdade Racial da Seccional, não podem silenciar diante de fatos tão graves e manifestam repúdio àqueles que, de forma irresponsável, sem medir consequências, ousam atentar contra seus semelhantes de forma infame”.
“Órfão das autoridades eu não estou, mas seria bom que tantos outros negros pudessem ter todo esse aparato a uma determinada causa. Não que o meu caso não seja sério, mas existem muitas outras pessoas que sofrem racismo diariamente e não tem devida atenção”, alerta Marco Antônio.
Marco participa todos os anos da tradicional festa de Blumenau, a Oktoberfest. Ele conta que já sofreu ataques por se caracterizar com trajes alemães. “Já se tornou corriqueira a prática de ofensas raciais. Não há nenhum tipo de enfrentamento porque acontece geralmente no meio do desfile e não tem como fazer identificação direta dos agressores”.
Esse ano o evento vai ocorrer novamente no mês de outubro e ele diz que vai na festa de novo. “Não vou ficar preso dentro de casa porque meia dúzia acha que pode fazer o que quiser me ofendendo. O problema não está em mim, está em quem reproduz esse tipo de discurso de cunho preconceituoso. Não vou me privar porque tem alguém que não gosta como eu me visto ou porque eu sou negro”.