Com isolamento de 55%, região oeste da Grande SP segue em ritmo quase normal

    Bares, bancos e supermercados seguem cheios em Barueri, Carapicuíba, Cotia, Itapevi e até em Osasco, 2ª cidade com mais casos em todo estado

    Cidade de Osasco confirmou 206 casos de coronavírus, ficando atrás apenas da capital paulista | Foto: Prefeitura de Osasco

    Pouco mais da metade da população da região oeste da Grande São Paulo aderiu ao isolamento social para conter a pandemia de coronavírus, segundo os dados parciais do Sistema de Monitoramento Inteligente do Governo de São Paulo.

    A central de inteligência analisa os dados de telefonia móvel para indicar tendências de deslocamento e apontar a eficácia das medidas de isolamento social. Os dados, referentes ao período de 8 a 12 de abril, apontam que a adesão ao isolamento social foi de 55% nas cidades de Barueri, Carapicuíba, Cotia, Itapevi e Osasco. A ferramenta não leva em conta os demais municípios do oeste da região metropolitana: Jandira, Santana de Parnaíba e Vargem Grande Paulista.

    A média de adesão entre as cidades, no entanto, varia bem pouco – entre 2% e 4%. Barueri foi a única que registrou uma média abaixo das demais, com 49,8% somando os cinco dias. A maior adesão foi em Carapicuíba, com 57,4% da população dentro de casa. 

    Além da proximidade dos números, há outro fator semelhante entre as cidades: os centros e os bairros. Enquanto as ruas das regiões centrais estão mais vazias, em razão das determinações dos governos, com o fechamento de grande parte dos comércios e a fiscalização da polícia, nos bairros mais afastados são registradas aglomerações em festas, nos bares e nas esquinas.

    Leia também: A quarentena do Itaim Paulista 

    Em Cotia, o empresário Michel Chausse, que mora na periferia da cidade, andou pelas ruas nos últimos dias e constatou a variação do movimento. Nas áreas mais próximas ao centro, segundo ele, poucas pessoas são vistas, mas nos bairros mais afastados a realidade é completamente diferente.

    “Muita gente nas ruas, a maioria dos comércios, como bares, está trabalhando com meia porta e, em alguns, a gente vê até aglomeração. No bairro onde eu moro tem até gente estralando moto nas ruas. Os bairros periféricos não estão respeitando muito, há muitos idosos de dia e muitos jovens à noite”, destaca.

    Em Jandira, a situação não é diferente. A jornalista Adriana Biazóli avalia que o desrespeito ao isolamento se dá em razão da pouca conscientização feita pelo governo municipal. Embora tenha permitido apenas comércios essenciais, ela disse que não presenciou uma atuação da Guarda Civil Metropolitana (GCM) no sentido de tentar coibir a circulação de pessoas. 

    “Nas calçadas, o pessoal está tomando cerveja como se nada tivesse acontecendo. É complicado. Acho que as pessoas ainda não se deram conta e têm dúvidas sobre o coronavírus. O prefeito deveria ser mais rigoroso”, sugere.

    Moradora do Jardim Santa Brígida, em Carapicuíba, a servidora pública Gabriela Moura viu a mesma realidade do lado de fora de sua casa. Comércios não essenciais abertos e ruas lotadas marcaram esse final de semana no bairro. 

    “A quarentena não está sendo levada a sério. Muitas pessoas nas ruas, alguns comércios não essenciais abertos, como bares, por exemplo. Tem gente fazendo festa com músicas altas, carros na rua com som e pessoas ao redor bebendo. Enfim, parece que está tudo normal”, relata.

    Mas nem todos os comerciantes desrespeitam as normas decretadas pelas autoridades. Um exemplo de conscientização em meio à crise gerada pela pandemia foi adotado na lanchonete Brasil Japão Salgados, em Cotia. O comércio obedeceu o decreto do governo do estado e da prefeitura, por isso mantém o atendimento com as portas fechadas. 

    Lanchonete Brasil Japão Salgados, em Cotia, conseguiu evitar demissões e está seguindo orientações da prefeitura para funcionamento | Foto: reprodução

    Com esse novo formato de trabalho, as vendas caíram, praticamente, pela metade, mas nem por isso os donos demitiram os funcionários.  

    “As vendas caíram, mas pelo menos está entrando um pouquinho e já ajuda. Mas a gente manteve os mesmos funcionários. Eu fiquei mais assim por isso, de ter que dispensar alguém depois de um ano que a gente conseguiu ter uma produção boa”, destaca Luciano Kazuo Yamashita, que é proprietário do estabelecimento junto com Thiago Cardoso Pereira.

    Luciano é otimista e acredita que, assim que a pandemia passar, o comércio vai voltar com força novamente. “Isso tudo vai passar e, quando passar, vai ser melhor para os comerciantes. Pelo menos para a gente. Eu creio nisso aí, que tudo vai passar”, prevê.  

    Osasco é segunda cidade com mais casos de Covid-19

    Entre os municípios da região oeste da Grande São Paulo, Osasco é o que lidera com mais casos confirmados de Covid-19. Em todo o estado de SP, é a segunda com maior registro da doença: 206, até esta terça-feira (14/4), segundo dados da prefeitura. A cidade fica atrás apenas da capital paulista, que tem 6.131 casos. Guarulhos está em terceiro lugar, com 200.

    Com uma população estimada em 698,4 mil habitantes, segundo dados do IBGE de 2019, Osasco já confirmou nove mortes pela Covid-19, sendo que 24 ainda estão em investigação. O município tem ainda 1.213 casos em análise e 41 pessoas recuperadas da doença.

    Apesar de todas as recomendações sanitárias, até mesmo da Organização Mundial da Saúde, apontarem para os riscos de aglomerações, visto que é a maneira mais rápida de contágio do coronavírus, pouco mais da metade da população aderiu ao isolamento social. De acordo com o Sistema de Monitoramento Inteligente, apenas 56,2% ficou dentro de casa entre os dias 8 e 12 de abril.  

    Vale ressaltar que, segundo o coordenador do Centro de Contingência do coronavírus em São Paulo, o médico infectologista David Uip, a adesão ideal para controlar a disseminação da doença é de 70%. 

    Mas neste último final de semana, as ruas pareciam ser as mesmas. Circulação intensa de pessoas, mercadinhos com filas enormes e boa parte da população sem o uso de máscaras. 

    No Jardim Padroeira, por exemplo, essa foi a sensação da funcionária pública Fernanda Neiva: de que nada estava acontecendo. “O funcionamento dos comércios estava normal. Até no condomínio onde eu moro as crianças da faixa etária do meu filho, que tem 8 anos, estavam brincando livremente. Os pais saem com as crianças para brincar. Não há controle. Aqui tem comunicado explicando todos os cuidados que devemos ter, mas as pessoas não tem respeitado”, lamenta.  

    O carro da prefeitura, segundo ela, passa duas vezes ao dia, dando os informes e reforçando para as pessoas ficarem em casa, mas os bancos e a casa lotérica, por exemplo, passaram esse final de semana lotados. 

    O mesmo foi percebido pelo aposentado João Carlos Silva, que destacou a falta de bom senso entre as pessoas. “No mercado ainda tem muita gente desprotegida. Você vê dois, três com máscaras, mas o restante, não. No supermercado Lopes você tem que pedir para passarem álcool no carrinho. Fica uma pessoa na porta [do mercado], mas não faz o procedimento certo. Enquanto tem uns que cuidam, tem outros que não fazem por onde”, diz.

    Supermercados, bancos e lotéricas lotados

    Como relatado por seu João, outro fator comum entre as cidades é a grande concentração de pessoas em lotéricas, supermercados e agências bancárias. O jornalista Beto Kodiak, que mora em Cotia, disse que não tem conseguido fazer compras no Atacadão. “Toda vez que eu passo em frente está lotado. O povo não está nem aí”, critica. 

    E não é só no Atacadão. No supermercado Barbosa, também em Cotia, as filas são imensas, já que não há controle de entrada na loja. Como se não bastasse, segundo a moradora Camila de Castro, que foi ao estabelecimento nesta quinta-feira (9/4), não havia nem álcool gel para higienizar os carrinhos e as mãos.

    Movimentação do Supermercado Barbosa, em Cotia | Foto: arquivo pessoal

    “Estava fervendo de gente, não tinha controle nenhum, só tinha o suporte do álcool, mas nem álcool tinha mais. A fila dos caixas invadia os corredores. As pessoas estão estocando alimentos em casa, muitas estavam com dois carrinhos”, relata.

    Procurada pela reportagem, uma representante do Barbosa disse que realmente não há uma determinação nem do mercado e nem da Prefeitura de Cotia para controlar a entrada. “A gente depende da matriz do mercado, pois só acatamos o que vem deles. Se o prefeito determinar que precisa ter controle de entrada, a gente tem que fazer. Se o prefeito não determinar, a gente não faz”, explicou.

    Ainda, segundo ela, há sinalizações em todos os caixas para que os clientes mantenham o distanciamento de um metro e meio. Mas ela ressaltou que não tem como evitar aglomerações. “Desde quando começou a pandemia, o pessoal tem vindo bastante no mercado.”

    Cidade de Cotia | Foto: Vagner Santos

    A aglomeração é presenciada, ainda, em lotéricas e agências bancárias de todas as cidades da região. Em Itapevi, uma unidade do Banco do Brasil teve aglomeração de idosos e foi alvo de fiscalização na quarta-feira (8). O banco fez marcações no chão para espaçar a fila e pediu que os clientes as respeitassem. Apesar disso, a aglomeração, que já tinha sido registrada também na terça (7), continuou do lado de fora da agência.

    Grande SP concentra mais de 2 mil casos de coronavírus

    Dos 2.403 casos confirmados de coronavírus nas 38 cidades que formam a Grande SP (exceto capital paulista), 438 se concentram em Santana de Parnaíba,  Cotia, Itapevi, Osasco, Jandira, Carapicuíba, Vargem Grande Paulista e Barueri. O número representa 18% dos casos de Covid-19 em toda Região Metropolitana de São Paulo.

    Os municípios contabilizam, juntos, 28 mortes causadas pela doença. Mas os números podem aumentar significativamente, uma vez que os óbitos que estão em investigação totalizam 114. 

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