Stephanie Ribeiro criticou machismo no reality em redes sociais e passou a ser perseguida por admiradores do ex-participante Felipe Prior, investigado por estupro
A edição de 2020 do BBB (Big Brother Brasil), reality show da Rede Globo, tem elevado a discussão nas redes sociais sobre machismo e racismo, principalmente por conta da eliminação em sequência de participantes homens por casos de assédio e um plano, que acabou sendo descoberto, para tentar seduzir as mulheres comprometidas no programa para que fossem mal vistas pelo público.
Três dias após uma das maiores votações do “paredão”, chegando a 1 bilhão de votos, e que culminou com a saída do arquiteto Felipe Prior, que disputava a permanência com a cantora Manu Gavassi e a influencer Mari Gonzalez, a revista Marie Claire publicou reportagem, em 3 de abril, sobre duas acusações e uma tentativa de estupro que teriam sido cometidas pelo participante entre 2014 e 2018. O arquiteto nega.
A partir da repercussão da notícia, a arquiteta e escritora Stephanie Ribeiro, que é colunista da revista, conta que passou a ser atacada em suas redes sociais. “Eu já fazia postagens apontando comportamentos machistas do Prior, até aí os fãs vinham dizendo que era exagero, tentando silenciar. Mas depois que eu compartilhei a reportagem, começaram a criar fake news de que eu tinha escrito a matéria e começaram a me ameaçar de morte, sendo que eu nem sou jornalista e não tenho nada a ver com o processo de produção da matéria e nem contato tive com as vítimas”, afirma.
“Chegaram a expor o nome de uma das vítimas e por ela ter um nome parecido com meu, já começaram a dizer que eu teria feito a denúncia de estupro, o que é um absurdo”, relatou.
Em prints enviados à Ponte, principalmente no Twitter e no Instagram, Stephanie é atacada com diversas mensagens racistas e misóginas.
“Eu, como telespectadora e feminista, tenho comentado sobre como comportamentos machistas no BBB têm sido usados como forma de entretenimento e nessa edição teve casos graves e que estão sendo investigados pela polícia”, aponta a ativista, ao mencionar as investigações de assédio sexual a participantes contra o ginasta Petrix Barbosa e o hipnólogo Pyong Lee, ambos eliminados do programa por votação do público. “É chocante que comentar BBB virou receber ameaça de morte e as pessoas se sintam legitimadas a te atacar e perseguir sem parar”, desabafa a arquiteta. “Eu fiquei mal, três dias sem dormir, bloqueando e denunciando essas pessoas e elas não param”.
Em uma das reportagens sobre o caso de Prior, Stephanie aponta que ao questionar sobre o número de vítimas apontadas, mais ataques foram feitos. “Eu questionei se o número 11, apontado na matéria da Universa eram de testemunhas ou vítimas. Logo em seguida, uma moça com a foto da Gizelly [participante do BBB] disse que não duvidava de que poderiam ser 11 vítimas. Logo em seguida, começaram a dizer que eu me uni aos fãs da Gizelly para montar a denúncia do estupro só porque sou colunista da revista”, declarou.
Stephanie chegou a emitir uma nota de repúdio com auxílio de advogados esclarecendo que não tem participação no processo de produção da reportagem da revista Marie Claire e que tomará “todas as medidas judiciais cabíveis”.
A advogada Gizelly Bicalho foi a responsável por indicar Felipe Prior ao “paredão” no qual foi eliminado, em 31 de março, já que ela havia se tornado a líder naquela semana. À Ponte, a moça que fez o comentário citado por Stephanie relatou que era administradora de um fã clube da participante e, antes da publicação da reportagem da Marie Claire, se falava das denúncias sobre o rapaz. “Já se discutia no Twitter sobre ele [Prior] ter sido expulso do InterFAU [comissão organizadora dos jogos universitários das faculdades de arquitetura e urbanismo de São Paulo] e a própria comissão havia confirmado para a gente”.
No dia 3 de abril, a comissão organizadora do InterFAU emitiu nota oficial declarando que o arquiteto havia sido expulso de participar das edições dos jogos desde outubro de 2018 por conta de denúncias de assédio sexual.
A jovem, que pediu para ter a identidade preservada por medo de represálias, enviou prints à Ponte sobre ataques que o perfil dela recebeu após a repercussão da reportagem da Marie Claire. “Tive que fazer um boletim de ocorrência eletrônico porque foram atrás de perfis dos meus pais, dizendo que tinham o meu IP [numeração que identifica o computador], que iam atrás de mim”, relata.
Ela afirma que há alguns dias, as mensagens pararam. Outra amiga dela, que também administrava a página, também relatou que teve de “desativar todas as redes sociais” por causa dos constantes ataques. Em um dos prints enviados, o perfil diz que vai persegui-las e “acabar” com elas. “Depois que eu excluí minhas redes sociais, me deixaram em paz, mas eu fiquei muito mal, com crise de ansiedade”, afirma. “Todo mundo que está se posicionando sobre o caso do Prior os fãs estão vindo em cima”, prossegue.
A reportagem procurou a assessoria de imprensa do arquiteto Felipe Prior, mas não obteve resposta. A Ponte não localizou as assessorias de imprensa do Twitter e do Instagram.
