Multidão agrediu vítima com socos e chutes na frente de uma viatura da PM, na região da 25 de Março, em São Paulo. Para especialistas, vídeo da cena mostra omissão e possível prevaricação de PMs — que não estavam de folga
Um vídeo postado nas redes sociais mostra um homem recebendo chutes e socos por um grupo na frente de uma viatura da Polícia Militar. Ele tenta entrar no veículo, mas é retirado à força pelos agressores, enquanto um policial segura o rádio da viatura e, aparentemente, nada faz para afastar o grupo de agressores. Um dos chutes faz a vítima cair e bater na porta da viatura. Depois que os agressores se distanciam, outro policial se aproxima da vítima e a filmagem se encerra.
Tudo isso aconteceu na tarde desta segunda-feira (27/11), na Rua Comendador Afonso Kherlakian, na região de comércio popular nas proximidades da Rua 25 de Março, no centro da capital paulista. Para especialistas ouvidos pela reportagem, a conduta da PM foi de omissão e, em tese, poderia ser enquadrado como crime de prevaricação (quando um servidor público deixa de exercer ofício por interesse próprio ou de outros).
Coordenador de projetos do Instituto Sou da Paz, Rafael Rocha disse que, ao ver a filmagem, achou um caso semelhante ao de um vídeo revelado pela Ponte em que uma soldado da PM chuta e se recusa a ajudar um jovem negro sendo perseguido e ameaçado por um investigador. “Me parece um crime, porque o policial não agiu para preservar a vida daquela pessoa. Se, em uma daquelas agressões, ele tivesse desmaiado, morrido, os policiais teriam que ser responsabilizados porque viram uma agressão acontecendo e não intervieram”, avalia.
Outro policial militar que analisou o vídeo, a pedido da Ponte, disse, sob condição de anonimato, que também viu omissão e prevaricação na cena.
O vídeo foi postado no Instagram pela página @foconainterlagos, que disse que o homem agredido seria um “suspeito de furto”, informação desmentida pela assessoria de imprensa da Polícia Militar. Segundo a assessoria, o que aconteceu foi o que homem “teria deixado um telefone em assistência técnica em um shopping na região, não sabendo precisar o local exato da assistência, o que gerou um desentendimento”. A discussão acabou se acalorando e estendendo-se para fora do shopping, momento em que pessoas na rua, sem saber do que se tratava, gritaram “pega ladrão”.
A partir daí, o homem passou a ser agredido com socos e chutes e pediu ajuda a policiais militares. À Ponte, a PM disse que “por questões de prioridade à integridade física do indivíduo, não foi possível deter os agressores, e diante das escoriações sofridas, foi conduzido a uma unidade hospitalar próxima, onde permaneceu sob cuidados médicos”.
A PM informou que o homem agredido estava com dois celulares sem registro de roubo ou de furto, e que nenhuma vítima de assalto foi encontrada no local. A vítima não quis formalizar o registro das agressões em delegacia.
A equipe que estava no local participava de uma atividade delegada, prestando serviço como policiais em serviço para a Prefeitura. A inscrição da viatura M-09203 indica que os policiais são da 2ª Companhia do 9º Batalhão de Policia Militar Metropolitano (BPM/M), que tem como área de policiamento a região do Tucuruvi, na zona norte da cidade.
A Ponte voltou a perguntar sobre a conduta dos policiais que aparecem no vídeo e a corporação reiterou o trecho da nota que afirmava que o homem espancado “foi conduzido a uma unidade hospitalar próxima, onde permaneceu sob cuidados médicos”.