Violência policial contra população negra foi o principal tema das faixas e palavras de ordem do ato realizado ontem em São Paulo
Cerca de duas mil pessoas se reuniram na tarde do último domingo (20) para a 13° Marcha da Consciência Negra. O ato iniciou por volta das 16h em frente ao Masp, na avenida Paulista. O grupo caminhou pela avenida Consolação e terminou por volta das 19h, no Teatro Municipal, no centro de São Paulo.
À frente da manifestação, o grupo Afoxé Omo Odé fazia um ritual de candomblé para “abrir caminho para ter um ato em paz”, conforme explicou Rodrigo Gomes, 23 anos, integrante do grupo religioso de matriz africana.
De acordo com Jubiara Castro, 60 anos, o ato que acontece tradicionalmente no feriado de 20 de novembro serve para “mostrar para os governos das três esferas [municipal, estadual e federal] que nós [negros] vamos para a guerra lutar pelos nossos direitos”.
Para Tati Nefertari, 21 anos, o ato vai além de cobranças partidárias. Serve para os negros mostrarem que resistem à violência que vêm sofrendo. “Marcamos presença nas ruas não para pedir ‘fora, Temer’, mas sim para nos reafirmarmos como pretos e dizer que estamos na luta”, disse.
A jovem ajudou a carregar, durante parte do ato, uma faixa com a frase “Racistas assassinos, Ítalo vive em nós“. O material homenageia a criança de 10 anos, morta pela PM com um tiro na cabeça em junho deste ano, conforme denunciou a Ponte Jornalismo. Além dessa, outras faixas denunciavam e homenageavam jovens negros assassinados por policiais militares em São Paulo.
Em um dos carros de som, o ativista negro Douglas Belchior ressaltou a importância de combater o genocídio da população negra. “Não vamos desistir de Palmares. Não vamos aceitar que continuem nos matando. Vamos continuar na luta”, disse Belchior.
Além do ato na região central, “Marchas da Periferia“, com pautas acerca da negritude, aconteceram em pelo menos três bairros da cidade de São Paulo neste feriado de Consciência Negra: Brasilândia, na zona norte; Jardim Helena, na zona leste; e Capão Redondo, na zona sul.
Chegada do Vem Pra Rua
Cerca de uma hora depois do início do ato da Consciência Negra, integrantes do Movimento Vem Pra Rua também começaram a chegar no mesmo local, no Masp, com objetivo de iniciar um ato em apoio à operação Lava Jato.
De acordo com membros do grupo que chegou primeiro, algumas pessoas do Vem Pra Rua começaram a passar entre os manifestantes negros com provocações. Segundo Wesley Rosa, 29 anos, o ato do dia da Consciência Negra estava marcado há seis meses. Para o ativista, os integrantes do Vem Pra Rua teriam infringido o artigo 5º da Constituição, inciso XVI, que veta a realização de manifestações que que “frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local”.
Antes da confusão se generalizar entre os manifestantes, os PMs que acompanhavam a manifestação da Consciência Negra se posicionaram para afastar os grupos. “Quando a PM fez o cordão para separar as manifestações, colocou os policiais virados para o povo negro, insinuando que a ameaça é o povo preto. Isso é racismo institucional. Eles deveriam fazer um cordão em zigue-zague ou ficarem virados para o lado da manifestação que não estava marcada para o local”, contou Rosa.
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