Para Solange de Oliveira, uma das líderes do movimento Mães em Luto da Leste, a amiga Cristiane Aparecida Barbosa foi também uma vítima da violência do Estado
Uma das integrantes do Movimento Mães em Luto da Leste, Cristiane Aparecida Barbosa, de 40 anos, morreu em decorrência de um câncer de colo de útero contra o qual lutou por dois anos. Luta, aliás, é uma palavra que fazia parte da rotina dela. A militante Solange de Oliveira, também do movimento que batalha por justiça em casos de violência policial, acredita que Cris, como era conhecida, ficou doente por causa da ausência do filho Rafael Barbosa Vieira, de 17 anos. No dia 17 de fevereiro de 2015, Rafael teria sido morto pela Rota (a tropa de elite da PM paulista) depois de se envolver no roubo de um carro na zona leste.
Cerca de um ano depois, Cris descobriria a doença. “A maioria das mães estão partindo, é tudo com câncer. É uma morte que a culpa é do Estado, porque o Estado mata o seu filho, aí vem a tristeza e com a tristeza vem essa doença”, desabafa Solange. Carismática e atenciosa, segundo Solange, Cris estava internada desde o dia 22 de abril, quando o quadro se agravou. Desde então, ela não queria mais receber visitas.
Desde 2015, Cris convivia com esses e outros tantos sentimentos. Segundo Solange, ela queria ver os culpados pela morte do filho serem punidos. “O caso chegou a ser arquivado, mas foi reaberto no ano passado depois que surgiu um vídeo feito por um popular que mostra o policial da Rota colocando ele {Rafael] já baleado no ‘chiqueirinho’ e um policial entrando junto. Daí eles falaram que só iam socorrer se outra pessoa fosse junto. Um dos outros meninos entrou e depois contou que esse mesmo PM pegava uma caneta e enfiava no ferimento da bala”, conta.
O marido e os outros dois filhos estão muito abalados e prefeririam não falar. Cris foi enterrada no Cemitério da Vila Alpina no início da tarde desta sexta-feira (4/5). Solange lamenta que não deu tempo de a amiga acompanhar até o fim as mudanças no caso da morte do filho dela, que teve inquérito reaberto. “Ela tinha muita vontade. Durante esse tempo tenho certeza que ela pensou que ia vencer a luta dela e voltar firme e forte para continuar lutando por justiça no caso do Rafael”, afirma.