GPS sinalizou atividade de Vitor Barboza em delegacia de São Paulo meia hora após policiais registrarem a morte do jovem em Guarulhos; à família, polícia alegou sumiço do celular
![](https://ponte.org/wp-content/uploads/2019/08/vitor-barboza-rota-dutra-2b.jpg)
No último dia 17 de julho, uma ação da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar,a tropa mais letal da Polícia Militar de São Paulo) terminou com a morte de quatro jovens entre 19 e 23 anos no quilômetro 214 da Rodovia Presidente Dutra, em Guarulhos, na Grande São Paulo. O caso foi registrado no 7º DP (Distrito Policial) da cidade às 21h10. No entanto, meia hora depois do ocorrido, às 21h46, a geolocalização do celular de Vitor Nascimentos Barboza Alves, 21 anos, um dos mortos, apontava para uma delegacia a quase 35 quilômetros de distância dali: o 49º DP, em São Mateus, na zona leste da capital paulista.
A Ponte teve acesso à consulta feita por um familiar que confirma a localização do aparelho celular de Vitor na delegacia de São Mateus, bairro paulistano em que ele nasceu e morava até então, meia hora depois da ação na Dutra. Segundo o Google Maps, este mesmo trajeto de 36,2 km entre a delegacia de São Mateus e o 7º DP de Guarulhos leva 1h15 para ser feito numa noite de quarta-feira, naquele horário.
Em entrevista à Ponte, um familiar próximo de Vitor disse, sob condição de anonimato, que estava preocupado com o desaparecimento do jovem e, por isso, rastreou o sinal de GPS do aparelho. Foi quando decidiu ir até o local indicado. Assim que chegou no 49º DP, questionou os policiais civis sobre o paradeiro do jovem e descobriu que ele estava morto. “Como pode o celular dele estar aqui e ele não?”, disse ao chegar na delegacia. Segundo outra pesquisa, o celular continuava na mesma delegacia às 23h52.
![](https://ponte.org/wp-content/uploads/2019/08/geolocalização-celular-vitor-barboza-morto-rota-dutra.jpg)
Antes de morrer, Vitor mandou uma mensagem às 20h55 para a namorada, Jéssica*, dizendo “moiô, vida”, sem detalhar o que aconteceu e sem responder posteriormente. Ele não foi o único dos quatro jovens a falar com parentes antes da morte. Ronei também contatou a família, mas por áudio. “Eu fui preso, tá? Eu tô indo preso. Eu te amo muito”, disse o jovem, antes de morrer, alegando que “foi forjado” pelos policiais (ouça aqui o áudio).
Segundo Jéssica, Leonardo também fez o mesmo, mas por ligação. “Quando eles foram presos, ligaram para a mãe do Leonardo e ela ouviu ele gritando no fundo, dizendo estava sendo preso, para avisa a mãe dele”, conta a namorada de Vitor, que dispara conta a polícia. “Sim, eles foram executados e depois forjaram a cena do crime. Eles não estavam com arma nenhuma. Isso não pode ficar assim, independente de qualquer coisa a justiça teria que ser feita prendendo e não fazendo isso”, sustenta.
Conforme revelado pela Ponte, a advogada que atua no caso, Fabiane Sampaio Saab, confirmou que familiares e testemunhas estão sofrendo ameaças desde o dia do enterro dos quatro jovens, realizado em 20 de julho no Cemitério Vila Formosa, também na zona leste da capital paulista. Desde a morte, o celular de Vitor está desaparecido. “Disseram que o celular dele sumiu no dia, mas é mentira. Ele mandou uma mensagem era 20h55, ele morreu 21h10”, relembra.
O familiar conta que os PMs explicaram para ele que o aparelho sumiu. Segundo a versão dada pelos PMs no B.O. (Boletim de Ocorrência) do caso, Vitor estava naquele dia no Tatuapé, zona leste de São Paulo, com três amigos de infância — Ronei Oliveira de Souza, 20 anos, Nicolas Vieira Canda, 19 anos, e Leonardo Rocha de Carvalho, 23 anos. Disseram que o carro do jovem, comprado em janeiro legalmente em seu nome e com parcelas mensais de R$ 1.280 pagas pela família, “apresentava envolvimento anterior em crimes e vinha sendo monitorado pela PM”.
Ainda de acordo com a versão dada pelos PMs da Rota no 7º DP de Guarulhos, Vitor era o motorista e fugiu ao ser abordado, dando início a uma perseguição que durou 21 quilômetros até o km 214 da Dutra. Ali, um pneu do veículo estourou e, segundo a versão policial, os três teriam descido do carro atirando contra os policiais com uma submetralhadora e uma espingarda calibre 12, sendo baleados no suposto confronto. Consta no B.O. a apreensão de três celulares com os quatro jovens.
Segundo sua namorada, Vitor trabalhava como motorista do aplicativo de transportes Uber e utilizava o aparelho celular para as corridas. No entanto, ela não sabe explicar por qual motivo ele estava com Ronei, Nicolas e Leonardo no veículo enquanto estava no horário de trabalho. Consultada pela Ponte na semana da morte, a Uber confirmou que o jovem está em sua lista de trabalhadores terceirizados, mas informou que ele não realizava corridas “há um mês”.
Geolocalização tem precisão de 8 metros
De acordo com o especialista Gregório Gomes, diretor de tecnologia da empresa Refinaria de Dados, é necessária muita expertise para burlar o sistema de geolocalização de um aparelho celular. “O GPS sempre vai acusar a localização mais precisa possível. Agora, se o usuário alterar isso, existe a possibilidade, mas não é algo de baixa complexidade, não é um aplicativo simples ou gratuito disponível na App Store [loja de aplicativos da Apple], por exemplo. É necessário algum conhecimento para executar esse tipo de tarefa”, explica à Ponte.
Gomes ainda ressalva que a precisão de um GPS “é cirúrgica”. “Dificilmente o problema está no GPS do dispositivo. Então, uma conexão estática é 99% de chance de ser realmente um geolocalização válida. Os GPS atuais, de meados de 2010 para cá, têm uma acurácia alta, colocando o dispositivo num raio de, no máximo, 8 metros da localização atual”, detalha. “Apesar de existir inúmeras formas de se burlar um GSP, tenho clara e certa a ideia de que não é um conhecimento geral”, finaliza.
![](https://ponte.org/wp-content/uploads/2019/08/mortos-rota.jpg)
Em entrevista à Ponte, a advogada Fabiane Sampaio Saab, responsável pelo acompanhamento das quatro famílias, disse que a geolocalização do celular de Vitor será usada como prova para questionar a versão apresentada pelos PMs da Rota. “O que eu posso te falar é o seguinte: eu já estou colocando um perito no caso. Um perito renomado. E a gente vai averiguar o que aconteceu”, afirmou.
Nesta quarta-feira (7/8), Saab esteve com familiares dos jovens na Corregedoria da Polícia Militar paulista em busca de detalhes da investigação feita sobre as mortes e denunciar as ameaças que eles vêm sofrendo.
Além da Corregedoria, que apura possíveis irregularidades cometidas pelos PMs, o SHPP (Setor de Homicídios e Proteção à Pessoa) da Polícia Civil investiga o caso, segundo informado pela SSP (Secretaria da Segurança Pública) de SP, comandada pelo general João Camilo Pires de Campos, do governo João Doria (PSDB). A Ponte esteve na SHPP de Guarulhos na sexta-feira (2/8) e, ali, os policiais civis disseram que “qualquer informação deve ser questionada à SSP”, sem responder aos questionamentos da reportagem.
A ação da Rota na Rodovia Dutra que terminou com a morte de Vitor, Ronei, Nicolas e Leonardo contou com participação os PMs Wallace Araújo da Silva, Felipe Freitas da Silva e Alex Pequeno Oliveira e o subtenente Dorival Ramos dos Santos, integrantes da Rota; Cristiano Mendes dos Santos, Fábio Oliveira Moutinho e Marcelo Henrique Espindola Leita, da Força Tática da Rocam (Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas); e Luiz Gustavo da Silva Barbosa, do 15º BPM.
Benedito Mariano, ouvidor da Polícia Militar de São Paulo, disse que aguarda a chegada dos laudos técnicos, de local balístico e necroscópico, para fazer um relatório sobre a atuação dos policiais militares da Rota envolvidos neste caso. O material está em fase de captação para, posteriormente, os laudos serem enviados à Ouvidoria.
A ouvidoria repete o mesmo procedimento adotado logo em seguida à terceira ação mais letal da história da polícia de São Paulo, também feita pela Rota com 11 pessoas mortas em Guararema, em 4 de abril deste ano. Até o momento, a Ouvidoria não divulgou relatório sobre a ação policial feita à época.
A Ponte entrou em contato com a SSP e a PM (Polícia Militar) de Sâo Paulo, comandada pelo coronel Marcelo Vieira Salles, para questionar sobre a geolocalização do celular de Vitor Barboza, se a pasta estava ciente de que o aparelho constava no 49º DP paulistano meia hora após o registro da ocorrência no 7º DP de Guarulhos. Às 17h, a pasta explicou que “todas as circunstâncias das mortes são apuradas pelo SHPP (Setor de Homicídios e Proteção à Pessoa) de Guarulhos. A Corregedoria da Polícia Militar também instaurou Inquérito Policial Militar, que segue em caráter sigiloso, como definido no Art. 16 do Código de Processo Penal Militar”, diz a nota.
*Nome fictício, a pedido da entrevistada, por questões de segurança
[…] a versão policial, como um áudio enviado por Ronei contando que estava sendo preso e a geolocalização do celular de um dos jovens mostrando que estava num local diferente do mencionado na versão […]
[…] policial, como um áudio enviado por Ronei contando que estava sendo preso e a geolocalização do celular de um dos jovens mostrando que estava num local diferente do mencionado na versão […]
[…] a versão policial, como um áudio enviado por Ronei contando que estava sendo preso e a geolocalização do celular de um dos jovens mostrando que estava num local diferente do mencionado na versão […]
[…] versão policial, como um áudio enviado por Ronei contando que estava sendo preso e a geolocalização do celular de um dos jovens mostrando que estava num local diferente do mencionado na versão […]
[…] policial, como um áudio enviado por Ronei contando que estava sendo preso e a geolocalização do celular de um dos jovens mostrando que estava num local diferente do mencionado na versão […]
[…] a versão policial, como um áudio enviado por Ronei contando que estava sendo preso e a geolocalização do celular de um dos jovens mostrando que estava num local diferente do mencionado na versão […]
[…] prova coletada pela família do motorista do HB20 envolvido na ação da Rota, Vitor Nascimentos Barboza Alves, 21 anos, colocou em xeque a versão dos PMs. Consulta de celular mostra a […]