Matheus dos Santos Silva, de 19 anos, foi morto pelo cabo Luis Antonio Viana dos Santos em abril do ano passado e só agora delegacia de Guarujá apresentou relatório. Familiares fizeram protesto nesta quinta-feira (24/5) pedindo justiça

Um ano após a morte do jovem negro Matheus dos Santos Silva, de 19 anos, a delegacia de Guarujá, no litoral de São Paulo, apresentou o relatório final do caso. O documento entregue nesta quarta-feira (23/4) diz que o cabo da Polícia Militar paulista (PM-SP) Luis Antonio Viana dos Santos agiu “em legítima defesa” ao balear Matheus no rosto. Em depoimento, o policial chegou a dizer que disparou porque o “local é de comunidade e há o risco de ele tomar sua arma”.
A família e amigos de Matheus fizeram um ato em frente ao Fórum de Justiça do Guarujá nesta quinta-feira (24/4) pedindo justiça. “Não foi abordagem, foi assassinato! Um ano sem respostas”, dizia um dos cartazes erguidos pelos manifestantes.
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Matheus foi morto em 18 de abril do ano passado na Vila Zilda, bairro pobre do Guarujá. A família não acredita na versão dos policiais. “A verdade é que meu filho nem abordado foi”, diz Eliane Novaes dos Santos, mãe de Matheus. A versão é corroborada pelos depoimentos de três testemunhas, segundo o próprio relatório final.
“A testemunha protegida Alpha alega que Matheus não reagiu à abordagem e acredita que o disparo ocorreu acidentalmente e de dentro da viatura, no mesmo diapasão as testemunhas protegidas Beta e Gama”, escreveu o delegado Wagner Camargo Gouveia.
Mesmo assim, os relatos não foram suficientes para o indiciamento do policial militar. O delegado baseou a possível legítima defesa no laudo pericial feito no cabo Luis Antonio — que apontava que o PM tinha escoriações e edema (inchaço) na mão direita. O laudo necroscópico apontou que o tiro que matou Matheus foi dado “ligeiramente de cima para baixo”, o que sugere que o jovem estivesse em posição abaixo da do policial.
PM atirou ‘por estar em comunidade’
O cabo Luís Antônio estava acompanhado do 3º sargento Rafael Occhiuzzi Kuramoto no dia em que Matheus foi morto. A dupla contou em depoimento à Polícia Civil que patrulhavam a região quando viram o jovem negro em uma bicicleta. Matheus teria demonstrado nervosismo ao ver a viatura e, segundo os policiais, teria um volume na cintura. No entanto, nenhuma arma ou objeto que pudesse justificar o que os PMs disseram ter visto foi apreendido na ação.
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A dupla decidiu abordar o jovem e, ainda de dentro da viatura, o cabo Luis disse que Matheus “resistiu à abordagem vindo para cima” e um rápido contato ocorreu — sem que fosse especificado o que aconteceu. “Como o local é de comunidade e há o risco de ele tomar sua arma, efetuou um disparo com sua pistola”, argumentou o PM.

O jovem negro chegou a ser levado para o Hospital Santo Amaro, em Guarujá. No boletim de ocorrência, o sargento Rafael relatou que Matheus não corria risco de morte. Cinco dias depois, coube à mãe informar na delegacia que o jovem havia morrido.
A arma de Luis Antonio chegou a ser apreendida e passou por perícia. O item foi devolvido ao policial no mês seguinte à morte. O local onde Matheus foi morto não passou por perícia sob justificativa de que não havia campo para análise e que a comunidade tumultuou a área.
Ano de angústia
Elaine viveu o primeiro ano de uma angústia e sofrimento que vão acompanhá-la o resto da vida. “Será um sofrimento eterno para mim e para muitos que realmente o amavam de verdade”, diz. A dor da perda é amplificada quando Elaine pensa na demora da resposta sobre a investigação da morte do filho. “A dor maior é a dor da injustiça, porque jamais iria lutar por algo que não fosse verdade.”
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No protesto desta quinta-feira (24/4), os familiares ficaram por cerca de duas horas em frente ao Fórum. Não houve tumulto ou qualquer repressão policial ao ato.
O que diz a SSP-SP
A Ponte procurou a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) questionando sobre a instauração de um Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar a morte. Não houve retorno até a publicação do texto. Caso haja, a matéria será atualizada.