Com locução de Rita Lee, documentário de Pedro Asbeg, em circuito nos cinemas. retrata período histórico que junta futebol, Diretas Já e rock n’ roll
Houve um momento na história do Brasil em que subiram ao mesmo palanque Lula, Fernando Henrique, Covas, Quércia, Tancredo Neves, Miguel Arraes, Ulisses Guimarães, Suplicy, Montoro, Brizola, outros políticos, artistas, personalidades e jornalistas. Chico Buarque, Gilberto Gil, Moraes Moreira, Fafá de Belém, Martinho da Vila, Osmar Santos, Juca Kfouri, Casagrande e Sócrates se juntavam para pedir Diretas Já. Naquele início dos anos 1980, estiveram no Anhangabaú, em São Paulo, mais de 1,5 milhão de pessoas, na maior manifestação pública da história brasileira. Exigiam o voto direto, o estabelecimento da democracia.
O Brasil vivia em ditadura civil militar (1964-1985) e a inflação chegava a 239%, colocando o país em profunda recessão. Paralelamente, diante do regime repressivo do presidente Figueiredo, Sócrates Brasileiro de Souza – o “doutor Sócrates” -, também conhecido como “Magrão”, iniciou no Corinthians um processo democrático que ficou conhecido como “Democracia Corintiana”: todos os que participavam do departamento de futebol do clube paulistano tinham o mesmo poder de voto, do presidente ao centroavante. Ao lado de Casagrande e Wladimir, o movimento era a expressão de jogadores que queriam vivenciar dentro do Corinthians o acesso à cidadania negada pelo contexto político. Nunca, nem antes e nem depois, jogadores de futebol tiveram tanto poder de decisão, o que se refletia em campo. No universo arcaico e paternalista do futebol, a novidade assustou militares e outros dirigentes, mas garantiu ao clube mais popular de São Paulo dois troféus no Campeonato Paulista, em 1982 e 1983.
Ao mesmo tempo, embalado pelos desejos do movimento estudantil, o rock n’ roll brasileiro participava do cenário político, com bandas como Titãs, Barão Vermelho, Legião Urbana, Ultraje a Rigor e Blitz. Eram os porta-vozes da juventude.
É sobre esse recorte da política, do futebol e do rock que o documentário Democracia em preto e branco se debruça. A pressão popular pelo fim da ditadura e pelo direito ao voto e sua intersecção com outras dimensões da sociedade são analisadas no filme 30 anos depois, por personalidades como Sócrates, Casagrande, Wladimir, Frejat, Paulo Miklos, FHC, Lula, Marcelo Rubens Paiva, Washington Olivetto, Ricardo Kotscho, entre outros. Democracia em Preto e Branco retrata uma memória fundamental sobre a história do país. Mostra, em três dimensões, a força do sonho, a derrota da vontade popular, a tristeza, a frustração e a construção que estabeleceu a democracia brasileira.
A influência daquele período torna esse documentário imprescindível para compreender o Brasil atual. Com direção de Pedro Asbeg, locução de Rita Lee e produção da TVZ, o filme traz as últimas entrevistas com Sócrates, o combativo e engajado brasileiro que lutou por um país mais justo até o final da vida. Democracia em Preto e Branco recebeu a menção honrosa do júri oficial no festival “É Tudo Verdade 2014”, foi selecionado para o Festival de Cinema Brasileiro de Paris, ganhou o Festival Cinefoot nas edições de São Paulo e Rio de Janeiro e participou do festival In-Edit, além do MARFICI, na Argentina, DocsDF, no México, Festival Internacional Del Nuevo Cine Latinoamericano, em Cuba, Festival Offside, na Espanha e Festival de Cinema Brasileiro de Toronto, no Canadá.
Em cartaz nos cinemas:
Disponível na TV a cabo.
Em breve, em grande circuito de cinema.
Ficha técnica:
Direção: Pedro Asbeg
Locução: Rita Lee