Com camiseta de Jair Bolsonaro, Guilherme Marques Filho foi filmado estapeando Jair Akson Canhête, que o denunciou por assédio no metrô do DF; “se fosse eu que tivesse assediado e reagido assim, não estaria vivo”, afirma vítima
Gritando e de arma em punho, o bombeiro Guilherme Marques Filho foi filmado por câmeras de segurança de uma loja dando dois tapas na cabeça do programador Jair Akson Reis Canhête, 25 anos, que não reage. As imagens gravadas por volta das 18h de sexta-feira (18/12) aconteceram em Taguatinga, no Distrito Federal.
À Ponte, Akson afirma que os próprios donos do estabelecimento forneceram a ele a filmagem, que foi postada nas redes sociais. Ele conta que estava na estação Praça do Relógio quando viu um homem de costas assediando uma mulher, alisando o cabelo dela. “Ela ficou paralisada e ele passou por ela olhando com um semblante de desejo horrível”, descreveu. Nesse momento, ele aponta que foi até ele questionar o que estava fazendo. “Ele se irritou e fez uma ação de sacar uma arma, os agentes do metrô viram e foram perguntar”, lembra.
De acordo com o programador, o homem se identificou como bombeiro e teria mostrado a carteira funcional. “Nessa hora eu falei para eles [seguranças]: agora é com vocês, eu vou sair para casa. Só que eu percebi que ele estava me seguindo e voltei, fiquei uns 15 minutos na estação”, afirma. Depois, ao ver que o bombeiro não estava mais no local, decidiu ir embora. No trajeto, a cerca de 50 metros da estação, Akson conta que viu Guilherme pular um muro e ir atrás dele. “Nessa hora, eu procurei um lugar para me abrigar porque um cara com uma arma em punho não está pensando em fazer o bem”, prossegue.
“Eu imaginei que ele não fosse entrar na loja, mas ele entrou. Então, eu vi que tinha uma câmera de segurança e tentei ficar na frente dela para registrar tudo o que estava acontecendo”, continua. É nesse momento que Guilherme grita nas imagens, com arma em punho, “sai para fora, vagabundo”, desfere dois tapas na cabeça de Akson, diz “agora tenta me bater, filho da puta” e sai.
Ao portal Metrópoles, que revelou o caso, o bombeiro declarou que o vídeo só teve essa repercussão porque ele aparece vestindo uma camiseta do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e negou ter cometido assédio. “Apenas dei bom dia para uma moça. Fui agredido primeiro e minha atitude contra ele não foi por acaso”, disse.
O programador afirma que a versão do bombeiro é “uma falácia”. “Eu o questionei quando ele estava de costas, não por causa da camiseta que ele estava vestindo, porque isso [assédio] vai além desse viés político que foi dado”, critica. Akson, que já foi soldado do Exército, afirma que “o fato dele ser trabalhador da segurança pública só agrava ainda mais a situação e mancha o Corpo de Bombeiros”.
Jair Akson conta que ainda tentou ir atrás da mulher para tentar identificá-la quando foi fazer o boletim de ocorrência pelas agressões que sofreu. “Quando eu voltei ao metrô, vi que não registraram nada, que pelo fato dele ter dado uma carteirada de ser bombeiro, ficou por isso mesmo”, critica.
De acordo com ele, a atitude de intervir em uma situação de assédio é por ver que os casos não são levados a sério. “É algo que me causa muita repulsa mesmo, minha irmã já foi apalpada no metrô e não deu em nada, esses casos só viram estatística”, pontua. “Acredito que se tivesse sido eu que tivesse assediado a moça, reagido desse jeito e os seguranças tivessem visto, não sei se eu teria saído vivo. Existe um racismo no Brasil que é velado, eu poderia ter sido mais um negro que virou estatística”, desabafa.
Ele registrou o caso no 12º DP de Taguatinga, como violência física e agressão moral. À Ponte, Jair Akson disse que teve de se mudar temporariamente para casa de familiares por receio de receber ameaças. “Um amigo descobriu que o bombeiro mora próximo à minha residência. Ontem eu ia à lotérica e ele me avisou de que esse bombeiro iria até lá não sei como”, declarou.
Outro lado
A Ponte procurou o bombeiro via redes sociais e pela assessoria do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal, mas não teve resposta. Ao Metrópoles, a corporação informou que Guilherme é 1º sargento, atua no setor administrativo, e que um inquérito será aberto para apurar o caso.
A reportagem procurou a assessoria de imprensa do Metrô, que enviou nota informando que vai abrir “sindicância para averiguar os fatos ocorridos dentro da estação”.
A assessoria de imprensa da Polícia Civil também foi questionada a respeito da investigação, mas não tivemos retorno até a publicação.
[…] A assessoria de imprensa da Polícia Civil também foi questionada a respeito da investigação, mas não tivemos retorno até a publicação. Com informações da PonteJornalismo […]