Ela tinha quatro filhos quando foi presa pela primeira vez e viu sua família se desintegrar
Para suportar as contrações do parto, Andresa Augusto Ruiz, hoje com 44 anos, apertava com força a mão de dona Jéssica, um apoio que foi buscar onde não poderia. “Dona Jéssica, eu posso apertar sua mão? Eu não tenho ninguém de minha família aqui”, pediu Andresa, com sua voz de menina. A senhora aquiesceu. “Mas eu também pedi para ela não contar para as meninas lá dentro que eu peguei na mão da funcionária, porque elas podiam me ver com outros olhos”, lembra. Dona Jéssica é agente penitenciária e existe uma regra informal no sistema carcerário que proíbe a presos e presas o contato físico com carcereiros ou quaisquer outros funcionários de unidades prisionais.
Laura nasceu de parto normal no Hospital Geral de Vila Penteado, na zona norte da cidade de São Paulo, sob a fiscalização de duas agentes, em 17 de julho de 2017, seis meses depois de Andresa ter sido presa por tráfico de drogas. Era sua sexta filha. Atualmente, no Estado de São Paulo, segundo dados da Coordenação de Reintegração Social da Secretaria de Administração Penitenciária, 76% das mulheres apenadas foram condenadas por crimes relacionados ao tráfico de entorpecentes.
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“O processo de criminalização feminina demanda uma análise de uma seletividade muito específica, que envolve violência familiar, violência doméstica, gravidez na adolescência e uma das piores chagas ainda vividas na nossa sociedade que é o racismo”, afirma Soraia da Rosa Mendes, doutora em direito pela Universidade de Brasília, advogada da área de direitos humanos e autora do livro Criminologia Feminista: novos paradigmas (Saraiva JUR, 2017).
A história de Andresa abre a série Depois das Grades, com oito capítulos semanais, sobre o que acontece nas vidas de pessoas que passaram pelos cárceres brasileiros.