O pagamento oferecido pelo PCC para levar drogas numa única viagem à Europa era o valor da casinha na Ilha de Itamaracá (PE) com que Bruna sonhava. Detida antes de embarcar, conheceu no cárcere o preconceito dos presos com a população LBGT+
Bruna Simo (pronuncia-se Saimo) teve que pegar duas banquetas emprestadas com uma vizinha para podermos fazer a entrevista. Aos 40 anos, ela vive numa casa impecavelmente organizada, que divide com uma amiga, em São Miguel Paulista, zona leste da cidade de São Paulo. O imóvel não tem mesa, nem cadeiras, apenas o essencial. No quarto, um pequeno guarda-roupas e cômoda, uma cama e um colchão no chão, onde Bruna dorme, porque sente muito calor; banheiro e cozinha com armário, um fogão e uma geladeira, ambos doados. O único luxo é uma mala grande que repousa perto da janela, revelando seu espírito nômade. “Para que ter uma casa linda, cheia de móveis e não ser feliz? Eu sou feliz.” Diante do que passou, ela poderia concluir o raciocínio com um “apesar de tudo”.
Seu sonho é ter uma casa própria, pode ser até do tamanho da que vive hoje mesmo, desde que fique livre de pagar aluguel. Pelo imóvel, ela e a amiga desembolsam R$ 650 por mês, o que consome cerca de 30% de sua renda. Foi almejando comprar uma casinha que ela viveu o pior pesadelo de sua vida. Caiu na tentação de receber R$ 40 mil, preço pelo qual o imóvel estava sendo vendido. No lugar do sonho, acabou presa por tráfico internacional de drogas. Foram dois anos de detenção antes de progredir para o regime aberto, que cumpriu até agosto de 2019.
Loira, esguia, com 1,79 m, é travesti desde os 18 anos, quando contou para a família. Percebeu que “era diferente” aos 14. “Eu já tinha aquele jeito afeminado e desde criança minha mãe, minha avó, sempre notavam. Eu vestia roupas delas e elas riam de mim”, lembra.
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