Andreia de Jesus (PSOL-MG) foi acossada por PM reformado e policial penal durante visita como presidente da Comissão dos Direitos Humanos; ‘estão tentando impedir a minha atividade parlamentar’
Na manhã desta segunda-feira (7/3), a deputada estadual Andréia de Jesus (PSOL-MG) foi às suas redes sociais apontar que sofreu ataques e intimidações de dois homens durante uma viagem que fez às comunidades quilombolas de Croatá, Gameleira e Sangradouro, localizadas em Januária, norte de Minas, onde há conflitos por terra. Em vídeos publicados no Instagram, um dos homens que trabalha nas propriedades da região questiona a presença da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, presidida por Andréia, e se dirige à deputada, repetindo aos gritos: “Você não cumpre ordem judicial? Deixa de ser ridícula”.
No entanto, a ordem de reintegração de posse do território foi suspensa por uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) na última sexta-feira (4/3). Ainda na filmagem, a deputada pede respeito por ser uma parlamentar e diz que está sendo alvo de racismo e machismo por parte do rapaz.
A Polícia Militar de Minas Gerais foi acionada por conta da abordagem. Com a chegada dos policiais, que tiveram a ação também gravada, os dois homens se identificaram como policial militar reformado e o outro como policial penal. Logo depois, a deputada prestou depoimento no 30º Batalhão da PM de Minas Gerais, em Januária, e seguiu para uma delegacia para registrar boletim de ocorrência por desacato.
Em entrevista à Ponte, Andréia relata que foi até a comunidade para acompanhar a situação dos moradores e celebrar a decisão do STF. A disputa judicial que envolve os três territórios ficou ainda mais pressionada quando as famílias quilombolas tiveram que se deslocar para as partes mais altas da área durante as cheias do Rio São Francisco. De acordo com uma reportagem da Repórter Brasil, o empresário Walter Santana Arantes, sócio de três redes de supermercados mineiras, é quem disputa as terras com as comunidades.
“Há uma série de homens que ficam aterrorizando essas famílias dentro dessa área. E, quando nós chegamos, fomos abordados por dois deles que queriam saber o que a gente estava querendo fazer, que hora voltaríamos, quem nós éramos, embora estivéssemos com o carro oficial da Assembleia”, conta.
De acordo com a deputada, a Comisssão recebeu denúncias de que homens armados estavam intimidando as famílias de Croatá e região. “Eu pedi para que eles se identificassem, e eles se recusaram. E aí começaram os xingamentos, eles altearam a voz e começaram a deslegitimar minha atuação ali. Ambos estavam armados e não sabemos se estas armas são do Estado ou são particulares, mas eles estão ali atendendo a interesses privados em detrimento de interesses públicos, que é o papel do agente de segurança pública”, critica.
A deputada diz que não irá se intimidar com o episódio e deve cobrar a proteção dos quilombolas que deixaram suas plantações e a criação de gado por conta das enchentes. “Sigo cumprindo com meu dever legal, acompanhando principalmente as comunidades tradicionais e esse conflito fundiário no estado de Minas Gerais, que determina a atuação das instituições, e precisar ser denunciado cada vez mais”.
Em nota divulgada nas redes sociais, o PSOL de Minas Gerais repudiou os ataques à deputada: “As medidas legais serão tomadas, mas não são suficientes. Precisamos nos organizar em redes de solidariedade para a proteção de mulheres, negres, lgbtqia+, comunidades tradicionais e populações periféricas, que sofrem os ataques mais truculentos”.
Ameaças virtuais
Em novembro do ano passado, Andréia de Jesus também enfrentou uma onde de ataques virtuais depois de ter se solidarizado com as famílias das 26 vítimas de uma ação policial que aconteceu em Varginha (MG) e cobrou rigidez nas investigações. Ela denunciou perfis que a ameaçaram com frases como “Seu fim será como o de Marielle Franco”, em referência ao caso da vereadora carioca assassinada em 2018.
Para Andréia, a reincidência dos ataques mostra a importância de estar com escolta policial nos últimos quatro meses em atividades parlamentares. “No mês da Mulher, mais uma vez as mulheres que ocupam um espaço de poder e o espaço político sendo ameaçadas pela própria institucionalidade que não reconhecem o nosso trabalho, muito pelo contrário, te colocam numa situação muito vulnerável. Hoje continuo sendo alvo de um Estado que não reconhece as mulheres e ataca os negros de forma extremamente violenta. Estão tentando impedir a minha atividade parlamentar”, conclui.
Outro lado
A reportagem procurou as assessorias da Polícia Militar e da Polícia Civil de Minas Gerais para saber quais procedimentos serão adotados para garantir a segurança da deputada e dos moradores das comunidades quilombolas e se haverá investigação.
Em nota a PM diz que foi registrado boletim de ocorrência sobre o caso, conforme pedido da deputada, e que “sempre que há ameaça real comprovada à integridade de dignitários, a Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) pode, mediante acionamento da órgão competente, realizar a escolta individual. Com relação ao policiamento, a PMMG ressalta que realiza atividade ostensiva na região, podendo ser acionada sempre que houver necessidade”.
A Polícia Civil informou que não encontrou registros sobre uma possível apuração do caso e disse que “a Polícia Militar tem autonomia para registrar, dar andamento e concluir estes procedimentos e encaminhá-los à Justiça”.
ATUALIZAÇÃO: matéria atualizada no dia 8/3 às 14h20 para acrescentar o posicionamento da Polícia Civil de Minas Gerais.