Desespero e corpos carregados: Polícia Civil faz chacina em Manguinhos (RJ)

Imagens que circulam em redes sociais mostram agentes da Core carregando corpos em lençóis e em uma picape após operação em comunidade nesta terça-feira (12); Prefeitura do Rio confirmou 5 mortos, já polícia informou 6

Moradores registraram corpos sendo carregados por agentes da Core em operação na comunidade de Manguinhos nesta terça-feira (12) | Fotos: reprodução/redes sociais

Corpos ensanguentados pela rua, cobertos com lençol por moradores desesperados. Outros carregados com panos e dois ainda jogados na caçamba de uma picape por agentes da Coordenadoria de Operações e Recursos Especiais (Core), da Polícia Civil do Rio de Janeiro. Registros em vídeo que circulam pelas redes sociais da operação na comunidade de Manguinhos, na zona norte da capital fluminense, nesta terça-feira (12/7) pintam uma cenário de terror.

Diferentes veículos de imprensa divulgaram que ao menos seis pessoas foram mortas. À Ponte, a assessoria da Secretaria Municipal de Saúde confirmou que cinco vítimas baleadas deram entrada na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Manguinhos e morreram. Não responderam se elas foram levadas por resgate ou pelos próprios policiais, nem se ainda estavam ou não com vida quando chegaram à unidade.

Ao site Voz das Comunidades, a educadora social Graciara Silva, que se identificou como mãe de um dos mortos, denunciou que ainda teriam mais quatro vítimas da ação policial. “Acordamos hoje de manhã, operação aérea, por baixando andando tudo e o que aconteceu? Extermínio, morte e violência. O meu filho hoje não está mais nessa terra: um jovem de 25 anos que deixa três meninas. Eu falo como muitas outras mães que estão nessa mesma situação, em que a criminalização da pobreza nos deixa vulnerável sobre qualquer fonte de recurso para que a gente possa lutar”, declarou com lágrimas nos olhos.

Pelo Twitter, a Polícia Civil informou que a Core foi dar apoio a uma equipe do Esquadrão Antibombas, que teria sido atacada na Avenida Dom Helder Câmara, na região de Manguinhos, e que apreenderam “pistolas, carregadores, rádios comunicadores, aparelhos de telefone celular e grande quantidade de drogas”.

O G1 informou que dois homens foram presos em flagrante por tráfico de drogas: Carlos Alberto de Carvalho Cesário, conhecido como “Neguinho”, de 23 anos, que também teria mandado de prisão aberto por roubo; e Vitor Marques de Oliveira, 30. Pelo Twitter, o governador Claudio Castro (PL), que também é pré-candidato ao pleito de 2022, não fez referência aos mortos nem às imagens de corpos carregados por agentes. Disse que houve confronto, dois traficantes foram presos e “criminosos alvejados foram socorridos para unidades de saúde próximas”. “Não vamos tolerar ataques como esse contra quem defende a população do nosso estado!”, escreveu.

O que diz a polícia

A Ponte procurou a assessoria da Polícia Civil, que informou que a Core prestou apoio à equipe de Esquadrão Antibomba e que foi atacada. Diferentemente da Prefeitura, disse que “seis criminosos morreram em confronto” e que “dois se entregaram e foram presos em flagrante”. “Na ocasião, houve farta apreensão de material da facção de tráfico de drogas que atua na localidade. Entre os itens apreendidos estão: seis pistolas, granada, diversos carregadores, munições, rádios comunicadores, roupas camufladas e grande quantidade de drogas”, disse em nota. A secretaria informou que a investigação está sendo conduzida pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) e não comentou sobre as imagens mencionadas pela reportagem.

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Já a Polícia Militar informou que não participou da operação e que equipes do 22º BPM (Bonsucesso) e das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) da região estão reforçando o policiamento nas imediações da comunidade do Manguinhos e nas principais vias do entorno, como as Avenidas Leopoldo Bulhões e dos Democráticos. “Os policiais estão retirando obstáculos do perímetro urbano e garantindo a circulação do trânsito”, informou em nota.

O que diz o Ministério Público

A reportagem também questionou a assessoria do Ministério Público Estadual sobre a operação da Polícia Civil. Por e-mail, o órgão enviou a seguinte nota:

O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), por meio da Coordenadoria-Geral de Segurança Pública (COGESP/MPRJ), informa que a ação policial, de acordo com as informações prestadas pela Polícia Civil, foi decorrente de ataque de criminosos a equipe de policiais que passava nas proximidades da comunidade de Manguinhos. Nessas circunstâncias, todos os fatos serão posteriormente investigados pelo promotor natural de forma independente e isenta, incluindo o desfazimento de locais onde tenham ocorrido eventuais crimes.

Reportagem atualizada às 18h32, de 12/7/2022, para incluir resposta da Polícia Civil.

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