Segundo registro, escrivão do 99º DP, na zona sul de São Paulo, deu conta do sumiço dos revólveres e pistolas ao verificar cofre de sua sala
Um registro da Polícia Civil de São Paulo oficializou o sumiço de dez armas de dentro de uma delegacia na capital paulista. O caso aconteceu no 99º DP (Campo Grande), na zona sul da cidade.
Em boletim de ocorrência, o escrivão-chefe da unidade, localizada na Rua Sargento Manoel Barbosa da Silva, descreveu ter notado a ausência das armas no fim da tarde do dia 14 de setembro.
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Segundo ele, decidiu fazer a checagem do material por volta de 17h30. Foi ao cofre de sua sua sala e deu conta da falta de dez armas: 3 pistolas e 7 revólveres.
Todas as armas estavam ligadas a procedimentos registrados naquela delegacia e faziam parte de investigações.
Curiosamente, a chave do cofre estava dentro de uma gaveta trancada na mesa do escrivão. Junto de cada uma delas havia um laudo que comprovava o delito a que elas estão ligadas.
Além das armas, também sumiu da sala um livro em que os policiais civis anotavam fisicamente cada apreensão de armas de fogo. O documento do 99º DP não detalha se havia outra maneira de tabelar os itens apreendidos.
Há alguns problemas expostos pelo desaparecimento das dez armas, como analisa Natália Pollachi, gerente de projetos do Instituto Sou da Paz. A especialista lista três: registros precários, custódia das armas e retorno à criminalidade. Segundo ela, questões antigas a serem superadas.
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Uma solução simples para o primeiro dela seria a criação de um sistema online para controle dos armamentos. “Infelizmente ainda é bastante comum no Brasil, não é só de SP, termos registros precários”, diz.
Outro ponto envolve o poder Judiciário. Até 2017, as armas ligadas a crimes ficaram guardadas nos fóruns, mas, depois de dois grandes roubos, a Justiça decidiu mantê-las nas delegacias.
“Num geral, essa custodia se dá por tempo maior do que o necessário. Nada justifica guardas essas armas por muito anos”, afirma, citando que os juízes têm cinco dias para definir o que fazer com as armas depois das perícias, mas o tempo não é respeitado.
Por fim, Natália cita o problema imediato ao furto: a volta das armas para a ilegalidade. Estudos apontam que 40% das armas apreendidas com criminosos têm o mercado legal como origem.
“É um dano duplo quando a arma volta a circular: são desvios ruins por voltar ao crime e desperdiça todo o trabalho policial”, analisa.
Para além disso, ela problematiza o próprio acesso à informações. Os estudos Se baseiam em dados do sistema da Polícia Federal, mas há outra base de dados, do Exército, sem informações públicas.
“Não temos dados de CACs (registros de armas de Colecionadores, Atiradores e Caçadores) e policiais”, cita, sobre a fragilidade das informações disponíveis.
A Ponte questionou a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo sobre o sumiço das armas do 99º DP. Segundo a pasta, a investigação está em “sob sigilo determinado pela Justiça”. A própria unidade é responsável pela apuração.
“Um suspeito foi preso e uma arma recuperada. A Corregedoria da Polícia Civil foi notificada sobre os fatos”, explica a secretaria, sem detalhar se o suspeito é ou não policial e qual arma teria sido apreendida de novo.
Atualização às 11h12 do dia 24 de setembro de 2020 para incluir posicionamento da SSP.
[…] Por Arthur Stabile, da Ponte […]
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