Correspondências estavam escritas em códigos e foram apreendidas com duas mulheres, que acabaram presas pelas evidências de que colaboram com a facção criminosa
Em carta apreendida com duas mulheres na saída da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau neste sábado (8/12), cúpula do PCC (Primeiro Comando da Capital) dá aval para o assassinato do promotor Lincoln Gakiya, que investiga há anos a facção, e, segundo as investigações, do coordenador da unidade prisional Roberto Medina. A polícia investiga se o bilhete teria sido escrito por Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, apontado pelo MP como líder do PCC (Primeiro Comando da Capital).
O motivo é a possível transferência dele e outros integrantes da cúpula da facção para um presídio federal, pedido feito pelo MPE (Ministério Público Estadual) depois que um plano de resgate foi descoberto. Na ocasião, a Justiça de SP chegou a mandar fechar o aeroporto da cidade.
Maria Eliane de Oliveira e Alessandra Cristina Vieira tinham ido visitar Marcola e o companheiro de cela Maurinho e foram presas pela Rota com as seguintes correspondências: uma impressa enviada por integrantes da facção que estão nas ruas para a cúpula do PCC informando sobre as possibilidades de colocar o plano de vingança em prática, uma escrita a mão dando aval para a execução e um bilhete de contabilidade da movimentação de drogas da facção.
Na carta 1, endereçada ao comando da facção, os criminosos usam a expressão “frango”, em alusão ao abate de animais, para indicar os decretados. “Tá na mão tudo os endereços que ele vai tá mapeado. Dá pra fazer ele a hora que quiser. Já tem o carro, os horários tudo dele”. De acordo com apuração da equipe do MP que decodificou a carta, a pessoa citada é Roberto Medina, coordenador da penitenciária. Em outro trecho do bilhete, eles falam da necessidade de dar o salve do “frango japonês” se referindo ao promotor Lincoln Gakiya. “É um pouco mais complicado, mas dá pra fazer também a hora que quiser. O que tá pegando é que a cidade dele é bem maior que W [referência a Presidente Venceslau]”.
Na correspondência que a polícia investiga se foi escrita por Marcola, há o pedido expresso do cumprimento do plano. “Essa missão é de extrema [importância], pois se o amigo aqui for para a federal, essa situação tem que ser colocada no chão de qualquer forma”, indica trecho da carta. No final, o líder também ressalta desconfiar da existência de traidores na facção, uma vez que a “carona”, termo usado para o plano de fuga, não deu certo.
No boletim de ocorrência, o delegado Adalberto Gonini Junior pediu a prisão preventiva das duas mulheres pelas evidências de que atuem em colaboração com o PCC (artigo 2 da lei 12850/13). “Com absoluta certeza são integrantes do crime organizado e com esta colaboração de signatárias de informações em códigos, promovem ou ajudam a promover as barbáries que estamos acompanhando todos os dias”, escreve Gonini.
No bilhete, a indicação do faturamento no comércio de drogas por pavilhão, a distribuição de valores a serem pagos para a facção e o que fica para os operadores, além dos responsáveis por cada setor.
Marcola quer evitar a todo o custo a transferência para uma unidade federal, porque isso poderia impactar os negócios da facção bem como toda a articulação de rede. Em reportagem da Ponte sobre a extradição de Marcelo Piloto, integrante do CV (Comando Vermelho) e a ida dele para o presídio de Catanduvas, a socióloga Camila Nunes Dias, pesquisadora do Núcleo de Estudos da Violência da USP (NEV-USP) e uma das principais estudiosas do crime organizado no Brasil, explicou que o controle da unidade federal é maior. “O sistema federal é totalmente diferente dos estaduais. É um sistema que, de fato, não da pra dizer que impede a continuidade das atividades, mas ele é bastante limitador. Tem escutas, todo o contato com visitas e mesmo com advogados é monitorado, controlado. E, nesse sentido, a manutenção dele [Marcelo Piloto] no presídio federal certamente terá um impacto maior para a continuidade dos negócios”, explicou.