Intitulado ‘Bolsomito 2k18’, jogo torna o presidenciável protagonista de uma ‘luta contra os males do comunismo’ cuja missão final é eliminar uma ‘ditadura ideológica’
“Derrote os males do comunismo nesse game politicamente incorreto, e seja o herói que vai livrar uma nação da miséria”. Esta é descrição do jogo “Bolsomito 2k18”, em que o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) é protagonista, aparece espancando e matando feministas e sem-teto, os “inimigos” do jogador.
A dinâmica do jogo é encarnar o candidato de extrema direita e resolve os problemas do Brasil literalmente na base da porrada. “Esteja preparado para enfrentar os mais diferentes tipos de inimigos que pretendem instaurar uma ditadura ideológica criminosa no país. Muita porrada e boas risadas”, continua a descrição do jogo, criação brasileira na plataforma de distribuição Steam.
Nas artes e nos trailers disponibilizados à comunidade gamer (como são chamados dos jogadores), é possível observar que os inimigos no jogo são variados: vão desde militantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), feministas, integrantes da comunidade LGBTQI+, black blocs, políticos de esquerda, entre outros.
A Ponte entrou em contato com o BS Studios, responsável pela criação do jogo “Bolsomito 2k18”, que afirmou não querer dar entrevistas sobre o conteúdo do jogo. Questionado sobre as acusações de que a obra seria extremista, machista e racista, o responsável pela página respondeu apenas “frentista, taxista”. Essa mesma argumentação é costumeiramente usada por apoiadores de Bolsonaro para desmerecer quaisquer acusações de extremismo do candidato.
Na página do jogo na Steam, as análises têm sido positivas, mas quase sempre contém mais apoio político ao candidato Bolsonaro do que análise técnica da jogabilidade e de outros aspectos do jogo em si.
Uma desenvolvedora de jogos brasileira, que não quis se identificar, disse para a reportagem que ela e parte da comunidade haviam denunciado o jogo previamente. A profissional admitiu, porém, que o público no país costuma ser mais extremista do que os próprios profissionais da área. “Jogar online, por exemplo, é sempre difícil. Eu nunca falo nada por voz porque, quando o faço, começam a me perturbar”, explica.
O cientista político Bruno Lima Rocha explica a conexão entre a vida real e a virtual que pode ser vista neste caso. “A gamificação das relações sociais e a vida intermediada por redes digitais, na prática, cria quase uma outra cosmologia política. E, caracterizando Bolsonaro como um ator político violento, operando a partir de agentes coletivos violentos, reproduz muito das práticas cotidianas do pior de nosso país, assim como de uma propaganda que perigosamente flerta com o imaginário nazi-fascista”, sustenta o professor de Relações Internacionais da Unisinos (Universidade do Vale do Rio dos Sinos), do Rio Grande do Sul.
O professor argumenta a possibilidade de os desenvolvedores serem indiciados criminalmente pela propagação de violência e disseminar conteúdo de ódio. “Todo este conjunto de mensagens é bastante perigoso, em todos os sentidos, e poderia ser criminalizado. Surge uma necessidade urgente de legislar em relação ao ódio anti-societário e as mensagens de sociopatia”, diz.