Em missa de 7º dia, pai de jovem negro morto pela PM lamenta: ‘Tiraram a vida de um trabalhador’

    Uma testemunha da abordagem afirma que foi impedida por policiais de socorrer Rogério Ferreira, morto com tiro nas costas na zona sul de SP

    Pai de Rogério, Edinaldo mostra cartaz em frente a grafite em homenagem ao filho | Foto: Arthur Stabile/Ponte Jornalismo

    Comoção e homenagens tomaram conta da rua Ophelia Liviero Rivitti, no Parque Bristol, zona sul de São Paulo, na tarde deste domingo (16/8). Ali ocorreu a missa de sétimo dia de Rogério Ferreira da Silva Júnior, morto pela PM com um tiro nas costas no dia 9 de agosto.

    O ato religioso contou com a participação de familiares, amigos, vizinhos, ativistas e políticos. A Rede de Proteção e Resistência ao Genocídio colaborou na organização da manifestação.

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    Ativista da Rede, Marcelo Dias puxou os trabalhos, denunciando a recorrente violência policial na região. “Estamos pagando para eles acabarem com as nossas vidas”, declarou o educador social que, no passado, foi vítima do Estado, preso por tráfico de drogas injustamente. Sem demora, deu espaço para a família.

    Roseane da Silva Ribeiro, mãe do jovem negro morto no dia em que completou 19 anos, agradeceu a presença dos amigos. “Eu sabia que meu filho era amado. Vendo hoje e no dia seguinte, eu sei que ele tinha um coração de ouro. Onde ele estiver está vendo e está muito feliz”, declarou, emocionada.

    Instantes depois, dona Roseane ouviria o relato de uma testemunha da morte de seu filho. Rogério dirigia uma moto sem capacete quando dois PMs, Guilherme Tadeu Figueiredo Giacomelli e Renan Conceição Fernandes Branco, começaram a persegui-lo.

    Segundo os policiais, Rogério teria levado a mão à cintura, o que eles entenderam como um sinal de que o jovem sacaria uma arma. Em resposta, Giacomelli deu um único tiro, acertando Rogério nas costas. Ele caiu cerca de 50 metros após ser atingido.

    Pai de Rogério, Erivaldo Silva dos Santos, 38 anos, explica que nenhum representante do governo procurou a família depois do crime.
    No dia seguinte à morte, o secretário da Segurança Pública de SP, general João Camilo Pires de Campos, declarou que “tudo indicava” que a moto ocupada por Rogério era roubada, mesmo o veículo sendo de um amigo do rapaz.

    “Nunca que meu filho ia fazer uma coisa dessa. Trabalhava comigo, jamais ia pegar uma moto roubada”, diz, considerando “doer muito” uma fala incriminatória depois da morte.

    Rogério trabalhava junto de Erivaldo como ajudante de empilhadeira. Além disso, ainda tinha um salão de cabeleireiro. “Eu tenho vontade de olhar nos olhos dele [PM] e perguntar que sensação é essa, que trabalho faz de tirar a vida de um jovem trabalhador”, desabafa.

    Apesar de uma semana depois não ter tido nenhum suporte do Estado, Erivaldo diz confiar em responsabilização dos policiais. “Para ser sincero, tenho que acreditar. Tenho que ter fé que Justiça será feita e que esse cara pague, tirou a vida de um cara que tinha toda a vida pela frente”, afirma.

    Cerca de 200 pessoas acompanharam o ato religioso | Foto: Arthur Stabile/Ponte Jornalismo

    A mulher que testemunhou a queda de Rogério afirmou que foi impedida de socorrê-lo. “Eu fiz o que eu pude, coloquei minha cara. Nós tentamos tirar ele dali e levar para o hospital, mas os policiais não deixavam”, declarou, prometendo denunciar o que viu à Justiça.

    A missa foi marcada por diversas falas de religiosos, como a leitura do livro de Isaías, capítulo 51, a reza do Pai Nosso e a reprodução de um louvor do cantor gospel Régis Danese.

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    Rogério era conhecido pelos amigos como RP100 pelo modelo da moto que usava: Pop 100 | Foto: Arthur Stabile/Ponte Jornalismo

    O protesto permaneceu durante toda a tarde na rua Ophelia Liviero Rivitti. Ainda assim, a PM sitiou o Parque Bristol: bloquearam parte da avenida Padre Arlindo Vieira, impedindo a passagem de carros.

    A tropa rondava de forma ostensiva as ruas da região com integrantes do 46º Batalhão da PM (onde os policiais responsáveis pela ação que matou Rogério trabalham) e da Força Tática.

    Não havia circulação de ônibus no entorno do protesto. Ao menos três pontos finais foram deslocados, deixando a população sem transporte público. Parte dos veículos fez ponto final no Jardim Zoológico, distante 4 km da área do protesto.

    A ação teve como motivo a queima de dois veículos no protesto feito na segunda-feira (10/8) seguinte à morte de Rogério, logo após protesto. Policiais agrediram manifestantes durante a dispersão.

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    No fim do ato, família, amigos e vizinhos lançaram balões branco ao ar em sinal de paz.

    A Ponte questionou a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo sobre a denúncia de que os PMs impediram o socorro de Rogério e a ação ostensiva no bairro neste domingo e aguarda resposta.

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