Em protesto por justiça, jornalistas usarão tapa-olho

    Profissionais reunidos no Sindicato dos Jornalistas decidiram lançar campanha contra decisão da Justiça que considerou Alex Silveira culpado por levar tiro no olho
    Jornalistas e militantes protestam contra decisão da Justiça. Foto: Rubens Cavallari

    Jornalistas, advogados e militantes de direitos humanos decidiram ontem iniciar uma série de ações em protesto contra a decisão dos desembargadores Vicente de Abreu Amadei e Sérgio Godoy Rodrigues de Aguiar e do juiz Maurício Fiorito, do Tribunal de Justiça de São Paulo, que consideraram o fotógrafo Alex Silveira culpado por ter sido atingido no olho esquerdo por uma bala de borracha da Polícia Militar, em 2000.

    Uma das ações prevê que jornalistas e repórteres fotográficos adotarão um tapa-olho de pirata como símbolo contra as agressões da PM – que, além de Alex, também atingiram profissionais como Sérgio Silva, cegado no olho esquerdo por uma bala de borracha em 13 de junho do ano passado, ou Giuliana Vallone, atingida no mesmo dia e que só escapou de ficar cega porque estava de óculos quando foi baleada. A ideia é que todos os profissionais de mídia usem o tapa-olho em dias combinados, nas redações, nas ruas e nas redes sociais, como forma de chamar a atenção para a cegueira da Justiça.

    “Essa luta é de todos nós”, afirma Alex.

    A decisão foi tomada num encontro organizado pelo Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo e pela Associação dos Repórteres Fotográficos e Cinematógraficos do Estado de São Paulo (Arfoc-SP), com a participação de diversos coletivos e entidades como Conectas, Artigo 19, Advogados Ativistas, Associação Brasileira de Imprensa, Foto Protesto, FotoRua e Minha São Paulo.

    Na mesma reunião, ficou acertado que advogados do Sindicato dos Jornalistas e dos Advogados Ativistas vão oferecer apoio a Alex para buscar reverter a decisão. A advogada do fotógrafo, Virginia Veridiana Barbosa Garcia, afirmou na semana passada que pretende recorrer da decisão, se necessário levando o caso ao Supremo Tribunal Federal.

    Sérgio Silva lê carta enviada por Alex Silva. Foto: Caio Palazzo
    Sérgio Silva lê carta enviada por Alex Silveira. Foto: Caio Palazzo

    O próprio Alex não pode estar presente ao encontro. Numa mensagem enviada ao grupo, contou que estava ocupado com um “frilinha” e que não podia abrir mão de nenhuma oportunidade de trabalho, porque as ofertas se tornaram bem mais escassas depois que o tiro o fez perder 80% da visão no olho esquerdo.

    Para sindicalista, a decisão do Tribunal de Justiça “lembra os piores anos da ditadura”

    Alex enviou uma carta, que foi lida por Sérgio Silva, vítima da mesma violência. “…no fim das contas entendi com tudo isso que essa decisão tem uma clara intenção de ‘colocarmos em nosso lugar’. Acredito que essa causa é maior que todos nós. Perdemos a nossa individualidade e nos tornamos um só Repórter, essa luta agora é de todos nós”, dizia o texto.

    No auditório que leva o nome do jornalista Vladimir Herzog, torturado e morto pela ditadura em 1975, e diante de um quadro de Elifas Andreato, que retrata a morte e a tortura do repórter, o presidente do Sindicato dos Jornalistas, José Augusto de Camargo, disse que o acórdão do Tribunal de Justiça “lembra os piores anos da ditadura militar”. “É uma decisão que está a serviço do que existe de mais retrógrado na política brasileira, que é a proteção à violência praticada pelos agentes do Estado”, afirmou.

    Encontro reuniu jornalistas, repórteres fotográficos e ativistas. Foto: Caio Palazzo
    Encontro reuniu jornalistas, repórteres fotográficos e ativistas. Foto: Caio Palazzo

    A decisão

    Assinado em 28 de agosto, o acórdão do Tribunal de Justiça afirma que Alex se colocou em risco ao fotografar um confronto entre a Polícia Militar e um grupo de professores que reivindicava melhores salários, na avenida Paulista, em 18 de julho de 2000.

    “Permanecendo no local do tumulto, dele não se retirando ao tempo em que o conflito tomou proporções agressivas e de risco à integridade física, mantendo-se, então, no meio dele, nada obstante seu único escopo de reportagem fotográfica, o autor [refere-se ao repórter-fotográfico] colocou-se em quadro no qual se pode afirmar ser dele a culpa exclusiva do lamentável episódio do qual foi vítima”, afirma o acórdão, assinado pelo relator Vicente de Abreu Amadei.  Leia a íntegra aqui.

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    marco almeida
    marco almeida
    9 anos atrás

    Protestar contra a decisão da justiça a favor da PM é fácil. Quero ver protestar contra a censura aos jornalistas mineiros e aos usuários do twitter imposto pelo Aécio Neves

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