Manifestação compõe mobilização mundial contra o genocídio promovido por Israel sobre a população palestina
Um chamado para um segundo Dia de Ação Global por Gaza levou dezenas de pessoas na capital paulista a se manifestarem em um ato de solidariedade à luta do povo palestino. A mobilização aconteceu neste sábado (17/02), na Praça Palestina, localizada no Paraíso, bairro da zona sul de São Paulo.
A concentração começou por volta das 11h e reuniu integrantes da comunidade árabe que vivem no Brasil, partidos políticos, sindicatos e movimentos sociais.
Durante o ato, os manifestantes entoaram falas de solidariedade à Palestina como: “A Palestina é minha amiga, mexeu com ela, mexeu comigo” e “Palestina livre contra sionistas”. Eles também denunciaram a situação atual do conflito em um megafone. No Brasil, outros atos foram convocados em Recife, Porto Alegre e Fortaleza.
A mobilização ocorre no momento em que Israel ameaça invadir Rafah,no sul de Gaza, faz fronteira com o Egito e concentra cerca de 1,5 milhão de habitantes de Gaza deslocados pelo conflito, de acordo com informações da ONU (Organização das Nações Unidas). A possível ofensiva se dá em meio às mortes de pelo menos 28.576 palestinos, desde 7 de outubro de 2023. Os ataques ainda deixaram mais de 68 mil palestinos feridos até o momento.
Mohamad El Kadri, 61 anos, um dos organizadores do ato e integrante do Fórum Latino Palestina, destaca a importânica do chamado global de apoio à Palestina. “Esse mesmo ato está sendo feito em várias capitais do mundo e esse chamado global vem justamente em um momento muito difícil pro povo palestino que é a provável invasão, que ultrapassa qualquer limite de humanidade”, disse.
De acordo com a ONU, nos últimos dias, ataques aéreos na região aumentaram os temores sobre a potencial invasão. As investidas também se deram dentro do complexo hospitalar de Nasser, em Khan Younis, maior unidade de saúde que segue funcionando na região.
Diante disso, El Kadri chamou a atenção também para a necessidade de pressionar os governos para que eles sejam firmes na posição contra o que acontece em Gaza. “Nós vamos continuar nas ruas, tudo que é feito aqui no Brasil a gente manda para Gaza. Os palestinos de Gaza veem e se sentem apoiados e mais fortes para continuar a luta.”
“O que ocorre na Palestina acontece no Brasil em escala menor. A luta dos palestinos é também a nossa luta”, comparou o jornalista, sociólogo e membro da Comissão de Justiça e Paz de SP, Carlos Eduardo, 74 anos.
Segundo ele, a Polícia Militar faz no Brasil o que o exército de Israel faz com os palestinos, numa proporção menor. “É a mesma coisa, assassinatos, torturas, mortes de crianças e mulheres, é o que acontece no Brasil, nas senzalas atuais que são as periferias, com a população indígena, quilombola e ribeirinha”.
Aos 57 anos, a advogada trabalhista e civilista Jamile Abdel Latif denunciou o genocídio da população palestina que ocorre há mais de 75 anos. “Israel foi construído em cima do nosso país, eles vieram fugindo da Europa, mas não como refugiados, vieram para nos fazer refugiados, para nos expulsar numa posição racista e supremacista. A máquina da limpeza étnica de Israel foi ligada há mais de 75 anos e, até hoje, não desligou. Gaza é mais uma etapa desta limpeza étnica.”
A advogada também criticou o apoio das indústrias bélicas e dos Estados Unidos a Israel. “É o país que tem mais condenações da ONU, mesmo com o apoio dos Estados Unidos, Israel não está nem aí para o direito internacional e continua a sua violência apoiado nas indústrias bélicas e nos bancos. Vamos resistir porque amamos a vida”.
Segundo Latif, a luta dos palestinos é por direitos iguais. “Nós não queremos que ninguém morra, não queremos expulsar ninguém de lugar nenhum. Queremos viver em paz como cidadãos, ou como vizinhos, mas com os mesmos direitos, nada a menos, nada a mais.”
Durante a manifestação, Aiuni Ogawa, 20 anos, integrante da frente Estudantes em Solidariedade ao povo Palestino da Universidade de São Paulo (USP), homenageou o Professor de Literatura Inglesa na Universidade Islâmica de Gaza, Refaat Alareer, assassinado em Gaza durante um bombardeio em dezembro do ano passado.
Alareer, que também era poeta, foi responsável pelo projeto “We are not numbers” (“Nós não somos números”) cujo objetivo, segundo Ogawa, era humanizar as vítimas do conflito auxiliando a tradução de escritos árabes de Gaza para o inglês.
“Ele foi um dos grandes responsáveis por educar jovens palestinos no inglês, se hoje nós temos jornalistas de Gaza contando para a gente o que acontece na guerra de uma forma mais acessível, um dos grande responsáveis foi o Refaat. Ele buscava trazer de volta a humanidade para os palestinos, são pessoas com nomes, com profissões, com famílias. Ele foi um dos grandes responsáveis por devolver a voz para a juventude palestina vivendo sob cerco.”
O ato permaneceu das 11h às 14h no local e acabou com a limpeza das placas da Praça Estado da Palestina. Ao final, os manifestantes voltaram a entoar gritos exigindo “Palestina livre”.
Colaboração: Daniel Arroyo.