Inicialmente, moradores disseram que gravação teria sido em 1/12, quando nove pessoas morreram, mas PM afirma que foi em 19 de outubro
Em um vídeo filmado na favela de Paraisópolis, zona sul da cidade de São Paulo, um policial militar aparece armado com um pedaço de pau agredindo indiscriminadamente todas pessoas que passam por uma viela, na saída de um baile funk. Em alguns momentos, ele ri. Nem um jovem de muletas é poupado.
Segundo um morador da favela, as imagens foram feitas na madrugada de domingo (1º/12), quando nove pessoas foram mortas, possivelmente pisoteadas, durante uma operação policial.
O morador, que prefere não se identificar, afirma que o local das imagens é a Rua Manoel Antonio Pinto, uma travessa da Ernest Renan, que corta a comunidade e onde acontece o Baile da DZ7. A gravação aconteceu durante a dispersão do Baile do Bega, bem ao lado da tabacaria UFC Bar Hookah. A Ponte, que esteve no local, também confrontou as imagens do vídeo e do endereço citado.
O local das imagens fica perto de uma das saídas da Viela Três Corações, berço do Baile da DZ7, onde há muitos anos funcionava um boteco de mesmo nome e que a música era o forró. “Com o tempo foi mudando até virar um ponto de baile funk que ficou muito conhecido”, conta.
No outro vídeo, é possível ouvir alguns estouros e barulho de vidro estilhaçando e ver, na sequência, uma multidão saindo de uma porta estreita, como se estivesse fugindo de alguma coisa. “Essa cena do pessoal correndo é comum. A polícia chega armada e o que as pessoas que estão no baile vão fazer? Correr, claro, para tentar se proteger, tentar um abrigo”, afirma.
O local onde foram feitas as imagens dos vídeos é paralelo à avenida Rudolf Lutze, onde os PMs afirmam que iniciaram a suposta perseguição aos suspeitos que estariam em uma moto atirando.
“Precisa se apurar se de fato as imagens são do dia da ação policial que resultou nas 9 mortes. As imagens demonstram a violência policial e até um jovem com deficiência foi agredido. Os policiais se divertem com as agressões e o sofrimento das vítimas”, aponta Ariel de Castro Alves, advogado e conselheiro do Condepe (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana).
A Ponte procurou a SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública de SP) para comentar os vídeos. Em nota, a PM informa que “o policial que aparece no vídeo foi identificado e afastado do policiamento” e que a “instituição instaurou inquérito. As imagens foram gravadas em Paraisópolis, no dia 19/10, não tendo relação com o ocorrido no último fim de semana”. O policial quando é afastado segue recebendo salário, só fica fora das ruas.
Em seu Twitter, o governador João Doria escreveu o seguinte: “Ao tomar conhecimento do vídeo, exigi punição exemplar ao agressor, já afastado de suas funções. Práticas como essa não condizem com o procedimento da Polícia de SP e serão veementemente condenadas”.
Reportagem atualizada às 16h11 do dia 3/12 com inclusão de nota da Polícia Militar do Estado de SP
Reportagem atualizada Às 17h53 do dia 3/12 para correção de um dos endereços: os dois vídeos foram gravados na Rua Manoel Antonio Pinto, travessa da Ernest Renan