CBC é fabricante das cápsulas 9mm encontradas na cena do crime e comercializadas com a PF em 2006; empresa não informou a quantidade da remessa para o Comando
Uma semana após o assassinato da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, no dia 14 de março, o Comando da intervenção do Rio de Janeiro recebeu doação de arma e munição feitas pelas empresas Forjas Taurus e CBC (Companhia Brasileira de Cartuchos). Esta última é fabricante das cápsulas calibre 9mm encontradas na cena do crime contra a parlamentar.
Uma cerimônia na tarde desta terça-feira (20/3), no Forte de Copacabana, marcou a entrega de 100 fuzis e quantidade não informada de balas – de acordo com informações do jornal O Dia, seriam 100 mil balas calibre 5.56, usada justamente no armamento doado. A doação tem valor aproximado de R$ 1,5 milhão, conforme fala do coronel Roberto Itamar, assessor do CML (Comando Militar do Leste).
O interventor na segurança pública fluminense, general Walter Braga Souza Netto, recebeu a doação diretamente do presidente da CBC, Fábio Luiz Munhoz Mazzaro, e do presidente da Taurus, Salesio Nuhs. Após a solenidade, o general optou por não fazer declarações à imprensa.
“As duas empresas são empresas estratégicas de defesa. Nós fazemos parte dessa questão de arsenal nacional, de suprimento das Forças Armadas brasileiras e sentimos que a nossa obrigação é colaborar com a intervenção no Rio de Janeiro também”, justificou Nuhs, sobre a doação.
Segundo informações divulgadas pela assessoria de comunicação do gabinete de Intervenção Federal, as balas e fuzis serão entregues à Secretaria de Estado de Segurança e à Secretaria de Estado de Administração Penitenciária, sem detalhar qual o uso específico.
A CBC é única empresa que fabrica munições para uso de civis no Brasil. Fundada pela família Matarazzo, tinha como função encerrar a importação para membros da família realizarem a caça esportiva, segundo o site da CBC. Em 2014, a empresa de munições comprou a Forjas Taurus, que fabrica armamentos, e é envolvida em casos de pistolas que disparam sozinhas. PMs já foram alvos destes defeitos, causando a exclusão da Taurus da mais recente licitação feita pelo Governo de São Paulo e vencido pela americana Glock.
Desvio de munição sem explicações
O lote das balas encontradas na cena do assassinato de Marielle tinha como destino a Polícia Federal, que as comprou em 2006. Porém, houve desvio de parte das munições, usadas também em outros homicídios e tentativas, como a maior chacina da história de São Paulo. Em agosto de 2015, 23 pessoas morreram em ataques a tiros em Osasco, Barueri, Carapicuíba e Itapevi, quando também foram localizadas cápsulas do lote UZZ-18, com destinação à PF.
Até o momento, não há informações sobre qual o momento aconteceram os desvios. Questionada sobre o assunto, a Polícia Federal se limitou a citar investigações internas sobre o assunto, mas nenhuma conclusão.
Já a CBC, após solicitação da Ponte, afirmou que não poderia se pronunciar sobre o assunto publicamente. “A Aniam (Associação Nacional das Indústrias de Arma e Munição), em nome da sua associada – Companhia Brasileira de Cartuchos Empresa Estratégica de Defesa, esclarece que informações sobre controle e rastreamento de munições no País só podem ser fornecidas ao Exército Brasileiro ou a órgão policial interessado, através de ofício. Qualquer demanda a respeito deverá ser encaminhada a estes órgãos”, disse a nota.