PCC planejou jogar comida fora e deixar presídios sujos para espalhar denúncias

    Estratégias constam de carta que deu origem à Operação Ethos; 35 pessoas foram presas

    Carta apreendida em penitenciária de Presidente Venceslau que deu origem à Operação Ethos - Foto: Reprodução
    Carta apreendida em penitenciária de Presidente Venceslau que deu origem à Operação Ethos – Foto: Reprodução

    “Se a cumbuca de bóia vem cheia, é para jogar um pouco fora e mostrar que é pouco”, diz um trecho da carta interceptada na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau que deu origem à Operação Ethos. O texto é assinado pela “Sintonia Final”, a cúpula do PCC.

    As investigações da Operação Ethos levaram às prisões de 35 pessoas, entre elas Luiz Carlos dos Santos, vice-presidente do Condepe (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana), órgão de controle do Estado ligado à Secretaria da Justiça.

    No texto, classificado pelo PCC como um “Salve Geral” (comunicado a todos os integrantes da facção), os líderes do grupo indicam como os integrantes do grupo criminoso devem agir para simular más condições nos presídios, que supostamente seriam denunciados por Luiz Carlos. “Hoje o objetivo principal é divulgar as opressões nas faculdades [penitenciárias, na gíria do PCC] de todo sistema e a ideia seria minar o governo e a SAP [Secretaria de Estado da Administração Penitenciária]”, diz a carta.

    Após ordenar que os presos desperdicem parte de sua alimentação para indicar que passam fome e filmem as quentinhas, o texto manda “deixar lixo no pavilhão para mostrar que o local não tem condições para permanecer presos”. O “Salve Geral” ainda alerta: “tem que ser bem orquestrado”.

    A carta revela também a intenção da facção alugar um telão para divulgar as imagens feitas no interior dos presídios. “Não será economizado modos para essa situação, tudo o que for necessário de dinheiro pode ser usado sem miséria”, diz o texto. Aparentemente, a estratégia não foi levada a cabo.

    Há duas semanas, a Operação Ethos prendeu advogados suspeitos de ligação com o PCC. A carta que deu origem à investigação foi apreendida em 11 de maio de 2015 durante revista de rotina. Após a ação da Polícia Civil e do Ministério Público ser deflagrada, Luiz Carlos confirmou ter recebido mesada do PCC para auxiliar o grupo. Detido, ele revelou ter sido ameaçado de morte por integrantes da facção.

    No último dia 29, o Condepe destituiu Luiz Carlos da condição de titular do conselho. A decisão foi publicada nesta semana no Diário Oficial do Estado.

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