Entidade denuncia doença que deixa pele de presos em carne viva em Roraima

    Doença atinge ao menos 24 presos, que estão em tratamento em hospital e relatam sentir “serem comidos vivos”

    Presos tem relatado inchado nas pernas, alguns sem conseguir andar por conta da bactéria | Foto: Arquivo pessoal

    A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de Roraima denuncia uma doença que tem corroído a pele de presos na PAMC (Penitenciária Agrícola de Monte Cristo), em Boa Vista, capital do estado. Pelo menos 24 presos estão em tratamento hospitalar por terem pegado a doença. Uma das suspeitas é a ingestão de água com gosto ruim e cheiro desagradável há cerca de um mês.

    Os relatos são de feridas profundas nas mãos e pés dos atingidos, alguns deles não conseguindo andar por conta das dores. Há situações mais graves, de pessoas com parte do corpo em carne viva. Todos os doentes estão no Hospital Geral de Roraima e parte deles têm deformações no corpo.

    “A situação deles é grave porque alguns desses reeducandos não estavam andando, apresentando deformidade nas mãos e pes, inchaço nas pernas e coceira pelo corpo”, descreve à Ponte Hélio Abozaglo, presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RR, e que denunciou o caso em primeira mão ao Blog do Expedito Peronnico.

    Abozaglo visitou o hospital para verificar a situação. Ele conta que 14 dos presos estão nos corredores do hospital, enquanto dez são medicados na enfermaria. O representante da OAB conta que ainda não se identificou qual é a bactéria que os atacou, nem qual a causa da contaminação.

    Há casos de deformações nas mãos e pés | Foto: Arquivo pessoal

    “Os presos nos relataram que estavam se sentindo mal há mais ou menos um mês depois que tomaram uma água da unidade, que estaria com mal gosto e cheiro desagradável. Daí começaram a se sentir mal, possivelmente”, explica o advogado.

    O núcleo local de direitos humanos da OAB cobrará explicações do governo local na terça-feira (21/1), pois é feriado de São Sebastião. Um relatório do caso será enviado à Secretaria da Saúde, da Sejuc (Secretaria de Estado da Justiça e Cidadania), ao governo do estado e a órgãos internacionais, como a CIDH (Comissão Interamericana de Direitos Humanos).

    Em seu perfil na rede social Twitter, a CIDH sinalizou já estar à par da situação. “A CIDH insta o Estado do Brasil a garantir urgentemente o acesso a tratamento de saúde especializado às pessoas afetadas pela bactéria e a tomar medidas para solucionar os problemas estruturais da Penitenciária que facilitam a propagação de doenças”, publicou a Comissão.

    De acordo com o presidente da comissão de Direitos Humanos da OAB, o sistema penitenciário de Roraima apresenta de forma recorrente problemas na saúde, como falta de médicos e medicamento, mas a situação se agravou com a superlotação da PAMC.

    “A capacidade é de 480 internos e se tem 2.250. Está assim porque foi tirado pessoal da cadeia pública e jogado nessa unidade. Aumentou estrondosamente o número porque só tem um bloco dessa unidade funcionando, o outro está em construção”, detalha Helio Abozaglo.

    Situações mais severas geram grandes feridas que podem chegar até ferimentos com exposição da carne da pessoa doente | Foto: Arquivo pessoal

    Segundo o advogado, já havia um surto de coceiras no presídio desde outubro do ano passado e que perdura até hoje. “Não chegou a tanto como agora. É possível que tenha aumentado, juntado uma coisa com a outra. Este é bem pior porque a situação que vimos… Um deles tinha problema no pé, relatou que sentia alguma coisa corroendo a pele dele”, afirma.

    A Ponte questionou a Sejuc sobre a doença que atingiu os presos, se há uma causa constatada, exatamente quantos foram os infectados e o que está sendo feito com os presos que continuam no PAMC e aguarda um posicionamento oficial da pasta.

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