Comitê de crise vai apurar denúncias de violência policial em Paraisópolis

Relatos de invasão de casas, abordagens agressivas e racistas por parte de PMs na comunidade da zona sul da capital paulista motivaram criação do comitê, instituído nesta quinta (4) na sede da Ouvidoria das Polícias de SP

Reunião da criação do comitê de crise de Paraisópolis | Foto: Jeniffer Mendonça / Ponte Jornalismo

Entidades de direitos humanos, parlamentares e a Ouvidoria das Polícias anunciaram, nesta quinta-feira (4/7), a criação de um comitê de crise para apurar denúncias de violência policial na comunidade de Paraisópolis, na zona sul da cidade de São Paulo.

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Invasão de casas, abordagens agressivas e racistas por parte de policiais militares e toque de recolher são alguns dos relatos de moradores recebidos pela Ouvidoria. “Essas denúncias têm a mesma similaridade do que vimos na Operação Escudo e na Operação Verão: lugares pobres, com pouca atuação de políticas públicas, sem direito de ir e vir. Essas operações [em Paraisópolis] tem incidido na atuação de órgãos públicos. Unidades de saúde, escolas e creches têm sofrido paralisações”, declarou o ouvidor Cláudio Silva.

Liderança de Paraisópolis, Janilton Oliveira denunciou que a comunidade está amedrontada. “Se você vai numa delegacia questionar isso, você tem que provar, você não é ouvido”, afirma. “Gostaria de questionar o secretário por que essas operações estão acontecendo”.

Segundo Janilton, o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) também foi procurado por moradores sobre a situação. “Pediram para a gente fazer uma linha do tempo com as denúncias para eles conseguirem apurar”, disse. O órgão não faz parte do comitê que foi criado.

O presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe) Adilson Sousa Santiago disse que esteve na última terça-feira (2/7) na comunidade. “Vimos que a comunidade está sendo sufocada. Comerciantes que são obrigados a fechar seus comércios quando acontecem essas operações senão [a polícia] diz que tem pagar R$ 7 mil de multa”, disse.

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Santiago afirmou que será recebido pela Procuradoria Geral de Justiça, do MP-SP, no próximo dia 10 de julho para também tratar sobre o caso.

Na carta de criação do comitê, as entidades lembraram que a área do 16º Batalhão de Polícia Militar Metropolitano (BPM/M) é que tem maior índice de mortes pela polícia na capital paulista, de 2013 a 2023, conforme levantamento produzido pelo Centro de Antropologia e Arqueologia Forense da Universidade Federal de São Paulo (Caaf/Unifesp). O grupo exige que “a atuação das forças policiais seja pautada pelo profissionalismo e pelo respeito aos limites legais e aos direitos humanos” e que as violações denunciadas sejam devidamente apuradas.

O Comitê “Paraisópolis Exige Respeito” fará uma visita na favela no próximo sábado (6/7), das 10h às 12h. O intuito é ouvir moradores e produzir um dossiê que será entregue ao Comando Geral da Polícia Militar no dia 19 de julho.

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Particpam do comitê a Associação Ação Gueto, Associação de Mulheres de Paraisópolis, Associação Paraisópolis Futebol e Resenha, Associação Pró Paraíso, Centro de Direitos Humanos e Educação Popular (CDHEP), Clube do Bem, Conectas, Condepe, CUFA Paraisópolis, Fórum Brasileiro de Segurança Pública, G10 Favelas, Instituto Belezinha Brasil, Instituto Cultural Juliana D’Agostini, Instituto Sou da Paz, Instituto Vladimir Herzog, Legado Galáxia, Rede de Proteção e Resistência Contra o Genocídio, Comissão de Direitos Humanos do Sindicato dos Advogados do Estado de São Paulo, Ouvidoria das Polícias, União dos Moradores e do Comércio de Paraisópolis, além dos deputados estaduais Beth Sahão (PT), Ediane Maria (PSOL), Paula da Bancada Feminista (PSOL), Thaianara Faria (PT), Antonio Donato (PT), Eduardo Suplicy (PT), Orlando Silva (PCdoB) e Paulo Fiorilo (PT).

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