Especializados em clonar carros oficiais podem ter relação com roubo de ouro em SP

    Bando que roubou 720 kg de ouro no Aeroporto de Guarulhos, nesta quinta-feira (25/7), tem forma de agir semelhante a quarteto preso em 2017; Polícia Civil investiga possível ligação

    Ronaldo, Fabio, Renê e Felisbelo: presos em 2017 | Foto: reprodução

    A Polícia Civil de São Paulo investiga se o bando responsável pelo roubo de 720 kg de ouro do terminal de cargas do Aeroporto Internacional de Guarulhos, na última quinta-feira (25/7), tem relação com quatro homens presos em 2017, acusados de clonar veículos da Polícia Federal e Receita Federal.

    Os clonadores dos veículos foram flagrados em 21 de novembro de 2017 por policiais militares do 44º Batalhão em um galpão na avenida Sargento da Aeronáutica Plínio F. Gonçalves, Jardim Cumbica, em Guarulhos.

    No imóvel foram apreendidos 19 cartuchos de emulsão (explosivos usados em pedreira), dois fuzis, pistola calibre 40, munição, coletes à prova de bala e uniformes da Polícia Federal, além de um Ford Focus com logotipo da PF e um Nissan Frontier com adesivo da Receita Federal.

    Veículos da Receita Federal falsos | Foto: reprodução

    Foram presos Renê Pires Vieira, Fábio Cabral Gallera, Felisbelo Azevedo de Oliveira e Ronaldo da Costa Santos. Este último era o único que não tinha antecedentes criminais.

    Um dos integrantes da quadrilha, não identificado até hoje, usou uma CNH (Carteira Nacional de Habilitação) falsificada para alugar o galpão industrial junto a uma imobiliária da cidade da Grande São Paulo.

    O documento falsificado apresentava o nome de J.N.R.B, mas a foto era de outra pessoa. A vítima soube que o seu CPF (Cadastro de Pessoas Físicas) havia sido consultado pela imobiliária.

    Ela então entrou em contato com a imobiliária para saber o motivo da consulta e foi informada que alguém havia alugado o galpão em seu nome. Por conta disso, a vítima procurou imediatamente a Polícia Militar.

    Os PMs do 44º Batalhão foram checar a informação e no galpão  encontraram as armas, os explosivos e os veículos clonados. Fábio e Felisbelo acabaram detidos em uma casa ao lado. Renê e Ronaldo tentaram fugir. Eles roubaram um Fiat Uno de uma mulher, mas não foram muito longe. Também foram presos pelos policiais militares.

    Felisbelo confessou ter clonado os veículos. Disse que fora contratado por “um tal de José” para fazer o serviço. O Nissan Frontier foi roubado em maio de 2017, numa loja de veículos em São Miguel Paulista, zona leste de São Paulo.

    O Ford Focus com logotipo falso da Polícia Federal também foi objeto de roubo. A clonagem do carro é idêntica a dos veículos usados no assalto cinematográfico no setor de cargas do aeroporto de Guarulhos.

    Veículo roubado com logo falso da Polícia Federal | Foto: reprodução

    No roubo espetacular dos 720 kg de ouro, avaliados em R$ 123 milhões, ao menos oito ladrões, todos ainda foragidos, usaram duas caminhonetes clonadas da PF, abandonadas minutos depois em um terreno no Jardim Pantanal, zona leste da capital paulista.

    Os assaltantes demoraram três minutos para concretizar um dos maiores assaltos da história do Brasil. Os criminosos não dispararam um tiro e conseguiram entrar no terminal de cargas porque sequestraram, no dia anterior, o supervisor de segurança do setor e a família dele.

    A quadrilha presa em 2017 e os ladrões dos 720 kg de ouro agiram de maneiras semelhantes. Utilizaram galpões, clonaram veículos, portavam fuzis e coletes e uniformes em nome da Polícia Federal.

    Armas e munições usadas pelo quarteto em 2017, que seguiu mesmo modus operandi do roubo de 720 kg de ouro | Foto: reprodução

    Os PMs responsáveis pelas prisões de Renê, Ronaldo, Fábio e Felisbelo disseram em depoimentos à Polícia Federal que a intenção da quadrilha era realizar um grande roubo no Aeroporto Internacional de Guarulhos.

    A Polícia Federal apurou que Fábio já havia sido preso em outubro de 2010,  junto com Bertoldo Carneiro da Silva, na zona norte, durante uma falsa blitz policial.

    Ambos usaram camisas da Polícia Civil para render quatro funcionários de uma empresa de transporte de valores que faziam manutenção no caixa eletrônico num posto de gasolina na Freguesia do Ó. Felisbelo foi processado por porte ilegal de arma e roubo e, Renê, por furto.

    O juiz Luciano de Moura Cruz, da 3ª Vara Criminal de Guarulhos condenou, em 17 de outubro do ano passado, Renê a 20 anos e cinco meses; Ronaldo a 15 anos e 11 meses; Felisbelo a 13 anos e sete meses e Fábio a 12 anos e dois meses. Todos em regime fechado.

    Renê foi transferido para a Penitenciária 1 de Mirandópolis; Fábio para a Penitenciária 2 de Mirandópolis; Felisbelo para a Penitenciária de Valparaíso e Ronaldo para a Penitenciária 2 de Lavínia.

    Esses quatro presídios ficam na região oeste do estado e, segundo o Ministério Público Estadual, abrigam apenas integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital)

    Em 11 de dezembro do ano passado, Felisbelo, o clonador de carros da Polícia Federal, morreu na Santa Casa de Misericórdia de Valparaíso, vítima de tamponamento cardíaco e dissecação da aorta.

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