Servidores municipais se reuniram em frente à Câmara de São Paulo contra reforma da previdência proposta pelo prefeito João Doria (PSDB); mais de 15 pessoas ficaram feridas
Centenas de professores foram à Câmara dos Vereadores de São Paulo protestar contra um projeto de lei do executivo que altera a previdência dos servidores municipais. O tema estava sendo discutido na Comissão de Constituição e Justiça da Casa e manifestantes queriam participar da sessão e ocuparam o plenário. GCMs (Guarda Civil Metropolitana) e PMs reprimiram os participantes do ato com balas de borracha e bombas de gás, dentro e fora do prédio. Desde o início de março, os professores estão em greve em mais de 90% das 1.550 escolas municipais. Das unidades de ensino, 46% aderiram à paralisação totalmente, 47% funcionam parcialmente e apenas 7% funcionam normalmente, de acordo com balanço fornecido pela própria Secretaria Municipal de Educação.
Desde terça-feira (13/3), professores estavam acampados em frente ao Palácio Anchieta com o intuito de barra o PL. Nesta quarta-feira, os debates na CCJ aconteceriam e havia possibilidade de uma sessão extraordinária acontecer ainda hoje para votação. Depois de negociar, manifestantes conseguiram entrar, um a um, dentro do prédio, mas um tumulto fez com que a GCM fechasse as portas. O grupo que ficou do lado de fora forçou a porta e chegou a quebrar o vidro.
Do lado de dentro da Câmara, nove vereadores da Comissão discutiam os termos no projeto normalmente até uma garrafa d’água ser lançada em direção aos parlamentares. Neste instante, a GCM fez um cordão de proteção e passou a agredir os manifestantes que questionavam as falas. Uma professora chegou a quebrar o nariz ao, segundo relatos, ser agredida com um dos escudos da GCM.
Uma professora saiu do plenário com o rosto sangrando e foi socorrida por um bombeiro. A repressão continuou até os servidores serem retirados da Câmara e, do lado de fora, foram reprimidos pela Tropa de Choque da Polícia Militar, que lançou bombas de gás e disparou tiros de bala de borracha em direção ao ato. Ao menos 20 pessoas foram atingidas, com relatos de uma criança também ferida, assim como a sua mãe, atingida na perna.
“Eu recebi quatro tiros. Os dois primeiros foram da GCM, um dos caras veio na minha direção e atirou no meu peito. Fui tirar satisfação, alegar que estava apenas conversando com eles e recebi o segundo. Depois, já na rua, levei mais dois da PM. Como estava longe, a marca não ficou tão feia”, relatou Cadu, de 40 anos, 18 deles como professor na rede municipal e, paralelamente, na rede estadual de ensino.
Enquanto cenas de violência aconteciam no lado de fora, os vereadores seguiam debatendo a proposta no plenário. A PL nº 621/2016, chamada de SampaPrev, é um projeto articulado ainda na gestão do ex-prefeito Fernando Haddad (PT), porém, após João Dória assumir o cargo, os 16 artigos aumentaram para cerca de 80, segundo relato dos professores. A principal mudança é aumentar a alíquota de contribuição, hoje em 11%, para 14%, o que representa mais impostos para o servidor municipal.
Uma audiência pública acontecerá às 15h desta quinta-feira (15/3). Porém, os professores marcaram para duas horas antes a concentração dos manifestantes para novo protesto contra o projeto. “Temos que trazer 80 mil, 100 mil pessoas para que uma violência como essa não aconteça de novo”, discursou um dos servidores no caminhão de som, recado dado pra cerca de mil pessoas ainda presentes na Câmara no fim do dia.
O secretário municipal da educação, Alexandre Schneider, se manifestou no Facebook dele: “Lamentável a forma com que os professores foram tratados hoje na Câmara Municipal. É inaceitável que se cometam excessos dessa natureza. Estamos em uma democracia. E ela pressupõe o livre direito de manifestação”. A fala do secretário contraria, em partes, a posição oficial do prefeito João Doria.
Durante o Fórum Econômico Mundial para a América Latina, realizado em hotel na zona sul da capital paulista, o prefeito ponderou que houve excesso das duas partes “de quem invadiu e da GCM também”. O tucano disse que nenhuma invasão se justifica. “Vamos começar falando que você invadir o legislativo não é exatamente um ato que mereça ser aplaudido. Você pode participar, dialogar e debater. Invadir, não. Invasão, não há justificativa”, declarou.
Outro lado
A Ponte procurou a GCM e a Polícia Militar, por e-mail, e questionou tanto a ação quanto o número oficial de feridos, mas, até o momento, não obteve resposta.
Confira outras imagens:
[…] “A minha trajetória política começou com o meu nascimento”, conta Carolina Iara de Oliveira, 28 anos. Travesti, intersexo, servidora pública da saúde e ativista em direitos sociais e humanos, Carolina concorre a uma vaga na Câmara Municipal de São Paulo. […]
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