Estudante preso após reconhecimento por foto é libertado pela Justiça

    Winícius Molina da Gama Silva, 21 anos, foi solto e vai responder pelo roubo em liberdade; jovem foi preso por PM de batalhão denunciado pela Ponte

    Winícius abraçando a família na saída do CDP da Vila Prudente, na zona leste da cidade de SP | Foto: Reprodução/Twitter

    O estudante Winícius Molina da Gama Silva, 21 anos, ficou preso 89 dias por um crime que afirma não ter cometido. Quase três meses depois, na manhã desta terça-feira (14/7), após a Justiça conceder liberdade provisória na última segunda-feira (13/7), ele pode abraçar os pais. Agora, a luta é pela absolvição do jovem.

    Morador do Jaçanã, na zona norte da cidade de SP, o estudante universitário, que cursa Tecnologia da Informação, foi preso na manhã de 16 de abril no supermercado Extra da Vila Guilherme, também na zona norte, onde trabalha como operador de caixa.

    Winícius foi preso por um roubo de carga ocorrido em 14 de junho de 2018. O processo corre em segredo de Justiça, por isso a reportagem não teve acesso ao conteúdo completo dos autos.

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    No reconhecimento a que tivemos acesso, a vítima afirma que a pessoa que a roubou era negra e tinha uma verruga na testa, características que diferem de Winícius, que é branco e não possui qualquer verruga ou outra marca na pele. Segundo a defesa do jovem, os PMs estavam com uma foto do Winícius, salva a partir do do perfil do Facebook dele, e essa foto foi apresentada à vítima.

    Em entrevista à Ponte, o advogado Vlademir Bezerra disse que a defesa teve muita dificuldade no caso por conta da pandemia do coronavírus. “Os pedidos que fizemos judicialmente demoraram para ser respondidos”, relatou.

    Após duas negativas, uma da juíza e outra do Tribunal de Justiça de São Paulo, o pedido de liberdade provisória foi concedida na manhã desta terça-feira (14/7). O advogado avalia que a repercussão da ida da Corregedoria da PM no 5º Batalhão da PM metropolitano, em 25 de junho, fez com que a família de Winícius fosse depor sobre as irregularidades do caso. Na avaliação do defensor, a cobertura da mídia foi fundamental para a decisão de liberar o jovem.

    “Nós juntamos [no processo] a matéria da Ponte, que falava que os policiais estavam sendo investigados no Batalhão, porque, na matéria, mostra que um dos policiais investigados, a cabo Renata, que efetuou a prisão do Winícius, alegando que tinha uma arma no carro, levou ele para a delegacia onde a vítima reconheceu ele”, aponta.

    Em janeiro, a Ponte denunciou com exclusividade que policiais do batalhão estavam sendo investigados pela Corregedoria.

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    “Vimos que haviam muitas disparidades no caso. Então, fiz um pedido de reconsideração para a juíza do caso, informando a denúncia e que muitos veículos tinham procurado a gente. Mesmo assim, ela manteve a prisão preventiva”, continua.

    Com as negativas, explica Bezerra, a defesa entrou com mais dois pedidos de habeas corpus: um no Superior Tribunal de Justiça e um no Tribunal de Justiça de São Paulo, em parceria com o advogado Augusto de Arruda Botelho, um dos fundadores do IDDD (Instituto de Defesa do Direito de Defesa), apontando que algumas provas essenciais para o processo tinha sido indeferidas pela juíza.

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    “O HC do STJ ainda não foi julgado, mas o TJ reconheceu que se tratava de uma prisão irregular e que o Winícius poderia responder em liberdade, aplicando algumas medidas cautelares”, explica o advogado.

    A partir de agora, a luta, afirma Bezerra, é pela absolvição de Winícius. “A gente que cuida de casos só criminais percebe quando a pessoa tem potencial para o cometimento do crime, de um crime como o que o Winícius estava sendo acusado. Só de conversar com ele dá para notar que ele não tem essa personalidade, não é o perfil dele”, finaliza.

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